O presidente cubano, Raúl Castro, disse na madrugada de hoje (17), na Venezuela, que está pronto para conversar com seu homólogo norte-americano, Barack Obama, sobre todos os assuntos bilaterais de interesse comum, sem qualquer tipo de restrições.
A proposta é uma resposta direta às declarações de Obama, na quarta-feira, em Washington, e ontem, na Cidade do México, de que os Estados Unidos não querem que Cuba “implore” por um diálogo e que seu país espera “gestos” de Havana para restabelecer o diálogo.
“Enviamos um recado ao governo dos Estados Unidos, tanto particular como público, de que estamos dispostos a conversar tudo, seja sobre direitos humanos, liberdade de imprensa, presos políticos… tudo”, afirmou o presidente cubano, ao encerrar a cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), em Cumaná, Venezuela.
Trata-se da linguagem diplomática cubana mais conciliatória desde a administração do ex-presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower, que cortou relações com a ilha em 1961, considerou a Associated Press.
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Mudança
Na quarta-feira, Obama declarou à cadeia de televisão CNN en Español que não esperava que Havana “implorasse” por um dialogo bilateral. Ontem, ao chegar à capital mexicana, acrescentou que tinha consciência que uma resposta cubana poderia “demorar algum tempo”.
“Não esperamos uma mudança da noite para o dia, mas virá”, disse o presidente norte-americano. Obama, inclusive, admitiu que “50 anos de divergências não desaparecem de um dia para o outro”.
Esta semana, o líder cubano Fidel Castro, emitiu uma série de comentários, nos quais deu a entender que a liberalização das viagens dos cubano-americanos à ilha, decretada por Obama, era “um pequeno gesto”, mas queixou-se que o fim do embargo econômico não foi incluído na decisão.
Esta madrugada, Raúl sublinhou que suas únicas condições para o diálogo estão dadas, apenas, pelo “respeito mútuo e o direito do povo cubano a sua auto-determinação”.
Em coletiva de imprensa na Cidade do México, Obama acrescentou que “as relações entre os dois países partem do princípio de respeitar as tradições de cada país”.
Raúl chegou a Cumaná com certo ceticismo em relação a Obama, evidenciado em seu editorial, publicado em vários jornais da região, incluindo o Brasil, onde abordou a situação dos direitos humanos na ilha.
É possível que a resposta de Obama no México tenha acelerado os acontecimentos e o diálogo bilateral.
“Presos políticos”
O presidente cubano não se referiu explicitamente às declarações de Obama, nem chegou a prometer qualquer tipo de gesto, mas sublinhou que “estamos dispostos a nos sentar, como sempre deveríamos ter feito. Agora, claro, eles vão começar a levantar a questão da democracia, liberdade e dos presos”.
Raúl aproveitou a oportunidade para recordar o caso dos cinco cidadãos cubanos presos nos Estados Unidos, condenados por espionagem. “Se eles querem a libertação dos presos políticos, que incluem alguns terroristas confessos, devem libertar os nossos presos, e nós lhes enviaremos [os presos políticos em Cuba] com suas famílias e toda a gente que eles queiram”.
A referencia de Raúl à existência de presos políticos na ilha é uma rara admissão na linguagem política cubana, que sempre considerou os opositores ao regime detidos como presos comuns.
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