“Pouco se salva na política externa brasileira”, disse um. “O principal ponto positivo foi a intervenção do Brasil no Haiti”, completou outro. “O real interesse da política externa de Luiz Inácio Lula da Silva é se manter ao lado de ditadores”, acusou um terceiro. “Alianças com Evo Morales e Hugo Chávez representam a falta de comprometimento com a democracia”, arrematou. As frases foram todas proferidas durante o debate “O Brasil e a Nova Geopolítica Mundial”, organizado por partidos de oposição nesta quarta-feira (10) em Brasília.
Reunidos por teleconferência – acompanhada pela imprensa e convidados apenas via internet –, políticos, diplomatas e cientistas políticos de orientação conservadora se dedicaram desde criticar até desmoralizar a política externa do governo Lula e as posições tomadas recentemente pelo Itamaraty.
“A diplomacia atual tem algo de errado, pois levanta bandeiras pertinentes, mas não atinge resultados”, disse o embaixador Sérgio Amaral, que foi porta-voz da presidência durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). Para ele, é inegável que o atual governo tenha criado iniciativas positivas, como a idealização do programa Fome Zero, a busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e a integração sul-americana. Mas, na opinião do embaixador, nenhuma dessas ações foi realmente benéfica para o país.
“O Fome Zero, por exemplo, não saiu do papel; o Brasil não esboçou atitude para eliminar a fome, apenas lançou o programa. Quanto à conquista da cadeira na ONU, os gastos com recursos humanos e financeiros foram altos, mas não há nenhum resultado concreto. Nem o Mercosul, que é uma das prioridades do governo, avançou. Não temos acordo de livre-comércio, estamos regredindo com algumas restrições e até mesmo perdendo preferências na região para países europeus e para a China”, alegou, apesar da maior projeção do país no mundo e do crescimento do saldo comercial brasileiro.
De 2003, primeiro ano do governo Lula, até 2006, o saldo da balança comercial do país quase dobrou, saltando de 24 bilhões de dólares para 46 bilhões de dólares. Mesmo com a queda entre 2007 e 2009, devido à crise financeira mundial, o resultado continua positivo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, ao contrário do período de 1995 a 2000, quando a balança comercial ficou permanentemente no vermelho.
O evento foi promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em parceria com as fundações Liberdade e Cidadania (DEM) e Astrojildo Pereira (PPS), como encerramento do programa “E agora, Brasil?”, que discutiu um programa para a candidatura de oposição na eleição presidencial de outubro.
Guiados pela pergunta “Que papel desempenhamos no mundo: o de uma subpotência bélica ou a de um país portador de uma cultura de convivência entre as diferentes raças e culturas, com tolerância e paz, embora cioso de sua segurança?”, feita pelo ex-presidente Fernando Henrique em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, no último domingo (7), os palestrantes praticamente deixaram de lado a discussão sobre as propostas para política externa, objetivo oficial do debate, para se concentrarem nas críticas à diplomacia do presidente Lula.
Questionado sobre alguns méritos do atual governo – como o aumento da classe média e do poder de consumo no país, a redução da vulnerabilidade externa, o controle da inflação, a redução da dívida interna em relação ao PIB e os êxitos do comércio exterior – o deputado federal Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) chegou a atribuir exclusivamente ao Plano Real e a Fernando Henrique a responsabilidade pela valorização de determinados postos de trabalho e a ascensão de classes de baixa renda.
Além de Amaral e Pannunzio, também participaram o ex-embaixador Rubens Barbosa e o cientista político André Régis, do Instituto Teotônio Vilela em Pernambuco.
O debate seguiu com os palestrantes apertando sucessivamente a tecla de que Lula e o governo têm utilizado estratégias “equivocadas” e “partidárias” na política externa. Segundo eles, os “interesses nacionais” não estão prevalecendo.
“Temos de eliminar a partidarização e a politização que prevalecem na política externa. Deve-se definir o interesse nacional, e não partidário como é hoje. Temos de ter clareza de nossos objetivos e de aonde queremos chegar com as parcerias, o que tem sido movido por interesses políticos, como a relação com a Venezuela e a aproximação com o Irã”, afirmou Rubens Barbosa.
Brasil-Irã
Régis fez questão de usar a relação com o Irã para atacar Lula e o Itamaraty. “As estratégias têm sido equivocadas. A associação com Ahmadinejad, por exemplo, é repugnante do ponto de vista da constituição”, alegou.
A constituição brasileira de 1988 tem um artigo especificando que a energia nuclear é restrita ao uso para fins pacíficos.
Para Pannunzio, o isolamento de países que tenham outros métodos e ideais de governo não é a solução ideal. Mas, segundo ele, o governo vem propondo uma “submissão” que colocaria o Brasil “à mercê” de países adversários da hegemonia ocidental, como o Irã, a Venezuela e a Bolívia.
“Não precisamos brigar com nossos vizinhos com ideias contrárias, mas não temos de trazer os problemas alheios pra dentro de casa”, disse o tucano, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Futuro
Com críticas e alfinetadas à política externa do governo Lula, os oposicionistas começaram a desenhar novas orientações para a política externa que deverá ser seguida por seu candidato presidencial, que deve representar PSDB, DEM e PPS nas eleições deste ano.
Sérgio Amaral acredita que, até o governo FHC, a política externa tinha “força e credibilidade” por representar “interesses nacionais”, o que seria refletido num “consenso geral”. Porém, para ele, todo este “legado” foi destruído durante o governo Lula, que “divide a opinião nacional” por conduzir a diplomacia de forma “partidária”.
“Esse é um erro que será corrigido com a vitória do PSDB”, exaltou-se o deputado Pannunzio. “Apenas países totalitários conduzem a política baseada nos interesses e ideologias do partido”, alegou o tucano, ignorando exemplos de mudanças de políticas tomadas por governos eleitos em países europeus e democráticos, como a retirada das tropas espanholas e italianas do Iraque, com as respectivas eleições do socialista José Luís Rodríguez Zapatero, em 2004, e do democrata-cristão Romano Prodi, em 2006.
Já Rubens Barbosa limitou-se a dizer que a partir de 2011 a política externa precisa “reestabelecer relações prioritárias com os países desenvolvidos, como o Japão, os Estados Unidos e os da Europa, porém tudo de acordo com nossa realidade, sem sobreavaliar o papel do Brasil”.
“Não temos de isolar nem hostilizar os países subdesenvolvidos, mas temos de nos focar na aproximação com os que apresentem condições favoráveis para nossos mercados”, completou, defendendo a histórica dependência comercial em relação às grandes potências.
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