Esta semana o ex-presidente cubano Fidel Castro afirmou em um texto publicado na imprensa oficial, que os dirigentes cubanos devem também fazer sua parte para melhorar as relações com os Estados Unidos.
Mas ontem (9), no Canadá, o presidente do parlamento cubano Ricardo Alarcón acrescentou que a diferença entre o presidente norte-americano, Barack Obama, e o seu antecessor é, apenas, “uma questão de personalidade” e uma reconciliação é difícil, senão impossível, neste momento.
Opiniões diferentes ou falta de sintonia? “Sim, estamos assistindo a uma série de sinais confusos vindos de Havana. O que não sabemos é se são de propósito ou a indicação de que as diferenças lá dentro estão crescendo”, comentou hoje (10) ao Opera Mundi um funcionário da administração Obama.
Em sua reflexão, Fidel citou declarações do ex-presidente norte-americano, Jimmy Carter em entrevista à Folha de S.Paulo, concedida durante recente visita ao Brasil. Segundo Fidel, o norte-americano defendeu o fim do embargo econômico à ilha e a autorização a todos os norte-americanos para que possam visitar Cuba.
Carter acrescentou que nesse sentido os gestos de abertura do presidente Obama ao autorizar as viagens e o envio de dinheiro ilimitadamente para os cubano-americanos poderiam ter ido um pouco mais além, principalmente tendo em conta que o Congresso se prepara para autorizar as visitas para todos os cidadãos. Para o ex-presidente, assim que isto acontecer, o embargo desaparecerá de seguida.
No entanto, Carter disse ao jornal que Cuba deveria promover alguns passos com relação aos Estados Unidos e sugeriu a libertação de presos políticos. “Carter expressou, finalmente, que os resultados dependem também dos dirigentes cubanos. É verdade, depende de nós e de todos os cubanos que lutaram e estão dispostos a lutar”, acrescentou Fidel.
Interpretação
Alarcón é conhecido por ser um dos incondicionais apoiadores de Fidel e a linguagem que usou no Canadá, na verdade, recorda a retórica revolucionaria do ex-líder cubano em outros tempos.
“A posição da nova administração norte-americana é a continuação de uma política falha, ilegal e sem justificação alguma”, disse Alarcón, numa conferência sobre Cuba, em Ontário, Canadá. Para o alto funcionário cubano os recentes gestos de Obama foram apenas o levantamento das restrições mais recentes que George W. Bush impôs no ano 2004.
No mês passado, Obama afirmou que chegou o momento de um recomeço nas relações entre os dois países, mas condicionou uma abertura mais ampla à libertação de presos políticos cubanos, democratização da sociedade e a existência de liberdade de imprensa. “Em outras palavras, Cuba deve mudar e comportar-se de acordo com os desejos de Washington”, ironizou Alarcón, para quem o governo norte-americano deve libertar “imediatamente” os cinco cubanos presos nos Estados Unidos condenados por espionagem.
Só então, acrescentou, “começaremos a acreditar que algo de fundamental está mudando em Washington”.
Leia também:
EUA mantêm Cuba na “lista negra” do terrorismo
Fidel desmente oferta de diálogo de Cuba
Obama: EUA buscam novo começo com Cuba
Abertura de portas
São as mesmas palavras de Fidel nas últimas semanas, depois que a generalidade dos observadores e políticos latino-americanos interpretou como uma abertura da ilha aos Estados Unidos o discurso do presidente Raúl Castro na reunião do Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), onde falou da disponibilidade imediata cubana de conversar com Washington sobre “todos os temas”.
Em resposta às especulações de então, Fidel manteve-se irredutível e repetiu sem fim que só o levantamento do embargo econômico poderia melhorar as relações entre os dois países.
Mas esta semana, sem mencionar o embargo, o líder cubano abriu uma pequena porta, ao sustentar que, existem “muitas formas de cooperação entre os povos com diferentes visões políticas”.
“E prova de isso é a luta contra o narcotráfico, o crime organizado e o tráfico de pessoas. Isto, por outro lado, pode ser ampliado a muitas outras formas de cooperação, como a luta contra as epidemias, as catástrofes naturais e outros problemas”, afirmou Fidel.
Não é a primeira vez que Havana trata de empurrar esta cooperação, pelo menos há muito tempo que não se escutavam estas propostas, que contrastam notavelmente com a linguagem dura de Alarcón ontem no Canadá.
São os tais sinais divergentes que os funcionários norte-americanos dizem ao Opera Mundi terem dificuldades em interpretar.
Leia também:
Raúl Castro está disposto a dialogar com Obama
Após anúncio de Obama, analistas apontam normalização gradual das relações com Cuba
Governo dos EUA processa ex-agente cubano da CIA por mentir sobre atentados
NULL
NULL
NULL