Apesar de se dizer o país da “liberdade, igualdade, fraternidade”, a França é cenário de uma crise importante na integração dos franceses nascidos de pais imigrantes. No mundo corporativo, nenhuma lei ainda conseguiu ajudar na incorporação das chamadas minorias visíveis. Segundo Antoine Barth, criador da MV Deux, a primeira empresa de recrutamento que procura apresentar executivos da “diversidade”, não é possível imaginar um sistema de cotas que respeite a história do empresariado. Ele é a favor, porém, da criação de agências socialmente responsáveis, que avaliariam o desempenho das empresas segundo o critério da diversidade étnica, racial e cultural.
O que levou o senhor a pensar na criação de uma agência de recrutamento? Existem outras no mercado?
Que eu saiba não, acho que somos os únicos. Existem algumas associações com objetivos semelhantes, mas são voluntários, que geralmente procuram ajudar os jovens na procura do primeiro emprego. No meu caso especifico, nunca sofri nenhum tipo de discriminação: sou o que a gente chama na França um “BBB”: branco, loiro e de olhos azuis (Blanc, Blond, yeux Bleus, em francês). Em compensação, a minha sócia, é uma advogada internacional, mas é originaria do Chade. Ela conhece muito bem os preconceitos no mundo corporativo e sua experiência tem sido crucial na criação de nossa empresa.
Como você aborda as empresas para convencê-los a usar diferentes perfis de pesquisa?
É preciso habilidade, não é fácil estigmatizar uma empresa, mostrando que o seu expediente, e em especial os executivos, não refletem a sociedade, e que, sem dúvida a empresa se priva de talentos. Também é preciso explicar que assinar uma Carta de Diversidade não é suficiente, tem que fazer mais. A dificuldade vem do fato de que as motivações não são sempre as mesmas, entre o presidente da empresa, o diretor de recursos humanos e o chefe de departamento onde a pessoa será contratada, mas todos contribuem na hora do recrutamento. É uma pedagogia de longo prazo. É preciso mostrar para a empresa todos os benefícios, internos – a eficiência com talentos diversos – e externos, ou seja, sua imagem.
Por que o senhor acha importante que uma empresa procure perfis diferentes?
Primeiro internamente. Todas as empresas que têm uma política de diversidade real sabem que as trocas culturais são positivas para a coesão social e contribuem para a competitividade. Insisto sobre esse aspecto: não tem nada a ver com uma visão politicamente correta, é uma realidade econômica e social. Hoje, as empresas, especialmente as grandes, têm clientes do todos os tipos, padrões de consumo muito diversos, gosto diferenciado por tal produto ou serviço. As empresas que negam essa realidade correm o risco de limitar seus clientes em potencial.
Até onde a lei incentiva as empresas a fazer um esforço na luta contra a discriminação?
Estou convencido de que a lei não resolve nada. Por definição, o legislador não pode levar em conta a história e a cultura econômica de cada empresa. Basta ver o que aconteceu com o tema da paridade de gêneros e o debate recente sobre o número de mulheres nos conselhos de administração. A única resposta do legislador é global, propondo cotas.
Eu sou totalmente contra as cotas. Uma empresa é uma realidade econômica, que tem uma história, hábitos de trabalho, um mercado, uma organização social. Não é um coquetel em que daria para botar uma dose de mulheres, uma porcentagem de minorias visíveis, deficientes, homossexuais, idosos, católicos (praticante, não praticante?), obesos, loiros… tudo isso somente para refletir a diversidade da população.
Para mim, a lei deve lembrar a todos os princípios básicos da não discriminação. Mas não pode se substituir as decisões de contratação. A diversidade dentro da empresa é também o resultado da conscientização da sociedade. Não tem nada a ver com uma lei coercitiva, nem mesmo um regulamento.
Para as empresas que promovem este tipo de recrutamento “diferente”, qual é a motivação?
Encontramos todos os casos: preocupação com uma questão de sociedade, iniciativa política, vontade de ter uma cara semelhante à clientela, estratégia de marketing, pressão sindical… Eu não faço nenhum julgamento em relação às motivações. A única coisa que importa é o resultado final. E até agora, nunca vimos uma empresa que se arrependeu por ter diversificado o tipo de contratação de seus executivos.
Existe um tipo de sanções de mercado, por exemplo, na bolsa, para as empresas que se recusam a uma abertura a perfis diferentes?
Não existe nenhuma agência de notificação, semelhantes às que existem no mundo financeiro. No entanto, algumas instituições financeiras destacam a boa ou má gestão e dão um prêmio para as empresas socialmente responsáveis. É um primeiro passo.
Já estamos falando de uma agência de notificação ecológica. Por que não imaginar daqui a pouco uma agência de diversidade. Sem falar do peso crescente, para as grandes corporações, da globalização dos acionistas. O fundo de pensão para viúvas da Luisiana, ou um fundo soberano do Oriente Médio, não poderiam ter exigências sobre a diversidade das empresas antes de investir?
Primeira parte: Diversidade racial ainda é tabu no mundo dos negócios francês
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