O vice-presidente argentino, Julio Cobos, aproveitou a viagem que a presidente Cristina Kirchner fez a Cuba e Venezuela para avançar na organização de uma força opositora que ponha um ponto final à “era Kirchner”. O objetivo imediato: disputar as eleições legislativas de outubro próximo.
No exercício do poder Executivo durante o período de ausência de Cristina, Cobos recebeu na sede do governo o dirigente ruralista de linha dura e contrário ao governo, Mario Llambías e a imprensa opositora. Também questionou abertamente as visitas da presidente a Raúl e Fidel Castro e a Hugo Chávez. “Talvez não tenha sido conveniente” que a presidente tenha visitado Cuba durante a posse de Barack Obama (20), declarou o ex-governador da província de Mendoza, em tom desafiante.
O “kirchenismo” respondeu às provocações do vice, aproximando as alas internas do Partido Justicialista (PJ) e os aliados radicais contrário a Cobos que ainda restam no governo.
Cobos integrou a fórmula presidencial da Frente para a Vitória, que ganhou as eleições em outubro de 2007 – marco de um acordo desenhado pelo ex-presidente Néstor Kirchner – e que consagrou Cristina Kirchner, sua esposa, como presidente da Argentina. Na ocasião, Kirchner unificou sua força política a de governadores e prefeitos do partido Unión Cívica Radical (UCR), desmembrado após a queda do governo de Fernando de La Rua, em 2001.
O vice-presidente, figura opaca da política argentina, ganhou prestígio depois de votar no Senado contra a Resolução 125, de 2008, uma iniciativa governamental fortemente repudiada pelos setores agrícolas. Seu voto “não positivo”, como ele mesmo definiu, decretou uma derrota ao oficialismo, que viu consumida grande parte de seu capital político, acumulado desde 2003. Contudo, Cobos se negou a renunciar à vice-presidência e, desde então, trabalha abertamente para enfrentar o oficialismo nas eleições de outubro.
Cobos e Kirchner buscam aliados
As tentativas de consolidar uma frente opositora única estão sendo elaboradas pelo ex-ministro radical Rodolfo Terragno, que se reuniu essa semana com Elisa Carrió, fundadora da Coalición Cívica. No encontro, procurou convencê-la a se juntar a Cobos, formando uma força que desafie a hegemonia dos Kirchner. Terragno anunciou que se reunirá também com o presidente da UCR, Gerardo Morales, com o chefe do bloco de senadores radicais, Ernesto Sanz, e com o ex-candidato à presidência, Ricardo López Murphy, direitista.
Néstor Kirchner, presidente do PJ, respondeu aos embates internos recebendo, no dia 22, dois governadores peronistas que, nos últimos tempos, haviam se distanciado do poder Executivo: Mario Das Neves (Chubut) e Daniel Scioli (Buenos Aires), ambos membros da condução partidária e com pretensões – como o senador Carlos Reutemann – de integrar a fórmula presidencial do peronismo em 2011. Ao lado deles, Kirchner revisou a estratégia eleitoral em cada jurisdição, para influenciar a lista de candidatos.
No dia seguinte, o ex-presidente tentou trazer confiança aos membros do Partido de la Concertación, criado em setembro de 2008 pelos radicais que seguiram afinados ao kirchenismo após o voto de Cobos contra a Resolução 125.
O chefe do partido governista recebeu vários funcionários e legisladores desta tendência – entre eles, o Subsecretário geral da Presidência, Gustavo López – e anunciou que fará um relançamento de sua força política no fim do mês, na província de Córdoba.
López assinalou ao Opera Mundi que na reunião de quinta-feira, o grupo “reafirmou os laços do projeto nacional, que é o da Concertación (combinação) e convidou, tanto Kirchner, como a presidente Cristina Fernández, ao plenário nacional no dia 29 de janeiro, em Villa Dolores (Córdoba), onde estarão presentes mais de trinta prefeitos e autoridades de distintas províncias”.
Neste círculo íntimo, o governo assegura que março será o momento em que a estratégia eleitoral para outubro será lançada, o que pode implicar em mudanças no gabinete. Uma forma de “oxigenar” a imagem do governo, fortemente deteriorada após os conflitos com os ruralistas no ano passado.
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