O candidato da governista Associação Nacional Republicana (Partido Colorado), Mario Abdo Benítez, venceu as eleições presidenciais paraguaias deste domingo (22/04).
Segundo o Tribunal Supremo de Justiça Eleitoral (TSJE), com 99,48% apurados, Abdo Benítez obteve 46,44% dos votos, contra 42,74% de Efraín Alegre, em um pleito que contou com a participação uma de mais de 60%. Não há segundo turno no Paraguai.
Mas, o que representa a vitória de Abdo Benítez?
Vínculos com a ditadura
O novo presidente é filho do secretário privado do ex-ditador Alfredo Stroessner, que governou o país por 35 anos. Abdo Benítez tenta manter distância do fato, mas diz reconhecer o que classifica de “vários êxitos” em matéria de segurança e economia durante o período repressivo.
O presidente eleito estudou nos Estados Unidos, foi subtenente da reserva da Aviação das Forças Armadas e herdou uma grande fortuna do pai. Durante sua carreira política, foi senador e presidente do Senado.
O Partido Colorado, do qual Abdo Benítez faz parte, é uma agrupação política de tendência conservadora e governou o país entre 1947 e 2008, quando Fernando Lugo venceu as eleições. Lugo foi vítima de um golpe anos depois, em um processo de impeachment que durou somente 36 horas.
Agricultura
Para o analista venezuelano Raúl Cazal, com o resultado, se manteve o que chama de “ditadura do Partido Colorado” no país. A agremiação domina a política paraguaia há quase 70 anos, apesar da breve interrupção no período do ex-presidente Lugo.
Segundo ele, em relação às promessas de campanha do presidente eleito, será difícil ver algum avanço na questão de propriedade de terras, já que isso iria “contra a oligarquia que está por trás de seu partido”. Na campanha, o novo presidente prometeu “melhorar a produtividade” e “reduzir a pobreza na agricultura familiar”.
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Reprodução
Abdo Benítez foi eleito neste domingo presidente do Paraguai
Abdo Benítez representa uma continuidade nas políticas conservadoras do atual presidente Horárcio Cartes, que deixa o cargo em agosto, por mais que os dois tenham ficado em lados opostos quando o atual presidente tentou aprovar uma emenda permitindo a reeleição. Entre as medidas anunciadas pelo agora presidente eleito, estão a redução de impostos para empresários e uma “cooperação” com o setor privado no âmbito da educação.
Relações internacionais
Durante a campanha, Abdo Benítez defendeu “alianças estratégicas” com o Brasil, principalmente no campo produtivo. Em 2023, está prevista a negociação de tarifas das usinas de Itaipu com Brasília e Buenos Aires e a de Yaciretá, com a Argentina.
Ao contrário de Alegre, candidato da oposição, que defendia uma forte redução nas tarifas de energia elétrica, em suas propostas de governo Abdo Benítez falou somente em “venda livre [de energia] a preços justos”.
Para o analista Adalberto Santana, a posição do Paraguai na geopolítica continental é estratégica, especialmente em temas como a integração da comunidade sul-americana. Segundo ele, no país se mantêm as estruturas desde os tempos da ditadura de Stroessner, já que não houve modernização – quando isso aconteceu, houve um golpe de Estado (o caso de Lugo, em 2012).
Para Santana, estas eleições mostram que a América Latina está entre dois blocos: um progressista e, outro, conservador. No Paraguai, o bloco conservador mantém o domínio, apesar do aumento do crescimento das forças liberais.
(*) Com teleSUR