Uma série de documentos publicados pelo Wikileaks relata a pressão dos Estados Unidos contra o governo da Argentina para beneficiar a empresa Monsanto. A multinacional exigia que os agricultores argentinos pagassem royalties pelo uso de sementes transgênicas introduzidas pela empresa no país e que estavam sendo exportadas para a Europa.
Os documentos foram disponibilizados pelo jornal Página 12.
O despacho, datado de janeiro de 2006, relata a conversa entre o embaixador norte-americano Lino Gutierrez e a ministra da Economia, Fernanda Miceli. Durante o encontro, Gutierrez questionou a ministra a respeito das exigências da Monsanto e explicou que por não conseguir um acordo, a Monsanto entraria com uma ação judicial na Europa contra os países que compraram o produto modificado.
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Miceli explicou ainda que quatro associações de produtores interessadas no assunto estavam sendo sondadas e que todas concordavam em pagar royalties a Monsanto. No entanto, segundo a ministra, o problema era fazê-los concordar com um preço comum. Segundo informações do jornal argentino Página 12, a Monsanto exigia o pagamento de quinze dólares por tonelada.
Ao final do encontro, a ministra aceitou o pedido de Gutierrez para realizar um encontro com representantes da empresa.
Em documento de março do mesmo ano, a embaixada norte-americana reproduz a alegação da Monsanto, de que cerca de 80% da soja produzida no país utiliza a tecnologia da multinacional, e avalia que “a Argentina não parece ter os meios nem a vontade de fazer valer a cobrança de royalties”.
Em outros encontros com representantes norte-americanos, o governo da Argentina demonstrou irritação com a ação da Monsanto de pedir a retenção de navios argentinos que carregavam as sementes geneticamente modificadas em portos europeus, entre os anos de 2004 e 2005.
O mesmo documento revela ainda que a Argentina organizou um grupo de representantes para viajar para a Europa com o objetivo de resolver a questão do embargo dos navios. A mensagem faz um recorte de um artigo da colunista Alejandra Groba, que explica a reação do governo argentino.
“De acordo com um funcionário do governo argentino, o que a delegação tentará provar é que a ação da Monsanto é um argumento estratégico que a empresa está usando para nos pressionar. A Monsanto não precisa atrasar os navios na Europa, a fim de provar que o farelo contém o gene Round-Up Ready. O que ela realmente busca é intimidar a Argentina e os produtores, com o objetivo de obter apoio internacional para suas exigências”.
Na época, a Monsanto solicitou a inspeção dos navios porque possuía a patente da semente de soja modificada nos países que receberiam o produto. A alegação da empresa, portanto, era que só ela teria o direito de negociar a semente modificada na Europa.
Em Julho de 2010, a Argentina ganhou no Tribunal de Justiça da União Europeia o direito de negociar a soja geneticamente modificada. O Tribunal considerou que o fato da Monsanto possuir a patente na Europa não impede que países exportadores vendam o mesmo produto para o continente europeu.
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