Três dias após a morte do adolescente Nahel, 17 anos, que levou um tiro à queima-roupa de um policial em uma blitz perto de Paris, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani, disse que “é hora do país se debruçar seriamente sobre os problemas profundos de racismo e discriminação racial na polícia”.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu à França que analise seriamente os problemas de racismo e discriminação racial dentro da polícia, três dias após a morte de um adolescente assassinado por um policial.
Em uma entrevista coletiva nesta quinta-feira (29/06), a representante da ONU pediu às autoridades francesas garantias de que o uso da força pela polícia nas manifestações, para controlar “participantes violentos”, respeite “os princípios de legalidade, necessidade, proporcionalidade, não-discriminação, precaução e responsabilidade”.
A porta-voz da ONU declarou sua “preocupação” com o tumulto que tomou conta da França após a morte do adolescente, ocorrida na última terça-feira (27/06).
Shamdasani chamou a atenção para o fato de que muitos policiais também ficaram feridos nos protestos, “usados por algumas pessoas como pretexto para saques e violência”, declarou.
Twitter/Préfecture de Police
Solicitação ocorre três dias após morte de um adolescente assassinado por um policial
Mas ela também frisou que esta não é a primeira vez que as polícias militar e civil francesas recebem críticas por visar, de maneira “desproporcional”, algumas minorias. Quase 900 pessoas foram presas nos protestos na noite de quinta-feira (29/06) para sexta-feira (30/06). Segundo dados oficiais, 249 policiais ficaram feridos.
Comitê da ONU ressalta abusos
Em dezembro de 2022, o Comitê das Nações Unidas para a eliminação da discriminação racial também demonstrou preocupação com o abuso de multas, controles de identidade e detenções “discriminatórias”. Segundo o Comitê, essas medidas atingem principalmente os descendentes de africanos ou árabes, os ciganos e os imigrantes clandestinos.
Em maio, os Estados Membros do Conselho de Direitos Humanos também demonstraram preocupação com a violência policial e a discriminação racial na França. O Brasil e o Japão também criticaram o caráter racista da ação da polícia francesa.
Países como Suécia, Noruega e Dinamarca e Luxemburgo também pediram à França que reconsidere sua política de “manutenção da ordem”.
O governo francês anunciou, nesta sexta-feira (30/06), que analisa “todas as opções”, entre elas decretar estado de exceção com a terceira noite de tumultos após a morte de Nahel.