Depois de Catherine Deneuve, é a vez de Brigitte Bardot criticar a mobilização das mulheres contra o assédio sexual. Em uma entrevista à revista Paris Match, que chega às bancas nesta quinta-feira (18/01), a ex-atriz francesa classificou as denúncias como “hipócritas, ridículas e sem interesse”.
Brigitte Bardot, que abandonou a carreira no cinema para militar pelos direitos dos animais, concedeu uma longa entrevista à revista francesa Paris Match. Ao ser questionada sobre o que pensa sobre as atrizes que denunciam o assédio sexual, foi taxativa. “Em relação a essas atrizes, e não às mulheres em geral, é, na maioria dos casos, hipócrita, ridículo, sem interesse. Isso toma o lugar de assuntos importantes que poderiam ser discutidos”, disse.
Segundo a ativista de 83 anos, muitas atrizes seduzem os produtores para obter papéis. “Depois, para chamar atenção, elas dizem que foram assediadas. Na verdade, mais do que beneficiá-las, isso as prejudica “, declarou.
Símbolo sexual dos anos 50 e 60, ela garantiu à Paris Match jamais ter sido assediada e que apreciava quando era cortejada. “Achava charmoso quando me diziam que eu era bela ou que eu tinha uma bundinha bonita. Esse tipo de elogio é agradável”, reiterou, lembrando que o ex-presidente francês, Jacques Chirac, a chamava de “petite biche” (equivalente à “gatinha”, em português).
“Concurso de quem dirá a maior besteira”
Não tardou para que a entrevista ganhasse repercussão nas redes sociais, resultando em uma chuva de críticas contra a ativista. “Concurso de quem dirá a maior besteira: Brigitte Bardot se lança na competição”, tuitou Caroline de Haas, uma das principais vozes do feminismo na França.
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Flickr CC/Stelle Rocio Souza
Bardot, na época em que atuava; ex-atriz disse considerar denúncias de assédio “hipócritas”
A feminista se refere ao manifesto publicado no jornal Libération na semana passada, assinado por personalidades como a atriz francesa Catherine Deneuve, a ex-estrela ponô Brigitte Lahaie e a escritora Catherine Millet. O texto defende a “liberdade de importunar” dos homens, indispensável, segundo elas, “à liberdade sexual” e também critica “um feminismo que odeia os homens e a sexualidade”.
O manifesto gerou forte revolta depois que algumas signatárias incendiaram a polêmica com declarações chocantes. Em um debate na televisão sobre o assunto, Lahaie declarou que “uma mulher pode gozar durante um estupro”. Já Millet, em entrevista a uma rádio francesa, declarou que gostaria de ter sido estuprada “para poder provar que se sobrevive a um estupro”.
Movimento feminista ganha força
Desde outubro de 2017, um forte movimento de denúncia ao assédio sexual de mulheres ganhou força, depois que dezenas de atrizes acusaram o produtor americano Harvey Weinstein de agressões es estupros. Batizado de #MeToo, ele se expandiu a diversos setores e ganhou versões no mundo inteiro, como o #EuTambém, no Brasil e #BalanceTonPorc (Entregue Seu Porco, tradução livre), na França.
Em fevereiro deste ano, o movimento passou da denúncia à ação. Atrizes e diretoras de Hollywood lançaram o movimento Time's Up (Chegou a Hora, tradução livre), que angaria fundos para lutar contra o assédio sexual no trabalho.
(*) Publicado na RFI