Em discurso franco para uma sessão conjunta do Congresso, o presidente Obama, ora duro, ora magistral, falou em termos pragmáticos e morais sobre a importância da reforma do sistema de saúde, colocando-a como um teste do caráter da nação. Ele pediu por uma ação arrebatadora, que inclui proibir as seguradoras de negar cobertura por causa de doenças pré-existentes. Segurança e estabilidade foram um refrão. Um pedido para acabar com os jogos no Congresso, infantis, foi um subtexto quase bíblico quando o presidente falou poderosamente sobre a necessidade de ir além do feio circo de agosto. “Acabou o tempo para contestações. Os jogos acabaram”.
O discurso ainda teve um sabor bipartidário, mas com uma espinha dorsal progressista.
No imperativo da opinião pública, Obama não satisfez plenamente. A ideia da troca de seguros de saúde confundiu mais do que esclareceu. Por que a demora de quatro anos? Na essência, é um compromisso, porque o Congresso não tem estômago para levantar o dinheiro e fazer a reforma mais rapidamente. Pode haver alguns benefícios à frente, mas ainda há mais perguntas do que respostas. O que está claro é que uma luta ainda deve ser travada para impor uma avaliação popular, se iremos começar um componente essencial da reforma da saúde real e efetiva. Afinal, a opinião dos norte-americanos já é um compromisso pragmático “all-american” (escolha e concorrência). Serviços médicos para todos, ou o pagador unitário nunca esteve em discussão.
Obama gosta de dizer que o perfeito é inimigo do bom. Mas e se os fracos são os inimigos do bom? E os gritos para a esquerda foram por vezes condescendentes, como se ele tivesse que fazer triangulação 2.0.
Ainda assim, o momento em que Obama invocou a história foi poderoso. Quando ele apontou que o pai do congressista Dingell tinha proposto uma lei semelhante em 1943, apelou a um grande simbolismo e traquejo político. Invocando os presidentes da grande reforma – Roosevelt e Johnson – e as batalhas que travaram contra os lobbies reacionários no combate aos cuidados de saúde universal, Obama se alçou ao panteão americano.
“Eu não sou a primeira pessoa a assumir a causa da saúde, mas estou determinado a ser o último.”
Apesar dos dias de fúria da ala da direita, e as mentiras e desinformação, Obama disse, talvez com intenção maquiavélica, que ele continuaria a procurar um terreno comum nas próximas semanas. “Mas, saibam isso”, insistiu Obama, “eu não vou perder tempo com aqueles que calculam que é melhor a política matar este plano do que melhorá-lo.” E nessa frase magistral, ele colocou o peso sobre aqueles que buscam aleijar a reforma da saúde com o intuito de causar danos à sua jovem presidência. Obama foi mais resoluto ao dizer que “em vez de um debate honesto, nós vimos surgir a tática do medo”, e também em sua comclamação àqueles (especialmente àqueles que têm falas idosas), que iriam desvirtuar o seu plano.
E depois, havia os republicanos do sexo masculino, pálidos e sem graça. O grito de “mentiroso” de Joe Wilson, representante da Carolina do Sul, mostrou que os megafones da desinformação não são exclusividade dos delirantes estúdios da FOX de Glenn Beck ou do acolchoado estúdio de rádio de Rush Limbaugh. Obama, justificadamente, chamou o GOP para fora de sua hipocrisia em defender o Serviço de Saúde, programa que eles têm trabalhado duro para prejudicar.
Vimos muita conversa pragmática – sobre segurança e estabilidade e dobrar a curva e a neutralidade de déficit e encontrar poupança existentes no sistema de saúde. Mas foi quando Obama falou do senador Kennedy e o imperativo moral da reforma de saúde que o discurso se engrandeceu. Se tornou merecedor dos livros de história, na verdade. Obama lembrou que essa reforma era, como Kennedy acreditava, “o grande negócio inacabado da nossa sociedade”. Isso é uma questão “moral” sobre os princípios fundamentais de justiça social e do caráter de nosso país. É sobre a condição humana, sobre a história do progresso da nossa nação.
Em muitos aspectos, era o máximo de Obama, a defesa mais eloquente e formal do liberalismo e da clara exposição da visão do papel do governo. Não era o antídoto a décadas de governo Reagan, da narrativa conservadora é-problema-conservador. No entanto, Obama falou de forma precisa de um novo e progressista papel para o governo. Temos de construir sobre isso.
Há trabalho pela frente para cumprir a promessa de dar uma forma mais humana e saudável ao futuro. Mas, na noite de 9 de setembro, oito anos após o presidente George W. Bush falar a uma sessão conjunta do Congresso, o presidente Obama nos colocou em um caminho que podemos aproveitar nos dias e semanas críticos que temos pela frente.
Copyright 2009 The Nation; publicação autorizada pela Agence Global.
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