Só agora que o Fundo Monetário Internacional tem uma nova presidenta, a francesa Christine Lagarde, ficamos sabendo que o ex-presidente da instituição, Dominique Strauss-Kahn, pode ter sido vítima de uma armação.
Os promotores que cuidavam do caso recuaram diante das evidências de que a camareira Nafissatou Diallo, supostamente atacada pelo francês que se candidatava a concorrer à Presidência da França pelo Partido Socialista, não prestava depoimentos consistentes e que, além de tudo, tinha fortes ligações com traficantes de drogas.
“Eu entendo que as circunstâncias deste caso mudaram substancialmente e concordo que o risco dele não aparecer aqui diminuiu. Eu solto Strauss-Kahn sob liberdade provisória”, afirmou o juiz Michael Obus, que cuida do caso. Strauss-Kahn também receberá de volta o milhão de dólares pago em fiança e o depósito de garantia de cinco milhões de dólares que lhe deram direito a prisão domiciliar.
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Há grandes chances de que a relação sexual entre Strauss-Kahn e a camareira tenha sido como ele descreveu, após ser preso: consensual. Mais que isso, um consenso premeditado com o intuito de fazer um bom dinheiro. Isso se não houver uma conspiração maior em jogo – que, agora, temos a obrigação de levar em conta e esperar que a polícia de Nova York investigue (talvez seja querer demais).
Ainda é cedo para imaginar o futuro deste jogo. Mas pelo menos a uma conclusão é possível chegar imediatamente: Strauss-Kahn foi vítima de uma precipitação do sistema policial-judicial-midiático dos Estados Unidos, que expôs um suspeito de um crime à condenação moral que nem um culpado deveria merecer.
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Além disso, polícia e mídia abusaram ao buscar no passado “mulherengo” de Strauss-Kahn provas de que ele teria abusado da camareira. É o tipo de irresponsabilidade que deveria – o que, infelizmente, não deve acontecer – gerar uma profunda revisão de formas e métodos de tratar uma acusação.
Como se sabe, Strauss-Kahn perdeu a presidência do FMI (que, se não tinha nada de revolucionária, em muitos aspectos incomodava o governo dos Estados Unidos), depois de ser exibido em todas as TVs e computadores do mundo, algemado e abatido. Não pôde nem mesmo usar do privilégio da imunidade diplomática que a presidência do FMI lhe conferia, dada a avalanche de acusações. Seu caso foi tomado como metáfora da violência que o FMI pratica todos os dias nos países que antigamente chamávamos de Terceiro Mundo.
Agora, tudo pode mudar. E, paradoxalmente, de forma também perigosa.
Da mesma forma que destruiu a reputação de Strauss-Kahn, o complexo “polícia-justiça-imprensa” ameaça arrasar a imagem da jovem que denunciou o presidente do FMI. Por extensão, os abusos das autoridades que cuidaram do caso acabam por colocar em xeque qualquer denúncia de violência sexual praticada contra mulheres.
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Strauss-Kahn, por sua vez, pode até dar a volta por cima. Dependendo de como lidar com a situação, o ex-presidente do FMI poderá retornar à França no papel de vítima de uma falsa acusação, com direito a papel central no espetáculo midiático.
Terá direito a quantas entrevistas exclusivas quiser dar, e nelas terá o direito de evitar a crise econômica mundial, o risco de esfacelamento da moeda unificada européia, a nova política antiimigratória do continente etc. Nenhum tema difícil tomará a pauta do tema “fácil” da agressão que sofreu.
Tudo isso, somado ao antiamericanismo que tanto esquerda quanto direita nutrem na França e à hipocrisia de um país que finge não se importar com questões da vida privada, e Strauss-Kahn pode – insisto no pode, porque depende muito de como ele vai lidar com toda essa história – fazer de Dominique um renovado candidato do PS nas eleições do ano de 2012.
Para combatê-lo, Nicolas Sarkozy certamente não poupará a mulher Carla Bruni, e o bebê que vem por aí. E a vida política, assim, vai se dobrando diante da vida privada.
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