Atualizada às 16h36
Amanhã, 1º de janeiro de 2014, Michael Bloomberg deixa de ser prefeito de Nova York. Foram 12 anos de gestão, que puseram fim à era ultraconservadora de Rudolf Giuliani.
Bloomberg já foi republicano e democrata. Terminou o governo “independente”. Mas, ao fim e ao cabo, continua sendo o que já era: bilionário. O The New York Times publicou quanto de dinheiro próprio ele gastou nesses doze anos, com mordomias das quais não acreditava valer a pena abrir mão: US$ 650 milhões, ou pouco mais de R$ 1,5 bilhão.
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A cifra é assustadora e inclui diárias em hotéis para ele e para os colaboradores, viagens em aviões particulares, além de dinheiro colocado em programas assistenciais e culturais. Para completar os “benefícios” públicos do dinheiro privado, Bloomberg abriu mão do salário mensal de US$ 18.750 (aproximadamente R$ 44 mil). Como prefeito, Bloomberg aceitou apenas simbólicos US$ 1 por ano.
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Bloomberg deixará amanhã de ser prefeito de Nova York. Mas continuará bilionário
Uma beleza, né? Afinal de contas, a cidade não precisou gastar com seu mais importante político por mais de uma década. Mas será que esse conto de fadas é tão bonito assim?
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É muito admirável o desprendimento de Bloomberg, mas qual a consequência de pensarmos, no capitalismo realmente existente, que nenhum político receba para trabalhar? A primeira consequência prática é o afastamento de quem depende do trabalho cotidiano da política. Imediatamente, todo assalariado teria de pensar muitas vezes antes de aceitar qualquer posição pública, quanto mais disputar um posto assim.
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A segunda consequência é que Bloomberg, com essa postura de não aceitar recursos da prefeitura, mas ao mesmo tempo bancar todo o conforto que acha que merece, cria um segundo poder para ele mesmo: ao poder político, soma o poder econômico na relação com cada um dos funcionários e assessores. Temos não uma relação tradicional entre poder político e Estado, mas uma relação que passa também por benefícios privados, potencialmente corruptores, liderados pelo próprio prefeito.
Ninguém está acusando Bloomberg de nada. Apenas tentando apontar os efeitos perversos da benemerência do prefeito. Bloomberg foi um prefeito bastante mais “liberal”, no sentido norte-americano, do que Giuliani, o criador da política da “tolerância zero”. Mas sua gestão também fica marcada pelo poder da plutocracia, o poder do dinheiro. Ao “privatizar” não os recursos públicos, mas o próprio gasto público, no limite, Bloomberg coloca a política como uma ação de caridade, em que os pobres mortais entregam seu destino aos chefes de corporações como ele.
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Hoje “independente”, Bloomberg já foi republicano e democrata
Em 2013, Nova York achou que doze anos dessa lógica eram suficientes. Elegeu em novembro Bill de Blasio, filho de simpatizantes do comunismo, casado com uma mulher negra, com quem passou a lua de mel em Cuba.
A partir de amanhã, Bloomberg continua a ser um bilionário. Mas deixa de ser prefeito.