Na noite de 18 de setembro de 1961, o Secretário-Geral das Nações Unidas, o sueco Dag Hammarskjold, morreu junto a outras 15 pessoas em ainda não bem explicado acidente aéreo, quando tentava prevenir a eclosão da guerra civil na nascente República do Congo e tirar da linha de fogo as tropas da ONU.
Hammarskjold voava de Leopoldville, a capital congolesa, para Ndola, no norte da então colônia britânica da Rodésia – hoje Zâmbia. Seu avião caiu quando se aproximava da pista de aterrissagem.
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Dag Hammarskjold buscava negociar um cessar-fogo na República do Congo
Nenhuma das investigações levadas a cabo dissipou as suspeitas de que a aeronave não caiu em consequência de alguma falha mecânica ou erro do piloto, mas sim por ter sido que foi abatida por outra aeronave.
O presidente norte-americano John Kennedy descreveu Hammarskjold como “o maior estadista de nosso século”.
Eram os primeiros anos do complexo processo de descolonização da África em que a retirada das metrópoles europeias deixava o campo aberto para o embate da Guerra Fria entre o bloco capitalista e o bloco socialista.
No caso do Congo, o fim do domínio belga gerou divisões no país. Na província meridional de Katanga – rica em cobre, urânio e alumínio – o movimento separatista de Moise Tshombe era apoiado por interesses mineiros estrangeiros. A ONU só reconhecia o governo de Patrice Lumumba, um líder popular que se converteu em lenda depois de ter sido derrocado e posteriormente assassinado em janeiro de 1961.
Nesse contexto, Hammarskjold buscava negociar com Tshombe um cessar-fogo, depois que as tropas de paz das Nações Unidas se viram envolvidas em confrontos com as milícias de Katanga.
Os historiadores destacam que o diplomata sueco ganhou a antipatia dos separatistas de Katanga, dos colono brancos, dos empresários das minas e dos mercenários que participavam do conflito congolês. Além do que, devido ao seu apoio ao governo de Lumumba, por sua proximidade com a União Soviética, era visto com desconfiança pelos Estados Unidos e Grã Bretanha.
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A maneira como se investigou o acidente, os achados, e sobretudo aquilo que não foi mostrado ao público, como as fotos do cadáver do diplomata, deram vazão a uma série de especulações.
Algumas testemunhas do acidente disseram ter visto um suposto segundo avião na zona naquela noite. Outros asseguram ter visto pessoal uniformizado no local do acidente, se bem que o relatório oficial registrou que os restos foram encontrados às 15h do dia seguinte.
O único sobrevivente, o sargento norte-americano, Harold Julien, que trabalhava na equipe de segurança da ONU, disse aos investigadores que houve uma explosão antes que o aparelho se precipitasse para o solo.
Essa declaração foi descartada por se considerar que Julien era “inconsistente” devido ao efeito dos medicamentos que tomou durante vários dias, até que faleceu em decorrência dos ferimentos sofridos.
Em 1961 a autoridade da aviação civil da Rodésia afirmou não ter encontrado uma causa “específica ou definitiva” do acidente. Uma segunda investigação, apresentada em fevereiro de 1962, atribuiu a queda do avião a um erro do piloto.
Em abril de 1962 um estudo da ONU concluiu que “não se podia excluir” a possibilidade de um ataque ou sabotagem ao avião. Em 1988, a Comissão da Verdade e de Reconciliação da África do Sul publicou 8 cartas em que se sugeria que a CIA, a britânica M15 e a inteligência sul-africana haviam sabotado o aparelho. A resposta dos acusados foi que “tudo não passava de invenção ou desinformação” dos soviéticos.
Descrições posteriores, recolhidas por Susan Williams do Instituto de Estudos da Commonwealth da Universidade de Londres, coincidiram com o que foi relatado por um ex-oficial de inteligência norte-americano, quem assegurou ter ouvido uma gravação em que o piloto dizia ter derrubado o avião do secretário-geral.
“Não temos a “prova do crime”, afirmou Susan Williams, “contudo, há uma quantidade de evidências que aponta na direção de que o avião foi abatido por um segundo aparelho. Essa é a explicação mais convincente e documentada que qualquer outra”, assegurou à BBC.
Entre os materiais revisados por Williams estavam as fotos do corpo de Hammarskjold, jamais publicadas em atenção aos desejos de sua família, que não mostra queimaduras, ao contrário dos restos carbonizados dos demais passageiros.
O familiar mais próximo do secretário-geral, o sobrinho Knut Hammarskjold, considerou em entrevista ao jornal britânico The Guardian que o livro de Williams, “Quem matou Hammarskjold?” aportava novos dados que justificariam outra investigação. Em 1961, Knut viajou ao local onde caiu o DC-6, poucos dias após o acidente, a fim de recolher os pertences do tio e ficou surpreso com a resistência das autoridades coloniais britânicas em entregá-los.
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