Mal terminou o segundo dia de votação nas eleições presidenciais do Egito – o primeiro pleito livre na história do país –, e o grupo Irmandade Muçulmana anunciou que o candidato de seu partido, Mohammed Mursi, foi o mais votado no primeiro turno. Ainda não há dados oficiais, mas o movimento islâmico alega que levantamentos preliminares dão vantagem a Mursi, que era o quarto colocado segundo as últimas pesquisas de opinião.
Efe
Dirigente da legenda ligada à Irmandade Muçulmana mostra otimismo em entrevista coletiva sobre resultado eleitoral
Em entrevista coletiva, o vice-presidente do Partido Liberdade e Justiça – braço político da Irmandade -, Essam el-Erian, explicou que o resultado nos mais de 200 colégios onde já terminou a contagem dos votos indica vitória de Mursi. O PLJ foi o grande vencedor das eleições legislativas realizadas em dezembro.
O coordenador da campanha de Mursi, Salah Abdel Maqsud, lembrou que os dados divulgados até agora são provisórios, pois há mais de 13 mil colégios eleitorais em todo o país, mas destacou que tudo indica que Mursi passará ao segundo turno, que, se necessário, será realizado nos dias 16 e 17 de junho. As informações são da agência Efe.
NULL
NULL
Abdel Maqsud destacou que as eleições transcorreram em um ambiente tranquilo e sem incidentes significativos.
A expectativa é que os resultados oficiais só sejam divulgados na próxima terça-feira, mas a Irmandade Muçulmana já avisou que irá divulgar seus dados conforme vá recebendo de sua ampla rede de delegados nos colégios de todo o país.
Em declarações à imprensa, um dos principais dirigentes da Irmandade, Mohammed Beltagui, comentou sobre a possibilidade de o general reformado Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, disputar o segundo turno com Mursi, o que a transformaria “em um plebiscito sobre a revolução”.
“Se Shafiq chegar ao segundo turno, será como se os egípcios fossem perguntados se estão com a revolução ou se se arrependem e preferem voltar ao antigo regime”, disse.
As históricas eleições presidenciais que começaram na quinta-feira no Egito se realizam 15 meses depois da revolução que conseguiu acabar com 30 anos de mandato autoritário de Mubarak.
Conheça os principais candidatos na eleição egípcia:
Feloul (antigo governo)
Amr Moussa
Amr Moussa foi secretário-geral da Liga Árabe e ministro de Relações Exteriores do Egito durante 10 anos, mas agora tenta se distanciar da imagem de ex-aliado de Mubarak e se apresenta como “um liberal que acredita na justiça social”.
Moussa diz que sua prioridade como presidente será “colocar o Egito no caminho certo”, além de reformar os três poderes do Estado. É um dos favoritos na corrida presidencial. “Uma economia livre é o melhor sistema econômico, desde que haja também justiça social”, afirma Moussa. “Pequenas e médias empresas são a espinha dorsal da economia egípcia”, completa.
O candidato apóia o reconhecimento do Estado de Israel e também a criação de um Estado Palestino.
Ahmed Shafiq
Ahmed Shafiq foi o último primeiro-ministro de Mubarak e sua candidatura provocou reações diversas entre a população. Muitos o associam ao antigo governo, mas seus defensores dizem que Shafiq sempre foi uma voz da oposição no governo de Mubarak. Sua campanha ressalta o fato de ter sido ministro da aviação civil durante nove anos, o qualificando assim como “o único candidato presidencial com uma bem-sucedida experiência administrativa”.
Os panfletos da campanha destacam que Shafiq é o “candidato de decisões revolucionárias” porque ele pediu que governadores regionais mudassem o nome das ruas do país e colocassem o nome de ativistas revolucionários mortos durante a primavera egípcia, além de ter congelado bens de figuras importantes do antigo governo. Shafiq é um dos favoritos neste primeiro turno.
Husam Khayrallah
Candidato do Partido da Paz Democrática. Sem chance reais de passar para o segundo turno, Khayrallah serviu o exército como pára-quedista e depois fez parte da Inteligência General durante quase 20 anos. Desconhecido para a maioria dos eleitores.
Abdallah al-Ashal
Abdallah al-Ashal é professor de Direito Internacional na Universidade Americana no Cairo e um ex-ministro adjunto das Relações Exteriores.
Também sem chances reais de passar ao segundo-turno, AL-Ashal diz que sua prioridade é “defender os interesses nacionais e proteger a revolução”.
Islamitas
Abdul Moneim Aboul Fotouh
Aboul Fotouh foi membro da Irmandade Muçulmana durante muito tempo, mas em maio de 2011 foi expulso do movimento ao anunciar que queria concorrer à presidência. Conhecido por suas ideias liberais, Fotouh apoiou as revoltas de janeiro de 2011 e pediu que o Ocidente não temesse um golpe islâmico.
No seu programa político, enumera quatro aspirações principais: promover a liberdade no Egito, fortalecer a educação e a pesquisa científica, abrir as portas para o investimento estrangeiro no país e promover o valor da justiça. Fotouh é um dos favoritos.
Mohammad Mursi
Mohammad Mursi é o líder do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana. Aparece nas pesquisas com menos de 10% das intenções de voto, mas analistas políticas afirmam que Mursi tem chances reais de passar ao segundo turno porque as pesquisas não refletem com exatidão as intenções de voto no Egito. A Irmandade Muçulmana ainda é o único movimento político conhecido em todo o país e este pode ser um diferencial nas urnas.
Muhammad Salim al-Awwa
Al-Awwa é um pensador islâmico, advogado, apoiado pelo partido centrista Al-Wasat. O candidato diz em sua plataforma que quer “ajudar os pobres a superarem a pobreza”. E apóia a liberdade irrestrita para as pequenas empresas, além da eliminação da burocracia governamental. Al-Awwa não tem chances de passar ao segundo-turno, segundo as pesquisas.
Independentes
Hamdin Sabbahi
Hamdin Sabbahi é o co-fundador do partido al-Karamah, que apóia a ideologia nacionalista do nasserismo. É conhecido por sua ferrenha oposição ao antigo governo, fortes posições anti-Israel e de apoio à questão palestina. Ele descreveu Israel como “um estado hostil expansionista, racista, que não quer a paz”. Alguns analistas afirmam que Sabbahi pode ser uma surpresa neste primeiro-turno.
Khalid Ali
É o mais jovem dos candidatos e um proeminente militante de esquerda. É advogado trabalhista e luta pela defesa dos direitos humanos. Sem chances reais de passar ao segundo turno, de acordo com as pesquisas.
Hisham al-Bastawisi
Hisham al-Bastawisi é retratado como um herói nacional do movimento de independência do poder judiciário. É conhecido pela oposição ao antigo regime durante as eleições parlamentares de 2005, marcadas por inúmeros casos de fraude, mas as chances de ir ao segundo-turno são nulas.
Abu al-Izz al-Hariri
Al-Hariri é membro do parlamento, socialista e ativista trabalhista. Em 1976, ele se tornou o mais jovem ministro do Egito. Foi preso cinco vezes na era Sadat por causa de seu ativismo trabalhista e sua oposição aos acordos de Camp David de 1978.
Hariri foi um dos membros fundadores do Partido da Aliança Socialista Popular, o primeiro partido de esquerda legalizado após a revolução do Egito, mas não tem chances de passar ao segundo-turno.
Mahmud Hussam
Hussam se formou na Academia de Polícia em 1958 e ocupou vários cargos policiais. Pesquisas indicam que não tem apoio popular.