A esquerda italiana já deu a largada para decidir quem vai desafiar o ex-premiê Silvio Berlusconi nas eleições parlamentárias, previstas para o segundo semestre de 2013. Da chamada esquerda “radical”, Nichi Vendola, líder do partido Esquerda, Ecologia e Liberdade (SEL, na sigla em italiano), se encontrou nesta quarta-feira (02/08) com Pierluigi Bersani, secretário do PD (Partido Democrático), único partido de oposição no Parlamento italiano, aparentemente para debater uma chapa com o intuito de reconstruir uma coalizão de centro-esquerda, o “Pólo da Esperança”.
Sinistra Ecologia Libertà/flickr
Nichi Vendola, do partido Esquerda Ecologia e Liberdade, diz que pretende criar uma alternativa à centro-esquerda na Itália
A movimentação de Vendola — governador da região da Puglia — com o PD foi interpretada como uma abertura também pela área mais conservadora da provável coalizão, a UDC (União dos Democratas-Cristãos e Democratas de Centro), nascida da velha Democracia Cristã. A UDC, que foi durante anos o eixo de moderação dos governos de Berlusconi, agora pretende representar os católicos de centro numa chapa de centro-esquerda.
Leia perfil do político italiano Nichi Vendola
Imediatamente após o encontro entre Vendola e Bersani surgiram críticas da outra “perna” da esquerda radical italiana, representada pelo partido IdV (Itália dos Valores), do ex-magistrado Antonio Di Pietro, que em 1992 foi um dos protagonistas do processo “Mani pulite” (mãos limpas), que investigou um enorme sistema de corrupção com tentáculos diretos na Democracia Cristã e no PSI (Partido Socialista Italiano).
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A negociação iniciada por Vendola, que em princípio pode confundir o eleitorado italiano, é na realidade uma tentativa dos principais líderes da centro-esquerda de sondar o terreno para as alianças. Vendola dá a entender que não seria contrário a uma chapa com o partido conservador, católico e em muitos casos homofóbico da UDC, desde que as diretrizes do SEL, de respeito aos direitos civis, trabalhistas e dos homossexuais, sejam respeitados.
Se era de esperar um acordo entre PD e SEL, que enquadrou militantes saídos da Refundação Comunista (próximos de Fausto Bertinoti) após a desmoralizante derrota da esquerda de 2008, as grandes novidades deste encontro parecem ser a abertura da plataforma à UDC, de centro-direita, e o afastamento da IdV de todo este processo. Recentemente, o líder da UDC, Piero Casini, considerou o casamento gay como uma “incivilidade”.
Homossexual declarado, Vendola negou a intenção de firmar a aliança com a UDC. Seu porta-voz, Nicola Fratoianni, disse que isso “não corresponde à realidade”. Pelo contrário: “A senadora Paola Binetti, da UDC, viu essa reunião como uma decisão de discriminar os católicos. É muito curioso que se fale isso em um país em que a política está sempre submetida à religião, enquanto homossexuais são espancadas na rua. Para sair da crise e salvar a Europa é necessário voltar a negociar os tratados e trabalhar para a redistribuição da riqueza e o crescimento, descontinuar o governo “técnico” de [Mario] Monti. A UDC está fora do campo da centro-esquerda”, disse Fratoianni.