Potências regionais e internacionais reconheceram oficialmente nesta quarta-feira (12/12) a coalizão de grupos opositores sírios como os representantes legítimos do país, informaram a agência Reuters e a rede Al Jazeera. A decisão foi expressa no documento final do encontro dos “Amigos da Síria” no Marrocos, que reuniu mais de cem governos, incluindo os Estados Unidos, a França, o Reino Unido e os países do Golfo.
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Segunda conferência dos “Amigos da Síria” em abril deste ano em Istambul, na Turquia
As autoridades internacionais também enviaram um recado para o presidente Bashar al Assad deixar o poder e abrir o caminho para o processo de transição política no país. De acordo com o texto divulgado pela Al Jazeera e pela Reuters, o governante, cuja família está no poder há 42 anos, já perdeu legitimidade entre o povo sírio.
As 130 delegações oficiais reunidas em Marrakesh se opõem ao regime sírio e discutiram saídas para o conflito no país, que já deixou pelo menos 40 mil mortos em 20 meses.
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Tendo em vista a situação de calamidade vivida em muitas áreas pela população do país, os participantes anunciaram a criação de um fundo de ajuda humanitária e pediram a contribuição financeira de estados e organizações. A ideia é que milhões de dólares sejam enviados para os locais mais afetados pelo conflito por meio de ativistas locais e recentes administrações civis sírias. Os organizadores apostam que essa é uma resposta efetiva ao desafio de entregar os produtos aos civis – dificuldade encontrada pela ONU no país.
Quanto à atuação da comunidade internacional no cenário da Síria, o documento final pede uma “resposta significativa e robusta” do Conselho de Segurança das Nações Unidas e faz ameaças ao governo de Assad caso faça uso de armas químicas – apesar da recente descoberta do serviço de inteligência norte-americano de que os oficiais sírios não estão preparando esse tipo de material.
As autoridades envolvidas devem encontrar dificuldades caso tentem cumprir com as resoluções acordadas. Embora o encontro conte com a presença de potências regionais e mundiais, não possui o apoio de Rússia, China e Irã, que permanecem como fortes aliados do presidente Assad. Por três vezes consecutivas, Moscou e Pequim vetaram resoluções no Conselho de Segurança que ameaçavam o regime sírio e ainda não deram sinais de mudança de posicionamento.
Apoio dos EUA
Nas vésperas da reunião dos “Amigos da Síria”, o presidente Barack Obama já havia anunciado que os EUA reconheceriam, formalmente, a CNFROS (Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução) como os representantes do país. Em entrevista na noite desta terça (11/12), o democrata disse apoiar a organização por ser um grupo aberto e representativo, incluindo diferentes etnias e religiões.
O passo sinaliza uma mudança no engajamento das autoridades norte-americanas com o conflito sírio. É a primeira vez que os EUA sinalizam apoiar, oficialmente, os grupos rebeldes que lutam contra Assad há mais de 20 meses no país. Em novembro deste ano, Obama chegou a reiterar sua solidariedade com a luta do povo sírio, mas negou reconhecer a CNFROS como um governo no exílio.
Agora, de acordo com suas declarações, a Casa Branca também irá identificar a CNFROS como os administradores legais das areas controladas pelos rebeldes na Síria. O presidente norte-americano lembrou, no entanto, que “com o reconhecimento vem também a responsabilidade”.
Anti-americanismo entre oposição síria
Horas antes da entrevista, a Casa Branca classificou um dos grupos da resistência síria, a Frente al-Nusra do Levante Popular, como uma organização terrorista com possíveis vínculos a Al Qaeda.
“Não estamos confortáveis com todos aqueles que estão participando na luta contra o presidente Assad na Síria”, afirmou Obama. “Existem algumas organizações que adotaram pautas extremistas e contra os Estados Unidos”.
A atitude, classificada por autoridades sírias como “a prova da hipocrisia norte-americana”, foi duramente criticada pelo líder da CNFROS que pediu para a Casa Branca reconsiderar sua classificação.
Muitos analistas acreditam que o crescente papel de grupos anti-americanos na insurgência síria pode ter motivado a mudança na política norte-americana. O reconhecimento pode sinalizar maior envolvimento da Casa Branca no conflito em uma tentativa de participar (ou controlar) o processo de transição política que se seguirá à queda de Assad de acordo com os seus próprios interesses na região.
Armas
Os “amigos da Síria” não se comprometeram, no entanto, a enviar armas para os opositores que lutam no país e nem se oferecerão apoio militar, como fizeram com a insurgência na Líbia em 2011. Na ocasião, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realizou bombardeios aéreos no país para ajudar na luta de opositores que tentavam derrubar o então presidente Muammar Kadafi.
Mas, especialistas e opositores notam que o apoio internacional não altera a equação militar interna na Síria. De acordo com os rebeldes, os países devem fornecer armamento para a luta ter sucesso.
Em novembro deste ano, o líder do Conselho Nacional Sírio, grupo que faz parte da coalizão, criticou a comunidade internacional pela falta de suporte e pediu o envio de material bélico. Enquanto os amigos de Assad “dão tudo ao regime, nós não ganhamos nada deles, com exceção de alguns discursos e incentivos”, disse o dissidente Geroge Sabra.
Liderança viável?
Restam, no entanto, muitas dúvidas sobre o papel desenvolvido pela CNFROS. Não está claro se a organização pode se tornar uma liderança viável no futuro nem se tem capacidade de influenciar os rebeldes que estão, atualmente, lutando no território sírio.