El Salvador, Paraguai, Peru, Estados Unidos, Honduras, Nicarágua, Guatemala. Estes foram somente alguns dos países para onde a oposição venezuelana viajou, nos últimos dias, em busca de apoio contra o governo de Nicolás Maduro, cuja legitimidade não é reconhecida pelo opositor Henrique Capriles e sua aliança. Derrotado na eleição presidencial do último dia 14 de abril, o ex-candidato não reconheceu os resultados e entrou com um recurso no TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) do país para impugnar o pleito.
Efe (06/05/2013)
Maduro participa de encontro com conselhos comunais. Ele criticou o que seria um chamado da oposição à intervenção estrangeira
O próprio Capriles anunciou que fará um giro internacional que incluiria a Colômbia. Na última semana, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, foi aos EUA, onde pediu que os prefeitos norte-americanos se pronunciassem contra a proclamação de Maduro como presidente da Venezuela. Após visitar Miami, o opositor pediu, em coletiva de imprensa, que os organismos internacionais demonstrem “solidariedade eficiente e preventiva”, pois, segundo ele, “não podem continuar indiferentes frente à situação de alto risco que ameaça a estabilidade” do país.
“Até quando vão esperar para ativar a Carta Democrática Interamericana?”, perguntou o prefeito caraquenho, afirmando que após o golpe contra o presidente hondurenho, em 2009, “os EUA saíram correndo para auxiliar o senhor [Manuel] Zelaya” e a OEA (Organização dos Estados Americanos) “foi diligente com o caso”. “Esperamos que sejam com a Venezuela”, incitou.
Após as declarações, Maduro qualificou Ledezma como “traidor da pátria”, pelo pedido de intervenção internacional na política interna do país. Ele também ressaltou que a manobra da oposição venezuelana é, em sua opinião, patrocinada pelos norte-americanos. “Não resta dúvida que o próprio [presidente dos EUA Barack] Obama, como fantoche desse poder imperial, é que está por trás do financiamento, em dólares, da direção dessa direita que quer destruir a democracia venezuelana”, afirmou o presidente.
O senador paraguaio Carlos Filizzola, integrante do partido Frente Guasú, de Fernando Lugo, disse à Prensa Latina que a campanha liderada por Capriles, que segundo ele aponta a manter um clima de violência e desestabilização na Venezuela, é repudiável. O legislador rechaçou a visita dos opositores venezuelanos a seu país e afirmou que os congressistas de esquerda não aceitaram participar das reuniões.
Maduro repudia tentativa da oposição venezuelana de deslegitimar seu governo:
“Continuaremos levando todos estes casos pela América Latina, mas principalmente aos países membros da Unasul [União de Nações Sul-americanas], para que saibam a verdade do que está acontecendo na Venezuela”, expressou o dirigente opositor Leopoldo López. Segundo ele, o governo de Nicolás Maduro desempenha uma política de “perseguição e amedrontamento e tentou calar as vozes de protesto pacífico e democrático no país pela força de uma legitimidade da qual carece”.
As primeiras visitas dos opositores para gerar eco e rechaço internacional sobre o que dizem ser “falta de diálogo”, “crise política” e “fraude eleitoral” no país já surtiu seus primeiros efeitos. “No Peru conseguimos importantes apoios, como o do chanceler, que disse que pediria um pronunciamento da Unasul para o diálogo e o entendimento”, escreveu López em sua conta de Twitter, nesta segunda-feira, sobre o ministro peruano das Relações Exteriores Rafael Roncagliolo.
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Na última sexta, o chanceler disse que estava incentivando a publicação de um comunicado do organismo no qual se solicitaria ao governo venezuelano “tolerância e diálogo”. A afirmação do peruano não foi bem recebida por Maduro, que pediu que ele não interferisse nos assuntos internos de seu país, e disse que chamaria seu embaixador no país para consulta. No sábado, Maduro afirmou que a declaração foi esclarecida pelo governo peruano e que o ocorrido era “página virada”.
O imbróglio, no entanto, já havia sido instalado. A oposição venezuelana se reuniu com deputados opositores em Lima para articular um rompimento com Caracas. Encabeçados pelo Partido Aprista – do ex-presidente Alan García -, o conservador Partido Popular Cristão e o Partido Peru Possível formaram uma aliança de apoio à oposição venezuelana e aproveitaram as declarações de Maduro para pressionar o presidente Ollanta Humala a assumir uma posição de rechaço ao chefe de Estado venezuelano. O primeiro passo seria deslegitimar a vitória de Maduro, reconhecida pelos países latino-americanos, como o próprio Peru.
A vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso peruano, Lourdes Alcorta, chegou a chamar o presidente venezuelano de “fulano” e “orangotango que se apoderou do governo”. “Não há presidente na Venezuela”, disse a congressista, complementando que se Maduro quisesse retirar seu embaixador para consulta, deveria fazê-lo. “Pagamos a passagem de ida, sem retorno”, expressou.
Foi a Comissão de Alcorta que aprovou, nesta segunda-feira, uma moção que recomenda que o Executivo retire o embaixador peruano em Caracas, Luis Raygada, por ter criticado que o Congresso recebesse a visita da oposição venezuelana. “É muito ruim que políticos venezuelanos venham ao Peru para nos envolver em seus problemas. Pior que os políticos venezuelanos fiquem pendentes disso”, escreveu Raygada no Twitter. “Por que permitimos que políticos estrangeiros venham dizer ao presidente do Peru o que deve fazer?”, complementou.
Reprodução
A pressão da oposição contra Maduro amentou depois que o governo peruano manifestou o desejo de comprar, por meio da estatal petroleira, uma refinaria da rede multinacional Repsol. Em entrevista ao Página 12, o sociólogo e membro do Parlamento Andino, Alberto Adrianzén (FOTO), afirmou que a manobra dos opositores peruanos tem como objetivo “encurralar e deixar o presidente isolado” em suas propostas progressistas para a “manutenção do sistema neoliberal”.
Adrianzén acredita que existe uma tentativa dos movimentos de direita na América do Sul de aproveitar a ausência de Hugo Chávez, que cumpria um papel protagonista na unidade dos governos progressistas da região. “Hoje se ataca a Venezuela, depois virão outros ataques contra Argentina, Bolívia etc”, analisou.
Em El Salvador, país visitado pelo deputado da AD (Ação Democrática), Leomagno Flores – que também se dirigiu aos congressistas da Nicarágua, Guatemala e Honduras para “pedir solidariedade”– o FMLN (Frente Farabundo Marti para a Liberação Nacional) conseguiu frear, no legislativo de seu país, as moções impulsionadas pelo partido conservador Arena para repudiar as agressões “contra deputados opositores” na Assembleia Nacional venezuelana. Países da União Europeia também foram incluídos na campanha contra a legitimidade do governo de Maduro.
Cópia de agenda
Nesta semana, a agenda de encontros da oposição venezuelana coincide com os países que serão visitados pelo chefe de Estado venezuelano. Nesta terça-feira, o dirigente do partido Vontade Popular, Leopoldo López, e a deputada Nora Bracho, integrantes da aliança de Capriles, estarão ao Uruguai para explicar a “situação política” da Venezuela aos parlamentares do país. Na quarta-feira, os opositores irão à Argentina, onde também têm previstas reuniões no Congresso e partidos políticos.
Wikicommons
Na Argentina, o partido do prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, ferrenho opositor ao governo de Cristina Kirchner, já demonstrou apoio a Capriles antes mesmo da eleição de Maduro: os deputados do PRO (Proposta Republicana) Federico Pinedo e Gabriela Michetti anunciaram que viajariam à Venezuela para acompanhar a inscrição da candidatura do opositor contra o então presidente Hugo Chávez, no ano passado.
[Leopoldo López teve seus direitos políticos cassados por acusações de corrupção]
“É importante analisar o processo venezuelano, onde a oposição se uniu para colocar um limite a um governo que não respeita a lei, a constituição, nem os direitos das pessoas (…) não queremos que a Argentina siga o caminho da Venezuela de Chávez”, afirmou Pinedo na ocasião.
Na última sexta, o deputado Julian Obiglio, também da sigla macrista, apresentou três projetos de resolução à Câmara de deputados do país para rechaçar os atos de violência na Assembleia Nacional venezuelana, que atribuiu ao chavismo, pedir a suspensão da Venezuela do Mercosul e a reincorporação plena do Paraguai ao bloco. O país foi sancionado após o impeachment contra Fernando Lugo, decidido pelos parlamentares paraguaios em menos de 48 horas, em junho do ano passado.
“Não é possível que dentro do Mercosul um país como o Paraguai, que mantém os valores democráticos e deu um exemplo institucional, esteja suspenso, e a Venezuela, que viola sistematicamente todos os princípios que se devem respeitar em qualquer democracia, permaneça”, afirmou o legislador, que qualificou a gestão de Maduro como “regime totalitário”.
A oposição ao governo de José “Pepe” Mujica também se manifestou contra a visita de Maduro ao país. Em sua conta no Twitter, o deputado Jaime Trobo afirmou que a direção do Partido Nacional se reuniria nesta segunda-feira para emitir um pronunciamento sobre a visita. A deputada da sigla, Verónica Alonso, por sua vez, disse que com a visita o presidente venezuelano quer “comprar legitimidade e cumplicidade” de seu país. Representantes do Partido Colorado também se expressaram contra a visita.