Membros do exército colombiano são acusados de espionar os representantes do governo que fazem parte dos diálogos de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que atualmente acontecem em Havana. De acordo com a Revista Semana, que investiga o caso há 15 meses, um centro clandestino foi montado em Bogotá com esse objetivo.
Agência Efe
Nesta terça-feira (04/02), autoridades do governo exigiram explicações imediatas para esclarecer o acontecido. O ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón Bueno, pediu “que se investiguem a situação das supostas ‘espionagens’ aos negociadores em Havana”. Já o ministro do Interior, Aurelio Iragorri Valencia, assinalou que desconhece o caso, mas afirmou que a denúncia é muito grave e é preciso clarear mais o tema para determinar o que sucede de fato, em entrevista a uma radio local.
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Segundo a Revista Semana, a fachada do centro clandestino é um “restaurante modesto que vende almoços executivos” e, curiosamente, também oferece cursos de criação de web, segurança informática, além de publicações sobre como criar e detectar ataques na internet, espionar aplicativos de celular, entre outros. No entanto, os trabalhadores do local – como cozinheiros e garçons – desconhecem o que realmente acontece lá.
“Apesar da exótica combinação entre local para almoço e centro de ensino de informática, ali se esconde um segredo: por trás da fachada há uma central de intercepção do exército nacional”, crava o veículo, que optou por não revelar o nome comercial do estabelecimento para não comprometer a segurança da vizinhança.
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Conhecido como “Andrômeda” pelos militares, o centro clandestino seria liderado por um capitão cujo nome não é revelado pela revista. Ele pertenceria a um batalhão da inteligência técnica do exército, um dos braços da direção de inteligência militar do país, que em teoria, trabalharia para combater o terrorismo e as FARC.
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Além de militares, a fachada ilegal contaria com hackers civis nas tarefas, para que pudessem eventualmente negar qualquer vínculo com a instituição. “Alguns dos rapazes que trabalhavam lá foram recrutados em feiras de tecnologia. Outros são hackers conhecidos que tinham ajudado no passado”, afirma uma fonte ao veículo colombiano. “Um lugar onde se oferecem atividades relacionadas com hackers e informática era uma fachada perfeita”, completa.
Agência Efe
Entre as pessoas supostamente espionadas estão o chefe negociador do governo, Humberto de la Calle; o alto comissário de Paz, Sergio Jaramillo, e o diretor da Agência Colombiana para a Reintegração, Alejandro Eder, assim como líderes de esquerda. A maioria dos entrevistados pela Revista Semana afirmou desconhecer qual era o destino final de toda informação coletada, isto é, quem recebeu todo o material. Fontes do governo negaram conhecer o que estava acontecendo no centro.
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Em agosto do ano passado, o presidente Juan Manuel Santos anunciou que realizava negociações de paz com as FARC. De acordo com o veículo, a “Andrômeda” já estava em funcionamento desde setembro de 2012, oito dias depois de Santos confirmar a existência das discussões.
Apesar de não especificar quem é responsável pela operação, a revista sugere que o ex-presidente Alvaro Uribe pode ter alguma relação com o projeto.