O governo interino ucraniano estuda medidas para conter a corrida da população a bancos a fim de evitar um risco de falência iminente e equilibrar as contas do país. Durante a escalada de violência dos protestos semana passada – que culminaram com a destituição do presidente Viktor Yanukovich – os saques chegaram a até 30 bilhões de hrivnas (R$ 7,7 bilhões). Isso representa a retirada de 7% dos depósitos bancários, um desequilíbrio da economia da Ucrânia.
“Se muitas pessoas querem tirar ao mesmo tempo o seu dinheiro da conta bancária, todo o sistema bancário pode entrar em colapso”, declarou o presidente do Banco Nacional da Ucrânia, Stepan Kubiv, de acordo com o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
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Ucranianos fazem fila em caixas eletrônicos para guardar dinheiro na medida em que crise política se agrava no país
Mesmo a antiga liderança de Yanukovich já estava tomando medidas para equilibrar a economia do país, aumentando o rigor no controle do câmbio – algo semelhante com o que a Argentina fez recentemente. Há pouco mais de duas semanas, os cidadãos estavam autorizados a comprar moeda estrangeira para o equivalente a 50 mil hrivnas (cerca de R$ 12.800). Mas agora as reservas totais de câmbio estão a menos de US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões).
Rumo à falência
Durante um mês, a moeda ucraniana perdeu 16% do seu valor. Além disso, de acordo com dados do banco britânico Barclays, a Ucrânia teve uma dívida externa de cerca de US$ 59 bilhões (R$ 138 bilhões) em 2013. Nesse panorama, o risco de falência – segundo a agência de risco Standard & Poors – é bem concreta.
Aos olhos dos cidadãos, os gastos de Yanukovich seriam um dos fatores da potencial falência ucraniana. Segundo a Reuters, a Ucrânia vai entrar em contato com organizações internacionais para rastrear contas bancárias e bens controlados pelo ex-líder e seus aliados. O procurador-geral, Oleh Makhnytsky, acusa o presidente deposto de roubar “não milhões, mas bilhões”.
No entanto, para Kubiv, a moeda do país deve se fortalecer na medida em que “um novo governo se forma, anunciando um claro programa de estabilização e com o auxílio de doadores internacionais”. Segundo o presidente do banco central ucraniano, a instituição “planeja oferecer ‘empréstimos de estabilização’ para cinco bancos”, disse à Bloomberg.
Efe
Manifestantes pró-Rússia e pró-UE se confrontam nesta quarta; crise política atingiu dimensão econômica
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Auxílio estrangeiro
Para balancear as contas, o governo de transição estimou a necessidade de assistência financeira de US$ 35 bilhões (R$ 82 bilhões) nos próximos dois anos. O FMI (Fundo Monetário Internacional) deve enviar uma equipe para a Ucrânia assim que o país procurar ajuda financeira. “Estamos prontos para participar se eles pedirem auxílio”, afirmou a presidente, Christine Lagarde. “Claramente, é bem provável que isso aconteça”, completou, segundo a Bloomberg.
Apesar das dificuldades em se negociar com um governo provisório, outros doadores internacionais potenciais são a Rússia, União Europeia e EUA. No primeiro caso, Moscou ofereceu em dezembro um apoio financeiro de US$ 15 bilhões (R$ 35 bilhões), mas até agora só entregou US$ 3 bilhões (R$ 7 bilhões) e a situação dos dois países agravou-se nesta quarta, quando Putin colocou tropas no oeste e no centro do país em estado de alerta.
Já os europeus chegaram a apoiar inicialmente a revolta da população ucraniana e já haviam proposto, junto aos EUA, um pacote de auxílio financeiro no início de fevereiro. Contudo, na medida em que as manifestações ganharam uma dimensão violenta, autoridades europeias condenaram as atitudes de Yanukovich e constantemente ameaçaram impor sanções ao país. Agora, o presidente interino da Ucrânia, Aleksandr Turchinov, pediu – além dos US$ 35 bilhões – que Catherine Ashton, chefe de políticas estrangeiras da UE, realize uma conferência internacional de doadores.
Nesta quarta-feira (26/02), o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou que os Estados Unidos também planejam conceder uma garantia de crédito de US$ 1 bilhão à Ucrânia.