Na primeira entrevista à imprensa britânica desde o início dos diálogos de paz em Cuba, publicada nesta quarta-feira (30/07) no jornal The Guardian, líderes da FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) afirmam que o processo pode falhar se o governo colombiano acreditar que poderá render a guerrilha e se recusar a garantir direitos e segurança da oposição, continuando a matar comandantes do grupo.
Em andamento desde 2012 em Havana, os diálogos de paz entre a comissão do chefe de Estado reeleito em junho, Juan Manuel Santos, e líderes das FARC já chegaram a uma série de acordos para colocar fim no conflito que já se arrasta há mais de 50 anos no país. No entanto, ainda há determinadas questões mal resolvidas a serem postas em xeque.
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“Nós estamos comprometidos com a paz e mostramos isso por meio de diversos gestos, incluindo três cessar-fogo unilaterais. Nós não queremos revolução na mesa de negociação, mas paz e justiça social. Nós somos a resposta ao conflito, não sua causa”, justifica Calarcá.
Um cessar-fogo bilateral, contudo, ainda está “fora de questão” para a alta-comissária de paz do governo, Juanita Goebertus Estrada. Segundo ela, a polícia e o Exército colombiano “ainda precisa proteger a sociedade civil de muitas ameaças”.
“Não seremos nós que vamos romper com os diálogos, mas eles [governo] estão brincando com fogo quando eles eliminam nossos líderes com bombas”, rebate o porta-voz das FARC. “Isso pode fazer com que nós deixemos a mesa de discussão, porque deixa claro que eles não têm vontade política para atingir um acordo”, acusa.
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Nesta semana, Santos usou o mesmo termo “brincar com fogo”, ao culpar as FARC por um ataque em uma torre de eletricidade em Buenaventura, que deixou centenas de milhares sem energia. O presidente ainda ameaçou acabar com os diálogos de paz – sua principal bandeira durante a corrida eleitoral deste ano – se a guerrilha continuasse mirando civis como alvos.
Efe
Perguntado se as FARC aceitariam que algum membro da guerrilha fosse à prisão como resultado dos acordos de paz, Calarcá respondeu que “nenhum processo de diálogo de paz no mundo terminou com pessoas de ambas as partes na prisão”.
Histórico do conflito
Em 27 de maio de 1964, um ataque do Exército colombiano contra a região de Marquetália, onde camponeses armados desenvolviam uma zona independente do Estado, marca a criação das FARC. Até o momento, dos cinco temas presentes na agenda de paz, foram alcançados pré-acordos em quatro: desenvolvimento rural e posse da terra; participação política; desmobilização e drogas ilícitas.
A nova rodada de negociações foi reiniciada no dia 15 de julho e apresenta como tema principal a questão das vítimas do conflito, um dos assuntos mais complexos já tratados pela comissão negociadora. Para a imprensa colombiana, trata-se de um momento “crucial” para a continuidade do processo de paz por envolver 6,4 milhões de pessoas vítimas de diferentes tipos de crimes.