A véspera de natal foi de tensão e mais protestos nos Estados Unidos, após a morte de outro jovem negro por um policial branco, desta vez em Berkeley, cidade próxima a Ferguson — palco do caso Michael Brown, rapaz negro alvejado pela polícia em agosto e cuja morte deu início a uma série de manifestações país afora. Supostamente armado no momento do incidente, o jovem de 18 anos identificado como Antonio Martin, foi morto na noite terça (23/12) em um posto de gasolina.
Agência Efe
Policiais de Berkeley formam cordão de segurança em posto de gasolina onde o jovem negro Antonio Martin foi morto
O prefeito de Berkeley, Theodore Hoskins, anunciou uma investigação para esclarecer o incidente, ao mesmo tempo em que enfatizou que este caso não é comparável com o de Ferguson e pediu que as pessoas evitem “tirar conclusões precipitadas” que possam provocar mais distúrbios. Hoskins destacou que Berkeley é uma cidade na qual 85% da população é negra, assim como a maioria de seus funcionários, ao contrário do que acontece em Ferguson.
“O prefeito é negro”, enfatizou, assim como o chefe do departamento de polícia, motivo pelo qual assegurou que há uma sensibilidade diferente em relação a este tipo de caso.
“Nossa experiência é diferente à da cidade de Ferguson”, afirmou, ao mesmo tempo em que pediu aos cidadãos para respeitar a propriedade privada.
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A manifestação provocou algumas horas de tensão nas imediações do posto de gasolina, aonde chegaram para protestar cerca de 200 pessoas, segundo meios de comunicação locais, que enfrentaram a polícia e lançaram material pirotécnico.
Os enfrentamentos acabaram ao amanhecer com um saldo de quatro detidos e dois policiais feridos. Há relatos de que tiros foram disparados durante o episódio.
Caso Antonio Martin
Segundo a versão policial, o agente estava realizando uma patrulha rotineira quando parou no posto de gasolina Mobile Gas, desceu do veículo e se aproximou de dois indivíduos, um dos quais lhe apontou uma arma.
“Temendo por sua vida, o oficial realizou vários disparos contra o sujeito e lhe feriu mortalmente”, indicou em comunicado o departamento de polícia do Condado de St. Louis, que indicou que a outra pessoa fugiu.
Agência Efe
Imagem da câmera de segurança mostra policiais (acima à esq.) interrogando duas pessoas, momentos antes da morte de Martin
As câmeras do posto de gasolina registraram o fato e a polícia recuperou no local a arma que Martin supostamente apontou para o agente, embora aparentemente não tenha efetuado nenhum disparo.
O chefe do departamento de polícia de St. Louis, Jon Belmar, disse entender as “emoções” causadas por essa morte, mas destacou a presença da arma como uma ameaça para a vida do agente. Belmar informou que o policial, cujo nome não foi revelado, tem 34 anos, com seis de experiência na instituição. Em relação ao falecido, assinalou que tinha antecedentes e já havia sido detido por roubo à mão armada.
Por sua vez, o pai do jovem, Jerome Green, afirmou à emissora CNN que seu filho disse que sairia para se encontrar a namorada e não mencionou que fosse ver nenhuma outra pessoa.
O governador do Missouri, Jay Nixon — duramente criticado pela gestão durante a crise do caso Ferguson —, ressaltou em comunicado que o caso de Berkeley “lembra que os agentes desempenham um trabalho difícil e, às vezes perigoso, protegendo aos cidadãos e a si mesmos”.
Impunidade no caso Ferguson
Os protestos em Ferguson voltaram a ganhar força no mês passado depois que um júri decidiu não acusar o policial Darren Wilson pela morte de Brown, o que suscitou a indignação da sociedade pela resposta desproporcional contra o jovem que, segundo testemunhas, levantou as mãos em alto em sinal de rendição.
A indignação se estendeu a outras cantos do país, onde ocorreram casos similares, como em Nova York, onde outro negro, Eric Garner, vendedor ambulante, morreu em decorrência de uma chave de braço não autorizada aplicada por um policial quando tentava detê-lo.
Apesar dos gritos desesperados de Garner dizendo que não podia respirar, o policial não interrompeu a ação e, mesmo assim, também foi inocentado por um grande júri.
O ambiente se crispou ainda mais no fim de semana passado quando um rapaz negro de 28 anos, que tinha antecipado nas redes sociais que pensava em cometer um ataque como vingança pela morte de Garner e Brown, matou a tiros dois policiais em Nova York.
(*) Com informações da Agência Efe