O capitão do barco que naufragou com cerca de 850 imigrantes no Canal da Sicília no último domingo (19/04), o tunisiano Mohammed Alì Malek, será acusado de sequestro de pessoas, como informou a Promotoria de Catânia nesta quarta-feira (22/04). Isso porque, de acordo com sobreviventes, todos os que estavam no andar inferior e no porão foram fechados com chave, o que os impossibilitou de fugir quando o barco naufragou.
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Agência Efe
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Além do sequestro, Malek também é acusado de homicídio culposo múltiplo, naufrágio e instigação à imigração clandestina. Ele é apontado como sendo o responsável por levar os imigrantes para o litoral italiano, como denunciaram os sobreviventes da tragédia. Ele foi preso junto com o sírio Mahmoud Bikhit. O juiz instrutor tem 48 horas para interrogar os detidos e decidir se confirma a detenção, acrescenta o comunicado.
Trata-se da maior tragédia na região desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Diante da gravidade do cenário, o primeiro ministro italiano, Matteo Renzi, pediu, em sua intervenção no Parlamento italiano nesta quarta, que a União Europeia elabore uma “estratégia política” para enfrentar a imigração de indivíduos não documentadas e combater o tráfico de pessoas no Mediterrâneo.
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Para discutir a questão, será realizada uma cúpula extraordinária com líderes europeus nesta quinta-feira (23/04) em Bruxelas. Eles debaterão um plano para responder a crise migratória, que inclui a implementação de uma operação militar para capturar e destruir embarcações dos traficantes de seres humanos, a análise de um projeto de acolhida de refugiados e um mecanismo de emergência para distribuir o esforço entre os Estados membros da UE.
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Neste sentido, Renzi pontuou que “a falta de soluções está asfixiando uma geração que arisca sua vida. As reações emotivas não bastam, como não serve um resumo técnico de decisões ou compromissos”, disse o premiê, cobrando ajuda efetiva dos demais países europeus.
O premiê também declarou guerra ao tráfico de pessoas. “Os traficantes de seres humanos são os senhores de escravo do século 21 e devem ser levados à Justiça”, criticou.
A Itália, que serve de porta de entrada para imigrantes africanos, afirma que o fluxo migratório é causado pela crise política na Líbia, que gera milhares de refugiados. Devido à instabilidade local, traficantes se aproveitam para organizar cruzadas ao mar, disse o chefe de governo italiano.
Para a ONU, além da instabilidade na Líbia, é preciso que a Europa acolha cerca de um milhão de refugiados sírios nos próximos cinco anos para reduzir o número de naufrágios no Mar Mediterrâneo.
Somente em 2014, 170 mil pessoas ingressaram no velho continente e 3.279 pessoas morreram no Mediterrâneo tentando entrar na Europa. Por esta razão, a ONU declarou que a Europa está convertendo a região em um “grande cemitério”.