Em editorial publicado na quarta-feira (31/08), o jornal britânico The Guardian critica as elites brasileiras e afirma que a queda de Dilma Rousseff, destituída pelo Senado na tarde de ontem, representa a mudança do cenário político global e não irá “curar todos os males” do Brasil.
“O impeachment de Dilma Rousseff não é apenas a história de uma mulher”, começa o editorial. “É também a história de uma nação (…) E é igualmente a história da atual mudança do cenário global, no qual poderes que apenas anos atrás eram celebrados como ‘emergentes’ e propensos a reformular o mundo se encontram confrontados pelas dificuldades enraizadas em quedas econômicas e governos falhos”.
The Guardian
Em editorial, Guardian diz que saída de Dilma não irá curar todos os males do Brasil
O texto retomou os acontecimentos no Senado na tarde de ontem, quando 61 dos 81 legisladores votaram pela saída da presidente eleita. O jornal tratou também dos discursos de Dilma durante o processo e das acusações por parte dela de que o impeachment teria sido, na verdade um golpe — termo rejeitado por seus opositores.
“É difícil não ver um grau de injustiça nesta bruta queda: Rousseff nunca foi acusada de pessoalmente se beneficiar de corrupção, diferentemente de dezenas de oficiais e políticos brasileiros — muitos dos quais votaram por sua saída. O fato de que a crise chegou neste momento catártico diz, talvez, tanto sobre uma democracia ‘em evolução’ quanto sobre o cinismo por parte de suas elites”, afirma o veículo britânico.
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O Guardian afirma ainda que a oposição ao PT (Partido dos Trabalhadores), ao qual pertence Dilma, se aproveitou dos problemas enfrentados pelo partido com a crise econômica e aumentos das “tensões sociais”. “Mas dizer que as forças brasileiras de direita emergiram parecendo ‘mais limpas’ do que o governo em um momento em que acordos financeiros e esquemas políticos foram revelados seria forçar a imaginação”, diz o editorial.
“Muitos dos que estão felizes com a saída de Dilma são pessoas que esperam que, com o resultado, elas sejam poupadas da atenção de juízes que combatem a corrupção”, pondera a publicação.
Para o jornal, a crise política enfrentada pelo Brasil se assemelha àquelas enfrentadas por outros países “em desenvolvimento”, como África do Sul e China.
Agência Efe
The Guardian se pergunta se Temer será capaz de restaurar confiança da população nos políticos e lidar com desafios do país
“Nada disso, [porém], pode ser consolo para Rousseff, nem irá apagar os erros que ela cometeu como líder. Mas, colocar todos os males do Brasil sobre uma mulher, ou achar que eles irão desaparecer com apenas um voto, seria tanto simplista quanto hipócrita”.
Analisando o cenário pós-impeachment, o Guardian diz que o Brasil se tornou uma “nação altamente polarizada”, cujos cidadãos estão “profundamente divididos”, mas querem uma classe política que “restaure a confiança pública” e consiga lidar com os desafios do país.
“Se o novo presidente Michel Temer — que liderou os ataques contra Dilma — poderá atender essas expectativas é a próxima assustadora questão”, afirmou.