Virou moda, na imprensa burguesa, elogiar o desempenho econômico dos países latino-americanos alinhados aos Estados Unidos, em contraste com os problemas dos governos que buscam uma integração regional autônoma, como o Brasil. Os índices de crescimento no campo da Aliança do Pacífico são apontados como sinal do fracasso do Mercosul e da Unasul. Vejamos qual é a realidade do “lado de lá”.
Leia também:
Aliança do Pacífico é tentativa dos EUA de dividir América do Sul, afirma Evo Morales
No Chile, o candidato governista à eleição presidencial, Pablo Longueira, desistiu da disputa alegando depressão, enquanto sua rival de centro-esquerda, Michelle Bachelet, dispara com mais de 60% das preferências. Os estudantes voltaram às ruas, exigindo o ensino gratuito e expressando o descontentamento dos chilenos com o modelo neoliberal, baseado no corte de direitos sociais e na concentração da riqueza.
NULL
NULL
Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos enfrenta uma onda de mobilizações populares sem precedentes. Os protestos incluem greves de mineiros, bloqueios de estradas e uma rebelião dos camponeses que resistem às forças militares enviadas para expulsá-los das terras onde plantam coca, único cultivo capaz de viabilizar sua sobrevivência diante da destruição da agricultura familiar pelas importações baratas dos EUA.
Agência Efe (01/12/12)
O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, entusiasta do livre comércio
As taxas elevadas de crescimento econômico da Colômbia – fruto da pilhagem dos recursos naturais pelas empresas transnacionais de mineração – contrastam com o aumento da pobreza rural e com o brutal agravamento da concentração de renda. A Colômbia é o país mais desigual da América do Sul e o desemprego, o mais alto da América Latina, atinge 10,3%, o dobro do existente no Brasil.
Leia também:
Aliança do Pacífico não tem relevância econômica, diz Marco Aurélio Garcia
No México, a violência ligada ao narcotráfico já provocou 60 mil mortes em sete anos e transformou o norte do país num cenário de bang-bang, em meio à impotência do governo central e à corrupção das autoridades. A economia mexicana, devastada pelo acordo de livre-comércio com os EUA, ficou em recessão por mais de uma década e só voltou a crescer devido ao retorno das maquiladoras, atraídas pelos salários aviltantes, ainda mais baixos do que se paga na China, para onde aquelas empresas haviam se transferido.
Mais de 60% da população ativa no México está na economia informal e 11 mil crianças morrem de desnutrição todos os anos. Esse é o modelo que querem nos vender.
(*) Igor Fuser é professor do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC. Texto original no Brasil de Fato.