As últimas pesquisas de intenção de voto publicadas no Panamá mostram um cenário imprevisível, mas pouco deve mudar, independente do candidato vencedor. Na dianteira está o empresário do setor têxtil José Domingo Arias, do partido Mudança Democrática (CD), que se apresenta como “a força do novo”, mas reivindica a continuidade da atual gestão.
Divulgação/ Facebook
Candidatura de Arias sofreu revés na reta final com as diversas denúncias contra Martinelli, seu padrinho político
Ex-vice-ministro de Comércio exterior e ex-ministro de habitação, tem como vice-presidente em sua chapa a atual primeira-dama, Marta Linares Martinelli, e é acusado de ser uma “marionete” do presidente para possibilitar sua “reeleição disfarçada”. Apesar da proximidade com os demais concorrentes nas pesquisas de opinião, foi considerado durante toda a campanha como favorito a vencer o pleito. Seu programa destaca a continuidade e a melhoria de projetos realizados pelo atual presidente e ressalta a necessidade de investir em programas sociais.
Juan Carlos Navarro é candidato pelo maior coletivo de oposição, o Partido Revolucionário Democrático, do general Omar Torrijos, que nas décadas de 1970/80 liderou o movimento pela retomada do controle do Canal do Panamá, mas representa a ala conservadora do partido. Navarro foi prefeito do distrito do Panamá, capital e maior cidade do país, por dois mandatos, entre 1999 e 2009. Seu programa de governo se baseia em seis pontos: redução do preço da cesta básica, segurança cidadã, redução da pobreza, economia humanizada, defesa da democracia e educação de primeiro mundo.
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Já o atual vice-presidente e ex-ministro de Relações Exteriores, Juan Carlos Varela, do partido Panameñista, era parte da coalizão de apoio ao atual presidente Ricardo Martinelli, mas rompeu com o mandatário por divergências políticas. Desde então, ambos têm protagonizado acusações mútuas na mídia panamenha.
“Realizaremos auditorias profundas de todos os gastos e obras do governo” afirmou. Ele também defende uma reformulação da política externa e a reaproximação dos demais países latino-americanos. Suas áreas prioritárias são quatro: reduzir o custo de vida, investir em segurança, dotar o país com 100% de cobertura de água e eliminar a corrupção e o clientelismo.
Martinelli
As eleições deste domingo serão marcadas pela forte presença do presidente, a quem acusam de querer se perpetuar no poder através das figuras de seu ex-ministro Arias e de sua esposa. Martinelli governou durante expressivo crescimento econômico e protagonizou um forte alinhamento aos Estados Unidos, fato que se evidenciou durante a crise política na Venezuela. Na ocasião, pediu uma reunião extraordinária com os chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) para debater a situação do país governado por Nicolás Maduro e cedeu sua cadeira para que a ex-deputada venezuelana Maria Corina Machado discursasse a respeito da “realidade política” venezuelana, o que rendeu à ela a cassação do mandato.
O posicionamento do Panamá revelou seu isolamento do restante da América Latina, que apoiou Maduro e rechaçou a intervenção da OEA no caso, cuja crise foi mediada pela Unasul (União das Nações Sul-Americanas), afastando a influência de Washington da região.
O presidente é acusado de querer burlar a Constituição para permanecer no poder, uma vez que a reeleição é proibida. A Carta Magna proíbe a postulação de parentes do presidente até o quarto grau de consanguinidade e segundo de afinidade, por isso a candidatura de sua esposa está sendo debatida na Corte Suprema de Justiça. Contra ele há também uma série de denúncias de corrupção e de desrespeito às instituições do país.
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A jornalista Mary Anastasia O'grady, em artigo publicado no Wall Street Journal, repercutiu a denúncia feita pelo presidente do tribunal eleitoral, “uma das últimas instituições independentes que restam no país”, de que o partido Cambio Democrático obteve acesso a informação pessoal e confidencial dos cidadãos em poder da autoridade eleitoral e que o material estaria sendo utilizado na campanha eleitoral.
Em entrevista ao semanário Universidad da Costa Rica, o intelectual panamenho autor do livro As esquerdas latino-americanas em tempos de criar, Nils Castro, disse que a burguesia, sobretudo o setor mais ilustrado, fará de tudo para que Martinelli não siga no poder.
A respeito do desfecho dessas eleições, no entanto, afirmou que “o duto está fechado para a esquerda; a água só terá saída para a direita. Há pessoas que votam pelas obras de Martinelli, mas para outros, o componente moral é importante na decisão do voto. Em todo caso, este trem não tem trilhos à esquerda”.
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