Dos clássicos (vinho), aos mais imponentes (kiwi ou balsâmico), acerto no vinagre para não fazer feio no protesto
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Como vinagre virou clichê nas manifestações contra o aumento das tarifas de transporte público em São Paulo, é hora de se diferenciar. Afinal, você não quer que seus amigos te vejam sendo preso com um produto básico, que todo mundo anda usando por aí, né? Resolvemos seu problema com um guia dos melhores modelos para serem usados no próximo ato, marcado para esta segunda-feira (17/6), às 17h, no Largo da Batata, zona oeste da capital.
Antes de definir qual tipo melhor se encaixa às suas necessidades, é preciso escolher o lugar da compra. Surpreende-se quem acha que mercadinhos de bairro estão por fora das novas tendências. Há uma boa variedade, embora, claro, produtos mais refinados costumem ficar de fora. A melhor pedida são os hipermercados, que oferecem opções para todos os gostos, ainda que empórios e até mesmo padarias um pouco melhor equipadas possam dar conta e oferecer produtos muito refinados.
A bibliografia disponível sobre o uso do vinagre não acumulou evidências sobre a cepa que melhor protege olhos e narinas. Então, se estiver apertado, não hesite em apelar ao vinagre de álcool, que sai por menos de R$ 2. Não é preciso ficar com complexo de gente comum: customize a embalagem usando canetas, cola e pedaços de tecido. Nesta etapa, vale tudo. Pode até combinar com as roupas — Gloria Kalil ensina em seu blog como mesclar tons e tendências para não ficar devendo no look do protesto —, fazendo uma garrafa no estilo da tribo urbana com a qual você se identifica.
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Se o orçamento estiver um pouco mais folgado, mas não o suficiente para ser chique, apele aos clássicos de vinho. O de vinho tinho tem notas ácidas, perfeitas para combinar com os tons obtidos pelo gás lacrimogêneo. Mas as notas doces do vinagre de vinho branco conferem status, sem dúvida, e demonstram bom gosto. Nos últimos anos multplicaram-se os produtos disponíveis usando o branco, e os preços vão de R$ 2,5 a R$ 15. Produzir em casa é a melhor saída para quem quer um produto ecologicamente correto: deixe o resto de vinho alguns dias fora da geladeira, e pronto, tem-se um resultado de qualidade.
Os vinagres de maçã, também com tons adocicados, têm a vantagem de que as sobras do protesto podem ser aproveitadas em receitas salgadas diversas. Com a salada de repolho, por exemplo, fica perfeito, e melhor se for acompanhada de um kebab — a região da Paulista tem várias casas árabes, ou seja, convença os amigos a levar o protesto para lá.
Quem gosta de desfrutar novos sabores pode provar o vinagre de kiwi, que, segundo o fabricante, destaca o sabor das frutas tradicionais, além de preservar aminoácidos, vitaminas, sais minerais e capacidade anti-oxidante — aqui, de novo, a bibliografia médica falha, e não responde se a interação gás lacrimogêneo-vinagre provoca efeitos positivos para a pele. Esta variedade cumpre ainda os princípios da sustentabilidade, produzida unicamente a partir de kiwis orgânicos. Este é outro daqueles que devem ser preservados após o fim da manifestação porque ajuda a eliminar toxinas e contribui para o equilíbrio do metabolismo, dois fatores fundamentais no day after.
Outra variedade com propriedades terapêuticas é o vinagre de mel. Se tiver tempo de comprar um artesanal, melhor, porque realça a característica de combate à hipertensão. Além do baixo valor calórico, importante se você não quer ficar para trás na hora da marcha, o produto combate os radicais livres, retardando o envelhecimento. A versão industrializada, embora de menor sabor, sai mais em conta, em torno de R$ 12, e pode ser utilizada para fazer uma calda de maracujá para acompanhar peixes de sabor forte, como salmão.
Finalmente é hora de falar do supra-sumo em termos de vinagre para manifestação. O balsâmico confere graça, estilo e um caráter diferenciado a quem o porta. Quer todo mundo te invejando? Vai de balsâmico. É bem verdade que a textura mais espessa pode cortar um pouco do efeito anti-gás, mas vale a pena, né? Você paga um pouquinho mais e tem um produto exclusivo, ou quase isso. Os nacionais não são ruins, mas nada se compara aos Di Modena, originais, com uvas produzidas nos ares vulcânicos. Se não está com dinheiro para pagar, escolha um restaurante de estilo, leve um potinho e vá em frente: o importante é ser feliz. A harmonização entre açúcar mascavo e balsâmico é um achado da cozinha contemporânea, fica perfeita na preparação de conservas e de pratos com batata e alecrim. A combinação com os aromas de gás lacrimogêneo nunca foi testada, até onde se sabe, mas sempre é tempo de descobrir novos sabores. Inove e impressione.
* Texto publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual
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