Em edição extraordinária do programa 20Minutos, o jornalista Breno Altman entrevistou nesta quarta-feira (10/03) o vereador no Rio de Janeiro Lindbergh Farias, que avaliou o cenário nacional após a restituição dos direitos políticos de Lula e da coletiva de imprensa dada pelo ex-presidente.
“O Lula está em seu melhor momento. Acho que ele aprendeu lições muito grandes do que viveu e agora é um cara muito mais à esquerda e consciente dos enfrentamentos que tem que fazer. Ele parece mais firme ideologicamente”, disse o também ex-senador pelo estado do Rio de Janeiro.
Para ele, a anulação das sentenças da 13a Vara Federal de Curitiba pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin “mudou tudo”. Farias acredita que, mais do que nunca, agora é o momento de “falar com o povo” e tentar chegar às camadas da população que em certo momento apoiaram a Operação Lava Jato, mas que, agora, estão questionando suas intenções.
“Estamos num momento muito dinâmico, em que as pessoas estão mudando muito de posição e vai abrir uma polarização muito grande entre Lula e Bolsonaro. De uma hora para outra recuperamos uma força muito grande e temos que aproveitar isso”, afirmou.
O vereador carioca reforçou a importância de organizar lutas este ano, pensando, também, na eleição de 2022. Apesar de que Lula, durante a coletiva desta quarta-feira, disse que não era hora de falar em candidaturas, mas de falar sobre um programa comum da esquerda e da situação do Brasil.
“Seria mesmo um erro pensar só na eleição e não botar o povo na rua”, concordou Farias. “Mas não dá para deixar de pensar em 2022. Na cabeça de todo o mundo estão as eleições porque agora sabemos que Lula pode ser candidato e isso está animando a população a resistir”, ponderou.
Segundo ele, justamente por acreditar que o ex-presidente seja uma candidatura forte diante de um cenário cada vez mais polarizado, é necessário pensar em uma frente de esquerda com PSOL, PCdoB e PSB. “O Ciro não. O Lula chamou a atitude dele de ‘meninice’ e falou muito bem”, disse.
Falando sobre a direita neoliberal, Farias pensa que ela agora se encontra numa posição “complicadíssima” por opinar que não conseguirá levar seu candidato ao segundo turno com o Bolsonaro, devido ao retorno do ex-presidente. “Mas a gente tem que manter o diálogo com eles para que, se o segundo turno for Lula contra Bolsonaro, votem na gente. Eles têm o direito de tentar construir a candidatura deles, mas se formos para o segundo turno, temos que convencê-los a não repetir o que fizeram em 2018, quando fecharam com Bolsonaro”, ressaltou.
‘A gente não tem mais o direito de errar’
O vereador carioca também falou sobre a possibilidade do retorno do PT à Presidência. “Não podemos ter mais ilusão com as elites e com seu caráter antidemocrático, sabendo que vão tentar desestabilizar a qualquer sinal de fraqueza. Não temos mais o direito de errar. Por isso temos que estar conectados com o povo”.
Para ele, uma das formas de estar conectado ao povo e de realizar um governo “verdadeiramente popular” seria por meio da convocação de uma Assembleia Constituinte, para “manter um estado de mobilização permanente”.
Farias também citou reformas estruturais como uma prioridade do PT caso vença as eleições de 2022: “Teremos que desfazer muita coisa que foi feita”, como recuperar a autonomia do Banco Central e reverter a entrega do pré-Sal.
“Não podemos ter mais aquele republicanismo ingênuo. Eventualmente fazendo alianças pontuais. O importante será reconstruir um projeto de investimento nacional, gerar empregos, inclusão social, aumentar o investimento na saúde pública, pensar numa transição ecológica e para isso vamos ter que mexer na Constituição, porque eles amarraram tudo. Engessa o presidente, ele vira quase que uma rainha da Inglaterra”, argumentou.