No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (04/10), o jornalista Breno Altman entrevistou o músico e escritor Rogério Skylab, que no ano passado publicou o livro Lulismo Selvagem (Kotter Editorial).
Sobre a obra, o autor disse que buscou “desconfiar da razão” para analisar o cenário e o destino político do Brasil, a partir das Jornadas de Junho de 2013, “sem uma perspectiva partidária”, até o bolsonarismo.
“O Lulismo é um fenômeno tropicalista, de confronto de forças. Quando Lula é eleito e monta seu primeiro ministério, ele pega forças de oposição e coloca todo mundo ali, levou todo o mundo para o Planalto. Nunca tinha visto isso na história do Brasil”, discorreu.
Abertamente petista, Skylab afirmou que, em contraposição, “a prática bolsonarista é ‘anti’ tudo isso, quer separar”. Ele classificou o governo de Jair Bolsonaro como “provavelmente o mais medíocre de nossa história”.
O músico se mostrou otimista com a possibilidade de que Lula vença as eleições de 2022 ainda no primeiro turno, pois vê o antilulismo se diluindo e o antibolsonarismo crescendo. Ele também falou sobre outros personagens do Partido dos Trabalhadores, como Fernando Haddad e a ex-presidente Dilma Rousseff: “Haddad é biscoito fino, é um luxo tê-lo no PT. E Dilma é gigantesca”.
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Músico e escritor fala de sua carreira, debate o papel do ex-presidente Lula e aposta em vitória petista no primeiro turno em 2022
Trajetória
Durante 28 anos, Skylab trabalhou no Banco do Brasil, o que ele revelou que lhe permitiu financiar sua discografia, principalmente por ser um músico do cenário alternativo, que não formava parte da indústria. Ele também estudou Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Apesar de não ter formado parte nem do movimento estudantil, nem do movimento sindical, Skylab disse que sempre esteve ligado à política. Naquela época, era brizolista e chegou a ir em vários comícios: “Tenho certeza que se Brizola estivesse vivo, estaria com Lula”. Mais do que isso, ele era crítico do PT naquele momento, pois via a legenda como “branca e universitária”, enquanto que o PDT “tinha o suor da comunidade”.
Suas visões e engajamento político chegaram a ser tema de várias canções suas, muitas “eram resultado do que testemunhei nos anos 80”.
Reinvenção
Skylab se considera um “músico tardio” pois seu primeiro álbum foi lançado quando ele tinha 28 anos. Com a internet, ele precisou se reinventar, mas em nenhum momento tomou isso como algo negativo: “Fiquei maravilhado com as possibilidades”.
Por isso, até hoje ele afirmou não recriminar o uso das redes sociais, mesmo diante de realidades como a das fake news, pois é por ali que tem contato “com textos interessantíssimos”. Atualmente, o artista disse ter todas as principais redes sociais e estar entrando no TikTok, apesar de não ter um celular próprio: “Quem tem celular é minha esposa, eu tenho notebook. Mas não ter celular não significa que eu seja desligado, só não consegui me adaptar”.
Com relação à música, a adaptação se mostrou mais complicada. Atualmente os artistas publicam “singles”, as faixas individuais dos álbuns. Para Skylab, os álbuns têm uma importância própria, da qual ele não abre mão.
“O álbum é como um livro, você está articulando alguma coisa ali. A primeira música ser a primeira, a última ser a última, tem um sentido nisso”, defendeu.
Por outro lado, apesar de valorizar o disco, ele confessou estar aberto a novas formas de divulgar sua música. Disse que aprendeu com uma fã que lançar o álbum inteiro dá menos visibilidade às canções do que lançá-las individualmente, então agora lança faixa por faixa, mas sem abrir mão do álbum, no final.
Segundo o artista, a esquerda deveria aprender com esse tipo de fenômeno, pois “fica presa no tempo”
“Falamos de ir para a rua, estamos ainda querendo distinguir rua e internet. Talvez a rua tenha uma ressonância diferente, mas não existe mais essa falsa oposição entre a rua e a internet. Claro que tem que ir para a rua, mas essa é uma falsa oposição”, declarou.