(*) Publicação atualizada em 27 de abril de 2022.
Nascido no dia 22 de janeiro de 1891, o revolucionário italiano tinha 46 anos quando uma hemorragia cerebral o levaria à morte, depois de ter passado quase uma década em prisões fascistas.
Deixou formidável obra política e teórica, grande parte escrita na cadeia.
Muito dessa elaboração teve como eixo o conceito de hegemonia, concebida como o caminho pelo qual a classe operária e seu partido poderiam formar maioria política e social em um longo processo de acumulação de forças, dentro e fora das instituições.
Gramsci considerava que as “condições russas” não poderiam se repetir nas sociedades capitalistas mais desenvolvidas: a emergência de uma situação disruptiva, provocada pela falência do Estado burguês, na qual a ação da vanguarda proletária poderia ser suficiente para a tomada do poder.
Fortemente inspirado pelas ideias de Lenin, o chefe dos comunistas italianos não contrapunha hegemonia à revolução. Ao contrário: considerava essa formulação uma estratégia que prepararia os trabalhadores para o choque frontal contra a burguesia, mas reunindo as melhores possibilidades de isolar as classes dominantes dos extratos médios, de dividir os aparatos repressivos do Estado e de ampliar a legitimidade da transferência do poder ao proletariado.
A partir de Palmito Togliatti, seu sucessor na direção do Partido Comunista Italiano, e essencialmente durante o eurocomunismo, desde o final dos anos 60, Gramsci foi sendo despido de sua lógica leninista, com a separação entre as ideias de hegemonia e revolução.
Nascia um outro Gramsci, que só existiu depois de sua morte, transmutado pelo oportunismo político em um social-democrata de esquerda, que defenderia a perspectiva do capitalismo ser superado pela ampliação infinita da hegemonia, por um processo de reformas ilimitadas, até que o Estado burguês deixasse de existir por desidratação.
Essa leitura deformada do combatente sardo deu no que deu: aqueles que a abraçaram ou terminaram liquidados pela contrarrevolução burguesa, pois não prepararam as massas e os partidos que dirigiam para o momento do enfrentamento direto contra a burguesia e seu Estado, a exemplo do que ocorreu no Chile de Salvador Allende (1970-1973), ou foram caminhando de capitulação em capitulação, para evitar esse enfrentamento, até se transformarem em correntes adaptadas ao capitalismo e confinadas a seus limites.
Esses destinos tristes ou sórdidos, no entanto, em nada mancham a impressionante contribuição de Gramsci à revolução mundial, em termos teóricos ou práticos.
Sua obra permanece viva, a ser estudada sempre com rigor e inspiração.