Rafael Piñeda é mais uma vítima da criminalidade no norte do México. Nascido do estado de Chihuahua, ele se mudou para a Cidade do México com a família no final de 2009, após abandonar uma pequena confecção em Ciudad Juárez – uma das cidades mais violentas do mundo. “Antes dos assassinatos, Juárez era a cidade das fábricas têxteis, que começaram a crescer em meados da década de 1990. Hoje é local de maior enfrentamento entre cartéis do narcotráfico e o exército. No decorrer do ano, foram mais de 530 mortos”, relata o pequeno empresário ao Opera Mundi.
A violência em Juárez, alimentada pelo narcotráfico, matou pelo menos cinco mil pessoas nos últimos dois anos, segundo dados oficiais.
Luis Hinojos/Efe (23/03/2010)
Familiares choram após a morte de duas pessoas durante tiroteio em Juárez
“Precisei escolher se continuaria lá ou salvaria minha família, deixando meu negócio. Depois que queimaram meu carro e ameaçaram minha família – por uma dívida –, pensei que o melhor seria buscar uma vida mais segura na capital”, explica Piñeda.
Segundo ele, os criminosos controlam o comércio da cidade, exigindo o pagamento ilegal de taxas e aluguéis. “Os traficantes deixam um papel com um número de telefone para que você ligue e te falam o valor da cota que você deve pagar. E se você não paga, queimam seu carro, depois, a empresa, e no final, te matam.”
Piñeda é um entre mais de 200 mil mexicanos que nos últimos 18 meses abandonaram Juárez para escapar da violência. Aqueles que têm mais recursos se mudam para cidades como Guadalajara, Monterrey, ou atravessam a fronteira, chegando ao Texas. Estima-se que nos últimos meses 30 mil pessoas imigraram para El Paso, no estado norte-americano e mesmo com o êxodo, algumas empresas continuam sofrendo com a extorsão de cartéis e policiais corruptos.
Outros fatores
Além do aumento da violência, a recessão, que diminuiu a demanda por produtos manufaturados, principal atividade do norte do país, prejudicou a economia local. Em 2009, as fábricas registraram uma queda de 30% das vendas feitas ao exterior em comparação com 2008, quando a exportação atingia 24,786 milhões de dólares.
Em Ciudad Juarez, há 339 estabelecimentos da indústria têxtil que empregavam 168 mil trabalhadores no final de 2009. Os números representam 6,5% e 10% respectivamente do total nacional, segundo dados recentes de Inegi (Instituto Nacional de Estatística e Geografia).
Além do setor têxtil, o turismo também passa por dificuldades. Por meio de um comunicado, a Câmara de Comércio e a Associação Mexicana de Hotéis e Motéis da Zona Norte do estado de Chihuahua afirmaram que “Ciudad Juárez não resistirá, já que a violência fez com que a ocupação hoteleira caísse 26%, além de ter provocado o fechamento de quatro companhias aéreas na cidade e queda de 30% no número de passageiros”.
A renda do turismo, que é a segunda fonte de dinheiro do município, atrás somente do setor têxtil, caiu pelo menos 28%, dizem as entidades.
Rafael Piñeda deseja retornar a Juárez algum dia. “Gostaria que meus filhos crescessem na cidade deles, mas em condições mais seguras. Sempre é possível recomeçar um negócio, sobretudo se você está acostumado a trabalhar, mas não posso aceitar que meu filho de seis anos continue vendo mortos na rua ou cresça em uma realidade tão dura”.
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