Vários países europeus, entre eles França, Itália e Alemanha, retomam nesta sexta-feira (19/03) a aplicação da vacina da AstraZeneca contra a covid-19, um dia depois de uma decisão favorável da Agência de Medicamentos Europeia (EMA). O primeiro-ministro francês, Jean Castex, 55 anos, vai dar o exemplo e recebeu a primeira dose do imunizante nesta tarde, diante da imprensa, em um hospital da região parisiense.
O objetivo da decisão é encorajar os franceses a confiarem na vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca, alvo de suspeitas de provocar trombose e até mortes.
No país, o governo recomendou que as doses da AstraZeneca sejam utilizadas prioritariamente em pessoas com mais de 55 anos, enquanto os idosos acima de 64 anos devem receber sobretudo o produto da Pfizer.
Além da França, a vacinação com o fármaco foi imediatamente restabelecida na Alemanha, Bulgária, Eslovênia e Itália. Espanha, Portugal e Holanda voltarão a aplicar a vacina a partir da próxima semana, enquanto Noruega e Suécia decidiram aguardar os resultados de suas próprias avaliações para retomar a imunização, na próxima semana.
No total, 15 países do mundo suspenderam a administração do produto da AstraZeneca pelo temor de efeitos colaterais, como a formação de coágulos. Na quinta-feira (18/03), a EMA apresentou conclusões positivas quanto à segurança do imunizante.
“O comitê chegou a uma conclusão científica clara: é uma vacina segura e eficaz”, disse a diretora-executiva da agência, Emer Cooke, em videoconferência, após uma “análise profunda” do produto. O órgão regulador europeu “concluiu que a vacina não está associada a um aumento do risco global de eventos de tromboses ou coágulos sanguíneos”, afirmou Cooke.
Também é aguardado um pronunciamento nesta sexta-feira do comitê consultivo mundial de segurança das vacinas (GACVS), da Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre o produto da AstraZeneca.
O bloco europeu apostou no imunizante de Oxford para ser a grande resposta à pior epidemia que o mundo viu em um século. Logo depois de o fármaco ser aprovado, os países assinaram contratos gigantescos de fornecimento, mas viram os lotes serem entregues a conta-gotas e, agora, estarem sob suspeitas de efeitos colaterais graves.
Analistas indicam que essas suspeitas ocorreram justamente para pressionar o laboratório a acelerar as entregas ao bloco, que segue num ritmo bem mais lento de vacinação do que o imaginado quando a estratégia de imunização foi determinada.
Em meio a esse contratempo, quase um terço da população da França volta ao lockdown a partir deste sábado (20/03). A medida entre em vigor por quatro semanas, no mínimo, em Paris e seus arredores, e em outras regiões nas quais a “terceira onda” da pandemia é grave.
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No total, 15 países do mundo suspenderam a administração do produto da AstraZeneca pelo temor de efeitos colaterais
Este é o terceira vez que os franceses são submetidos ao fechamento do comércio não essencial e a restrições de deslocamentos, a no máximo 10 quilômetros de suas residências. As escolas permanecerão abertas. Os contágios se aceleram no país, que registrou mais de 38.000 casos em 24 horas e se aproxima de 100.000 mortes provocadas pelo coronavírus.
Estados Unidos aceleram
O Reino Unido anunciou uma redução do abastecimento de vacinas em abril, o que poder frear a campanha de vacinação, uma das mais avançadas do mundo. Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, o andamento da vacinação teve uma aceleração espetacular nas últimas semanas, com a média de 2,4 milhões de doses aplicadas por dia.
O presidente Joe Biden anunciou que o país alcançará nesta sexta-feira – com mais de um mês de antecedência – a meta de aplicar 100 milhões de doses nos primeiros 100 dias de seu mandato.
Um balanço da agência AFP aponta que, apesar dos problemas, a imunização mundial avança e 402,3 milhões de doses foram aplicadas no planeta, quase 25% delas nos Estados Unidos.
Na América Latina, o México anunciou que receberá lotes de vacinas dos Estados Unidos, informação confirmada pela Casa Branca: 2,5 milhões de doses irão para o México e 1,5 milhão para o Canadá. Os prazos de entrega ainda são desconhecidos.
Argentina atrasa; Chile confina
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, admitiu um atraso na chegada das vacinas e pediu o aumento dos cuidados, em meio à segunda onda de covid-19 no país. “Até hoje chegaram ao país quatro milhões de doses, 6% das doses que contratamos. Quase três milhões de doses foram aplicadas em argentinas e argentinos”, afirmou o presidente, antes de admitir: “Está saindo tudo da maneira que esperávamos? Não. Porque há atraso global na produção de vacinas”.
A Argentina, com 45 milhões de habitantes, registra mais de dois milhões de casos e mais de 54.000 mortes por covid-19. O governo assinou contratos para a compra de 65 milhões de vacinas, disse o presidente.
Já o Chile impôs um novo lockdown rígido no país a partir de quinta-feira, enquanto as vacinas chegaram inclusive na base chilena na Antártica, onde 50 pessoas receberam a primeira dose.
E em Honduras, o governo se declarou em alerta ante à possível entrada irregular de supostas vacinas russas contra a covid-19, após a apreensão, no México, de uma carga que seria destinada ao país centro-americano.