O chefe colono de Metula, David Azoulai, disse para o programa de rádio israelense 103FM que Gaza “deveria ser esvaziada de palestinos e arrasada”. O caso foi publicado no jornal The Jerusalem Post. Ele sugeriu que a Marinha israelense deveria “transportar palestinos para campos de refugiados no Líbano”.
“Depois, deveria ser estabelecida uma faixa de segurança desde o mar até a cerca da fronteira de Gaza, completamente vazia, como uma lembrança do que já existiu lá. Deveria assemelhar-se ao campo de concentração de Auschwitz”, disse Azoulai.
Segundo ele, a região teria que ser tornar um “museu”, que mostre as “capacidades” do Estado de Israel: “é isso que deve ser feito para dar uma representação visual”, acrescentou.
Diversas autoridades israelenses têm apelado a outros países para que aceitem refugiados palestinos para facilitar a limpeza étnica da Faixa de Gaza. Um documento vazado de autoria do Ministério de Inteligência de Israel dizia que a melhor opção para uma Gaza no pós-guerra seria empurrar toda a população para o Egito, mas o Cairo opôs-se fortemente à ideia.
O amanhã depois da guerra
Sobre o assunto, a especialista Isabela Agostinelli disse a Opera Mundi que as respostas vagas dos políticos israelenses sobre o futuro após a guerra em Gaza se dá pelo simples fato de que o “objetivo político e estratégico” de Israel não está sendo claro para a comunidade internacional, a “não ser a limpeza étnica da Palestina como estamos vendo em Gaza”.
Agostinelli afirmou que esse quadro sinaliza uma “mudança de como está sendo feita a ocupação que nunca cessou”.
“Com o retorno dessas forças israelenses no norte de Gaza o que podemos prever é a instauração de novos assentamentos israelenses. Gaza sempre foi tratada como um problema demográfico dado o número de palestinos na área, e em número discrepante em número de colonos na região da Faixa de Gaza gerando muitos custos, não só pela presença do Hamas, mas o orçamento militar estava sendo todo girado para aquela área mais do que orçamento para manter os assentamentos”, disse.
A especialista reitera ainda que os líderes parecem perdidos quanto ao que fazer com a região após a limpeza populacional.
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O número de vítimas aumenta a cada hora, à medida que a força aérea israelense bombardeia diferentes áreas de Gaza
O assentamento de Metula e o Hezbollah
A cidade de Metula, onde Azoulai lidera o conselho, fica perto da fronteira Israel-Líbano e foi evacuada devido à troca de tiros entre Israel e o Hezbollah. As autoridades israelenses têm ameaçado travar uma guerra no Líbano se o Hezbollah não se afastar da fronteira.
Azoulai disse ainda na rádio israelense que para que os colonos retornem a Metula, o Hezbollah precisa ser empurrado de volta para o rio Litani, que fica 29 km ao norte da fronteira.
Em Israel, as perspectivas mudaram drasticamente em relação à tolerância à presença do Hezbollah na fronteira norte. “Na manhã de 7 de Outubro, 2.000 pessoas acordaram sabendo que poderiam facilmente ter morrido”, disse Azoulay, no programa 103FM. Metula foi evacuada e os seus residentes estão abrigados em hotéis e casas particulares, principalmente em Tiberíades, no Mar da Galileia.
Conhecida como “Suíça israelense”, a colônia da região da Galileia que, pela forma que aparece no mapa, é conhecida também como o “dedo do país”. Metula é o assentamento judaico mais ao norte de Israel, o que garante “uma vantagem” em termos de clima e turismo. Foi fundada em 1896, quando o barão Rothschild levou 80 famílias de agricultores, a maioria judeus da Rússia, para se estabelecerem na região. Em meados da década de 1950, um novo grupo judaico chegou a Metula através de um projeto governamental denominado “da cidade para o campo”. Atualmente são cerca de 2.000 habitantes, aos quais se somam centenas de trabalhadores agrícolas imigrantes e residentes militares das Forças de Defesa de Israel (IDF).
A respeito dos deslocamentos de colonos israelenses devido aos conflitos com o Hezbollah, numa reunião com presidentes de câmara do Norte, no dia 6 de dezembro, Yoav Galant, o ministro da Defesa de Israel, disse que o país “agiria com todos os meios à sua disposição” se a comunidade internacional não conseguisse forçar a retirada do Hezbollah.
Benny Gantz, antigo primeiro-ministro que serve no gabinete de guerra do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, fez uma promessa semelhante para os colonos nortistas deslocados de Metula perto do Mar da Galileia na sexta-feira (15/12). “Se o mundo não tirar o Hezbollah da fronteira, Israel o fará”, disse Gantz.