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Raymond Aron, importante filósofo, sociólogo, cientista político e jornalista francês, cuja obra influenciaria gerações de analistas e políticos, morre em 17 de outubro de 1983, aos 78 anos, em Paris.
Seu pensamento crítico voltou-se para o estudo do totalitarismo, do liberalismo e das relações internacionais. As posições políticas de Aron contra o marxismo e a favor do atlantismo colocaram-no contra muitas ideias pacifistas de outros filósofos.
Uma citação de Aron que ajuda a definir seu modo de pensar: “se alguém é de direita ou de esquerda, ele será sempre hemiplégico”. De fato, Aron sempre desejou ser tão correto quanto possível em suas análises das ideias que provinham a um só tempo da esquerda e da direita. Livre de qualquer doutrina, Aron, como pesquisador, adotaria conceitos de Max Weber, desenvolvendo novos conceitos ligados às “religiões seculares”. Sua intenção era ressaltar a natureza dogmática das ideologias socialista, comunista e nazista.
Aron tornou-se colunista de grandes jornais da França e também professor de prestigiosas instituições como o Collège de France e a Sorbonne. Antes tinha sido aluno da École Normale Supérieure, a mais requisitada para estudos de humanidades, período em que foi colega e amigo de Jean Paul Sartre.
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Durante uma estada em Colônia, Alemanha em 1930-1931, Aron estudou a sociologia de Max Weber. Depois de ter escrito uma tese em 1938, intitulada “Introdução à Filosofia da História” passou a lecionar em Bordeaux. Devido à guerra, refugiou-se em Londres onde se tornou diretor do jornal “La France Libre”, criado sob a liderança do general De Gaulle.
Reprodução de Democracia e totalitarismo
De volta a Paris após a libertação, retornou à cátedra e o jornalismo. Em 1948 filiou-se ao partido direitista RPF (Rassemblement du Peuple Français, ou “Reunião Povo Francês”, em tradução livre), o que lhe propiciou espaço para travar com Sartre uma discussão a respeito do regime soviético e da imagem da esquerda, teses que reuniu no livro o “Ópio dos Intelectuais” (1955), que se tornou o seu mais famoso trabalho.
Aron pretendia combinar dois campos, filosofia e sociologia. Enquanto na filosofia tratou de analisar a condição histórica do homem, em seus trabalhos sociológicos examinou os acontecimentos históricos à luz de entender tanto os indivíduos quanto a narrativa de modo a tudo entrelaçar e fazer sentido. Daí nasceu o livro de 1960 “Dimensions de la conscience historique” (ou Dimensões da Consciência Histórica).
Ao mesmo tempo exploraria as relações entre as estruturas sociais e os regimes políticos nas sociedades industriais na obra Dix-huit leçons sur la société industrielle (18 Lições sobre a sociedade industrial, 1962). Em “Démocratie et totalitarisme” (Democracia e Totalitarismo, 1965) Aron se opõe às chamadas concepções democráticas como vistas pelos regimes do Leste Europeu, o que o levou a refletir sobre a bipolaridade do mundo moderno entre Ocidente e Oriente exposta em 1976 em “Penser la guerre: Clausewitz” (Pensar a Guerra: Clausewitz).
Seu sentido de liberalismo levou-o a se afastar de qualquer doutrina pré-estabelecida. Como resultado foi considerado como estando fora das várias tendências sociológicas.
No entanto, seria influenciado por figuras como Alexis de Tocqueville, Karl Marx e, em especial, Weber, fontes de que faria extensivo uso em sua obra “Démocratie et totalitarisme”.
O pensamento político de Aron esteve enraízado no contexto histórico da Guerra Fria. O principal objetivo de suas publicações consistiu em tentar reunir intelectuais neutros, aqueles que embora não pertencessem ao Partido Comunista, nutriam certa simpatia pela ideologia marxista.
Tornou-se também um reconhecido teórico das relações internacionais. Em sua visão, as relações internacionais devem ser específicas e distintas das políticas domésticas dos Estados. Defendia uma concepção integral através da análise sociológica dos objetivos pretendidos pelos Estados, tese que desenvolveu em “Paix et guerre entre les nations” (Paz e Guerra entre as nações, 1962). Aron insiste na importância das considerações morais nas relações internacionais. Adicionalmente, não adere ao materialismo da escola realista de pensamento (realpolitik), ressaltando o papel crítico das normas e valores.
Tendo trabalhado no jornal Le Figaro, o mais antigo diário da França, de 1947 a 1977, deixaria esse posto para colaborar com a revista l’Express, onde viria a ser presidente do seu Conselho Editorial.
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