Atualizado às 19h22 de 23/07/2016
Durante a grande cerimônia de abertura da Exposição Nacional Norte-Americana em Moscou, levada a efeito em 24 de julho de 1959, o vice-presidente Richard Nixon e o premiê soviético Nikita Kruchev envolvem-se num acalorado debate acerca do capitalismo e do socialismo no espaço de um stand de cozinha, montado especialmente para a feira. O assim chamado “Debate da Cozinha” transformou-se num dos mais famosos episódios da Guerra Fria.
No final de 1958, a União Soviética e os Estados Unidos concordaram em montar grandes exibições de seus produtos e serviços, um no país do outro, como parte dos novos esforços em intercâmbios culturais.
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Richard Nixon e Nikita Kruchev se envolvem em debate em um stand de cozinha em Moscou
A exposição soviética foi inaugurada em Nova York em junho de 1959. Por seu lado, a exposição dos Estados Unidos teve lugar no Parque Sokolniki, em Moscou, em julho do mesmo ano.
Em 24 de julho, antes da abertura oficial ao público da exposição de Moscou, o vice-presidente Richard Nixon serviu de anfitrião para uma visita do líder soviético Kruchev. À medida que Nixon conduzia Kruchev pelos estandes norte-americanos, o conhecido temperamento do premiê soviético começou a vir à tona.
Quando Nixon lhe mostrava alguns dos novos modelos de aparelhos de televisão a cores norte-americanos, Kruchev parte para o ataque a respeito da “Resolução das Nações Cativas” aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos apenas alguns dias antes. A resolução condenava o controle soviético sobre os povos ‘cativos’ da Europa Oriental e pedia a todos os norte-americanos a rezar pela sua libertação.
Depois de denunciar a resolução, Kruchev desdenha então da tecnologia dos Estados Unidos em exposição, proclamando que a União Soviética teria em poucos anos o mesmo sortimento de engenhocas e aparelhos. Nixon, que gostava e nunca evitava um debate, espicaçou Kruchev afirmando que o líder soviético não “deveria temer novas ideias. Além do mais, o senhor não tem o dever de conhecer todas as coisas.” O premiê soviético replica a Nixon, espetando: “O senhor não sabe nada a respeito do comunismo a não ser temê-lo”.
Com um pequeno exército de repórteres e fotógrafos seguindo-os, Kruchev e Nixon prosseguiam com seus argumentos agora no stand de uma cozinha modelo montada na exposição. Com vozes alteradas e dedos em riste, os dois deblateravam acaloradamente.
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Nixon alertou que as constantes ameaças de Kruchev de empregar mísseis nucleares poderiam levar à Guerra, ao mesmo tempo que admoestava o soviético por interrompê-lo insistentemente enquanto falava. Tomando essas palavras como ameaça, Kruchev advertiu o vice-presidente sobre as “muito más consequências”.
Percebendo que a discussão tinha ido longe demais, o líder soviético expressou que desejava “a paz com todas as nações do mundo, em especial os Estados Unidos”. Nixon, encabuladamente, preferiu afirmar que ele “não tinha sido um bom anfitrião”.
O “debate da cozinha” foi manchete e matéria de capa dos principais jornais dos Estados Unidos no dia seguinte. Por alguns momentos, nos limites de uma moderna cozinha montada num stand de exposição, foram trocados golpes diplomáticos, sinceros e agudos, numa contenda verbal sobre qual sistema era superior – comunismo ou capitalismo.
Assim como diversas batalhas da Guerra Fria, no entanto, não houve um claro vencedor. Todavia foi um prato cheio para a imprensa norte-americana que se deliciou com a dramática e inesperada porfia verbal.
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