Atualizado em 06/10/2016 às 17h49
Numa manhã enevoada, Edgar Allan Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore com roupas que não eram as suas, em estado de delirium tremens. Levado ao Washington College Hospital, veio a falecer quatro dias depois, em 7 de outubro de 1849.
Ele estava na Filadélfia quando resolveu entrar numa taverna em busca de bebida. Ali encontrou velhos amigos, bebeu, mal percebeu o tempo passar, atravessou a noite. Na manhã seguinte, os transeuntes encontraram um homem agonizante, abandonado na sarjeta. Pouco depois se descobriu que aquele homem sem documentos e sem dinheiro era o poeta Poe.
Aos 39 anos, ele deixou uma obra opulenta, escrita em meio a sacrifícios espantosos e desordens mentais implacáveis. Nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente para explicar como tinha chegado àquela situação. Suas últimas palavras teriam sido: “Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe”.
Poe conhecia como ninguém os meandros, desejos e temores da alma humana. Talvez por isso sua influência tenha alcançado uma gama tão variada de escritores e poetas.
The Raven (O Corvo) é provavelmente, entre todos os poemas já escritos em língua inglesa, desde Cristopher Marlowe, passando por Shakespeare e Shelley, até hoje, o que mais respostas poéticas têm provocado nos últimos dois séculos, entre as quais se encontram as traduções de Machado de Assis e Fernando Pessoa.
A maioria dos críticos admite que Poe seja o criador das histórias de suspense e policiais. Alguns, mais fervorosos, argumentam que seja também o “pai” da ficção científica, da nova crítica literária norte-americana e da poesia simbolista. Inegável é sua posição como um dos maiores poetas, escritores e críticos que os Estados Unidos já tiveram.
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As novelas, contos e poemas exerceram larga influência em autores fundamentais como Baudelaire, Maupassant e Dostoievski. Admite-se que seu maior talento era escrever contos. Os contos de horror apresentam personagens doentias, obsessivas, fascinadas pela morte, vocacionadas para o crime, dominadas por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a lucidez e a loucura, vivendo numa espécie de transe, como espectros assustadores de um terrível pesadelo. Entre eles, destacam-se “O gato preto”, “Ligeia”, “Coração denunciador”, “A queda da casa de Usher”, “O poço e o pêndulo”. Entre os contos policiais figuram os antológicos “Assassinato de Maria Roget”, “Os crimes da rua Morgue” e “A carta roubada”. Ao contrário dos contos de horror, primam pela lógica rigorosa e pela dedução intelectual que permitem o desvendamento de crimes misteriosos.
Nenhum de seus contos é narrado em terceira pessoa. Desse modo, vê-se como realmente “ele” vê, que sente, que ouve e que vive o mais profundo e escandescente terror.
Os estudos de psicanálise atuais ainda têm em Poe um farto repertório. Independentemente desse aspecto, sua obra é lembrada pelo talento narrativo, pela força criadora e por uma realização artística invejável, guindando Poe à posição de um dos maiores autores de contos de terror.
“Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.”
O Corvo, Edgar Allan Poe, tradução de Machado de Assis
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