Os Estados Unidos querem uma ampla reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) que outorgue uma maior participação dos países emergentes e subdesenvolvidos nas decisões da entidade.
A proposta, inconcebível há dez meses, pela própria natureza política das administrações norte-americanas, é compatível com uma das ideias lançadas durante a campanha eleitoral do presidente Barack Obama, que defendeu a reforma das instituições de crédito para enfrentar a crise mundial.
“O FMI precisa de uma estrutura de governo mais representativa, atuante e responsável, para poder fortalecer sua legitimidade”, afirmou o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, em carta enviada na segunda-feira à reunião anual do fundo, que se realiza em Istambul, na Turquia.
Geither, contudo, não deu mostras da vontade norte-americana de prescindir do seu poder de veto dentro da instituição.
A reação da direção do FMI foi imediata. O comitê financeiro e monetário da entidade não só deu apoio à iniciativa como fixou um incremento de 5% na transferência de poder de voto dos países ricos para os subdesenvolvidos, como sugeriu Geither.
Poder aos ricos
Desde a sua criação, em julho de 1944, os países ricos sempre tiveram muito mais poder de voto que os países pobres, definido por questões econômicas e financeiras. No entanto, nos últimos anos, a transferência de postos de trabalho dos países ricos para os pobres, a fim de diminuir os custos de produção, trouxe para a mesa a necessidade de levar em conta o crescimento econômico desses países, a maior parte da América Latina e Ásia.
Segundo a ONG Oxfam, os procedimentos de votos do FMI dão mais peso a Luxemburgo que a Filipinas, que possui uma população 200 vezes maior que o país europeu, no qual 5% de transferência de poder de voto são insuficientes.
“Eles [os países ricos] têm de dar maior poder de voz aos países pobres, retirar dos órgãos de decisão alguns países europeus e acabar com a capacidade de veto dos Estados Unidos”, disse a diretora política do Oxfam, Caroline Pearce.
Na opinião dela, o FMI só pode ter relevância na comunidade econômica mundial se levar em conta que os países “castigados” pela crise mundial têm alguma coisa a dizer sobre seu destino.
Os Estados Unidos possuem 17% da capacidade de votos nas decisões do FMI, o que dá a Washington uma virtual capacidade de veto, porque as decisões mais importantes são obrigatoriamente aprovadas por uma maioria de 85%.
Durante décadas, o FMI foi visto como um verdadeiro “diabo” entre os países subdesenvolvidos, pelas condições draconianas que costumava impor aos países necessitados de empréstimos, sem ter em consideração o impacto que isso poderia causar nas classes mais pobres.
[A reforma do FMI] “é uma forma de refletir as mudanças na economia global, onde os países emergentes estão adquirindo mais poder e capacidade de negociação e, além disso, estão a uma maior velocidade de crescimento que os países ricos”, considerou o presidente do comitê financeiro e monetário, Youssef Boutros-Ghali.
No entanto, deixou um aviso: “Uma mudança nesta quota de votação é crucial, mas não tenhamos ilusões, o processo não vai acontecer de um dia para o outro”.
Segundo Boutros-Ghali, o processo de revisão das quotas de votação seria definido na próxima reunião do FMI, em abril do próximo ano, em Washington, e entraria em vigor em janeiro de 2011.
O secretário do Tesouro norte-americano recordou a necessidade de reformar o FMI, tendo em conta que o G-20 já apontou entregar parte do governo da instituição aos países menores. “O G-20 assumiu um compromisso sério nesse sentido e os Estados Unidos não vão se opor”, acrescentou.
NULL
NULL
NULL