Em 2 de maio de 1972, morre J. Edgar Hoover, após quase cinco décadas na chefia do FBI, deixando a poderosa agência governamental norte-americana sem um diretor que havia sido amplamente responsável pela sua existência e forma.
Formado como advogado e bibliotecário, Hoover ingressou do Departamento de Justiça em 1917 e em dois anos já se tornava o principal assistente do procurador-geral A. Mitchell Palmer. Profundamente anticomunista na ideologia, Hoover posiciona-se na vanguarda da preservação da ordem pública durante o período conhecido como a “Ameaça Vermelha”, de 1919 a 1920.
O antigo bibliotecário organizou um circunstanciado sistema de indexação listando com detalhes todos os líderes, organizações e publicações radicais nos Estados Unidos. Em 1921, já havia reunido cerca de 450 mil fichas e pastas. Mais de 10 mil comunistas suspeitos foram também presos durante este período, mas a grande maioria dessas pessoas foram apenas interrogadas e libertadas.
Embora o procurador-geral tenha sido bastante criticado por abuso de autoridade durante os chamados “Ataques de Palmer”, Hoover emerge ileso. Em 10 de maio de 1924, é indicado para a direção do bureau de Investigação, uma divisão do Departamento de Justiça criado em 1909.
Durante os anos 1920, com a aprovação do Congresso, Hoover reestruturou radicalmente e expandiu enormemente o bureau de investigação. Montou uma agência anticorrupção dentro de uma eficiente máquina de combate ao crime, organizando um complete arquivo centralizado de impressões digitais, um completo laboratório de perícia criminal e uma escola de treinamento de agentes policiais.
Nos anos 1930, o bureau desencadeia uma dramática batalha contra o crime organizado, espalhado como uma epidemia pelo país, decorrente da Lei Seca. Notórios gângsteres como George “Metralhadora” Kelly e John Dillinger encontraram seu fim ao enfrentarem o cano das armas do Bureau, enquanto outros, como Louis “Lepke” Buchalter, o escorregadio chefe da empresa criminal “Murder, Incorporated”, foram sucessivamente investigados e condenados pelo “G-men” de Hoover.
O chefe do Bureau tinha um olho clínico para as relações públicas participando pessoalmente de numerosas prisões, amplamente difundidas pelos meios de comunicação. A partir de 1935, o bureau passou a ser conhecido como FBI, admirado, mas também altamente temido pelo Congresso e pela opinião pública dos EUA.
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Hoover morreu após quase cinco décadas na chefia da agência federal norte-americana
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, Hoover reviveu as técnicas de contraespionagem que havia desenvolvido durante a primeira “Ameaça Vermelha” e aparelhos de escuta telefônica domésticos e outros dispositivos eletrônicos expandiram-se dramaticamente.
Com o término da guerra, Hoover centrou sua atenção na ameaça da subversão comunista. O FBI compilou montanhas de pastas de milhões de norte-americanos suspeitos de atividades consideradas subversivas. Hoover trabalhou intimamente ligado ao Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso liderado pelo senador Joseph McCarthy, o arquiteto da segunda “Ameaça Vermelha”.
Em 1956, Hoover criou a Cointelpro, um programa secreto de contra inteligência que tinha por mira inicialmente o Partido Comunista dos Estados Unidos, porém mais tarde foi estendido para se infiltrar e desbaratar qualquer organização radical do país.
Durante os anos 1960, os imensos recursos do Cointelpro foram usados contra grupos perigosos como a Ku Klux Klan, mas também contra organizações afro-americanas de direitos civis e entidades antiguerra. Uma das figuras particularmente vigiadas foi Martin Luther King Jr., um dos grandes líderes dos direitos civis e lutador contra a discriminação racial, que sofreu sistemáticos assédios do FBI.
À época em que Hoover prestava serviços para o oitavo presidente dos EUA em sua carreira, em 1969, a mídia, o público e o próprio Congresso viram alimentadas as suspeitas de que o FBI poderia estar abusando de sua autoridade. Pela primeira vez em sua carreira de chefão do birô, Hoover recebeu crítica generalizada. O Congresso foi sensível a ela e aprovou leis exigindo que o Senado interrogasse e confirmasse a nomeação de futuros diretores do FBI, limitando, ao mesmo tempo, o mandato a 10 anos.
Em 2 de maio de 1972, com o escândalo Watergate prestes a explodir no cenário nacional, J. Edgar Hoover morre de ataque cardíaco aos 77 anos. O caso Watergate veio a revelar em seguida que o FBI havia ilegalmente preservado o presidente Richard Nixon das investigações.
Revelações de abusos de poder e vigilância inconstitucional por parte do FBI levou a mídia e a opinião pública a receber com maior cautela as afirmações e conclusões do FBI e tornar-se mais vigilantes quanto às ações da agência.