No dia 3 de fevereiro de 1989, há exatos 34 anos, se o general Andrés Rodríguez liderava um golpe militar que mudava os rumos da política no Paraguai. Se terminava, naquele dia, os 35 anos da ditadura de Alfredo Stroessner, um dos mais longevos ditadores da América Latina.
Rodríguez organizou o golpe com a ajuda de setores militares que se mostraram contrários à fraude eleitoral realizada nas eleições de 1988, na qual Stroessner teria ganho, segundo os resultados oficiais, com 89% dos votos. O resultado gerou revoltas em algumas cidades do país, especialmente na capital Assunção.
Curiosamente, em maio daquele mesmo ano, o próprio Rodríguez seria eleito presidente do Paraguai, em uma eleição que ele venceu com 76% dos votos.
Quem foi Alfredo Stroessner
O general Alfredo Stroessner Matiauda se tornou uma figura conhecida no Paraguai em 1947, quando foi um dos principais comandantes do exército durante a Revolução dos Pynandí (“pés descalços” em idioma guarani), uma guerra civil na qual os militares paraguaios massacraram a classe operária de Assunção.
Após a guerra civil, o Partido Colorado mantém o poder no país com certa dificuldade, até 1954, quando um novo golpe de Estado, dessa vez encabeçado por Stroessner, consegue gerar uma estabilidade, a partir de um regime autoritário e impiedoso com as oposições, embora travestido de um falso discurso de “multipartidismo” [no qual os partidos que se submetiam às regras impostas pelo ditador eram tolerados, desde que não ameaçassem o seu Partido Colorado].
Durante 35 anos, Stroessner manteve no Paraguai um regime caracterizado por um raivoso discurso anticomunista e por violações sistemáticas aos direitos humanos, o que também seria a marca de outras ditaduras sul-americanas que o acompanharam nos anos seguintes, no Brasil (1964-1985), no Uruguai (1973-1985), no Chile (1973-1990) e na Argentina (1976-1983).
A ditadura paraguaia também fez parte do que se conhece como Operação Condor, pela qual os regimes se comunicavam e colaboravam entre si para perseguir, capturar, torturar e executar opositores.
No caso das violações cometidas especificamente no país, o informe realizado pela Coordenadora de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) assegura que houve pouco mais de 18 mil vítimas de torturas, 58 opositores executados e outros 337 desaparecidos.
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Stroessner chegou ao poder por liderar um massacre e depois encabeçou o governo mais sanguinário da história do Paraguai
Pedofilia
Outro fato que marcou o período de Stroessner no poder foram os casos de pedofilia protagonizados pelo ditador. O caso, no entanto, só veio à tona quando ele já estava morto.
A revelação só foi possível a partir da entrevista de Julia Ozorio ao jornal Última Hora, em 2019. Já adulta, Julia decidiu revelar que em 1972, quando ela tinha 12 anos, vivia em um harém administrado por um militar conhecido como coronel Miers [Pedro Julián Miers, também falecido quando o caso foi descoberto].
Segundo o relato de Julia, o harém contava com dezenas de meninas entre 10 e 15 anos anos de idade, e que “as melhores eram levadas a Stroessner para serem estupradas”.
Ela conta que foi levada ao harém após ser raptada por militares, e que antes vivia com a família em uma região rural do Paraguai. Ela afirma que outras meninas que viviam com ela no harém tinham histórias semelhantes.
As investigações do caso chegaram a outros testemunhos, embora só o caso de Julia tenha tido a revelação da identidade de vítima. Além disso, os relatos contam que Stroessner não era o único alto oficial militar que abusava das menores que viviam no harém.
Morte no Brasil
Após o golpe de 1989, Alfredo Stroessner conseguiu asilo político no Brasil, concedido pelo então presidente José Sarney.
O ex-ditador passou a morar em Brasília com seus dois filhos, e permaneceu morando na capital brasileira até o final da sua vida, 17 anos depois.
Em agosto de 2006, um caso de pneumonia colocava fim à vida do homem que chegou ao poder por liderar um massacre e depois encabeçou o governo mais sanguinário da história do Paraguai.