No dia 21 de junho de 1970, a melhor seleção de todos os tempos batia a Itália por 4 x 1 e sagrava-se tricampeã do mundo.
Eu tinha 8 anos. Não me lembro de momento tão feliz em minha infância. Na euforia do último gol, marcado pelo legendário capitão Carlos Alberto, comecei a pular sobre um sofá verde que minha mãe adorava e coloquei-o abaixo. A bronca foi furiosa, mas valeu a pena.
O país vivia o apogeu da ditadura. Combatentes da resistência eram caçados, presos, torturados e assassinados.
Minha família, de histórica militância comunista, mas também marcada pela paixão esportiva, estava dividida.
Lembro de meu pai comentando que uma vitória da seleção ajudaria o regime militar. Seus amigos e companheiros também achavam isso.
Mas o encanto daquela seleção liderada por Pelé, absolutamente maravilhosa e imbatível, trazendo tanta alegria ao povo brasileiro, acabou por dobrar até os mais duros revolucionários.
Mesmo depois de quebrar o sofá, naquela noite do tricampeonato meu pai pegou a mim e meus irmãos, nos levando em seu Aerowyllis amarelo a passear na rua Augusta, para comemorar com uma multidão que tomava as ruas de São Paulo, em um breve intervalo de felicidade nos tempos de chumbo nos quais vivíamos.