– A floresta amazônica tem sido tema presente nos primeiros dias do governo Biden. Uma coalizão de ex-secretários e negociadores sobre questões do clima e do meio ambiente dos governos anteriores assinaram uma carta semana passada, tendo como destinatários Biden e Harris, em que pedem a criação de um fundo de 20 bilhões de dólares para políticas direcionadas à Amazônia. Também pedem “consequências econômicas significativas” para quem destruir a floresta. Falam ainda em um “Plano de Proteção da Amazônia” em que os acordos comerciais são peças-chave, com proibição de importação de madeira de origem ilegal, embora gado, soja e commodities ainda possam vir de áreas desmatadas (diferente da Europa que quer banir a “importação de desmatamento”). O que mais se lê em matérias sobre o tema é: “garantias ambientais” para acordos comerciais efetivos.
– O novo premiê japonês, Yoshihide Suga, defendeu no Fórum Econômico de Davos o estreitamento da aliança com EUA, Índia e Austrália como barreira de contenção da China. A aliança conhecida como Quad (quadrilátero) é antiga e foi reativada por Trump em 2017. Os chineses já chegaram a chamar o Quad de “versão asiática da Otan”. O grupo é baseado na ideia da preservação da liberdade nos oceanos Índico e Pacífico e tem alvo certo nos conflitos no Mar do Sul da China.
– O porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian, fez uma fala mais dura em relação a Taiwan nos últimos dias. Estão nas palavras dele frases como “quem brinca com fogo vai se queimar” e “a ‘independência de Taiwan’ significa guerra”. Sua fala veio pouco depois de movimentações de aviões e navios militares no estreito de Taiwan. O discurso foi visto como um recado para a administração Biden que acaba de começar. Os EUA possuem um acordo de proteção militar com Taiwan e essa relação foi bastante aprofundada no período Trump. Foi um recado também para a liderança de Taiwan, através da presidente Tsai Ing-wen, por conta de movimentações que podem indicar uma declaração formal de independência por parte da ilha.
– A União Europeia estabeleceu um mecanismo “temporário de transparência e autorização de exportação” para o caso específico das vacinas contra o novo coronavírus. Isso quer dizer que as empresas europeias que quiserem exportar vacinas para países que estão fora do bloco terão que ser autorizadas pelo bloco para fazê-lo. A regra deve durar até o dia 31 de março de 2021. A medida foi criticada pela OMS. “É muito preocupante quando um país ou bloco começa a restringir a movimentação de bens de uso público” declarou a vice-diretora da OMS, Mariângela Simão.
– Os EUA se retiraram da aliança internacional antiaborto firmada ano passado por 30 países, entre eles o Brasil. Estão também a Arábia Saudita, os Emirados Árabes, o Egito, a Hungria, a Polônia e outros. A iniciativa de formar o pacto foi do então presidente dos EUA, Donald Trump, logo após o Conselho de Direitos Humanos da ONU passar a reconhecer o acesso ao aborto como direito universal. Biden foi criticado por republicanos no Congresso, como o Senador Steve Daines (Montana) ao dizer que a medida é “uma total falta de respeito pela santidade da vida humana”. Nos EUA, desde 1973, a Suprema Corte (caso Roe vs Wade) reconhece o direito ao aborto por qualquer razão até o momento em que o feto se torne “viável” (capaz de viver fora do útero sem ajuda artificial). O número de abortos nos EUA está caindo vertiginosamente desde os anos 90. Uma comparação que encontrei foi de que enquanto em 1990 o país chegou a registrar 1,6 milhão de abortos em um ano, em 2017 o número foi de 862 mil.
– Em Mianmar, no primeiro dia de fevereiro (01/02), os militares deram um golpe para afastar do poder a Sra. Aung San Suu Kyi, que havia vencido as eleições de novembro de 2020 com 83% dos votos para conselheira estatal (cargo semelhante ao de primeira-ministra). O país vive um processo de abertura democrática há uma década, após 50 anos de governos militares (na sequência da independência do Reino Unido em 1948). O equilíbrio de poder desde 2011 se dá entre o partido NLD – Liga Nacional pela Democracia, de Suu Kyi, e o partido apoiado pelos militares, USDP – União, Solidariedade e Desenvolvimento. Para a manhã desta segunda, 1º de fevereiro estava agendada a primeira sessão do Parlamento após as eleições de novembro. Desde as eleições de 8 de novembro, houve inúmeras acusações de fraude, especialmente pelos militares e essa foi a base sobre a qual se fundou o golpe. Mas especialistas dizem que os militares querem recompor poderes perdidos no último período. Suu Kyi é filha de um herói da independência do país, o general Aung San. Nos anos 80 ela liderou campanhas pelos direitos civis no país, inspirada em Martin Luther King e Mahatma Gandhi. Passou anos presa ao final dos 80 e parte dos anos 90 e em 2015 com a vitória eleitoral de seu partido se tornou a figura mais proeminente do país. Ela nunca chegou ao cargo de Presidente, pois a Constituição a impede por ter filhos estrangeiros, mas foi primeira-conselheira, como uma primeira-ministra. Nos últimos anos, o país esteve nas manchetes internacionais pelo êxodo do povo Rohingya (minoria étnica muçulmana), com denúncias de extermínio. Há rivalidade entre a maioria budista e minoria muçulmana no país. Suu Kyi foi acusada internacionalmente de não intervir em defesa do povo Rohingya, embora internamente sua postura a levou a uma vitória significativa nas eleições de 2020. Mianmar, que também já teve o nome de Birmânia, é um país asiático que se encontra geograficamente entre a Índia e a China. Faz fronteira também com a Tailândia, o Laos e Bangladesh.
– Do Equador, chegam muitas notícias de tentativa de desestabilização do processo eleitoral do próximo domingo, 7 de fevereiro. O candidato da esquerda, Andrés Arauz, é tido como favorito a vencer em várias pesquisas que apontam ele com 37% em média das intenções de voto. As movimentações do “Observatório para controle eleitoral” nos últimos dias é visto com desconfiança por ser presidido por um ex-chefe da Polícia Nacional, Mário Pazmiño, vinculado à inteligência dos EUA. Estariam também no núcleo golpista a ex-ministra Maria Paula Romo que possui intensas relações com a embaixada americana, Julian Charles Quibell do Instituto Nacional Democrata (NDI), que recebeu 2 milhões de dólares da USAID para “garantir transparência das eleições” e o próprio Luis Almagro, secretário geral da OEA (Infos: Katu Arkonada no La Jornada).
– O Haiti segue convulsionado. Ontem (01/02) foi mais um dia de protestos em uma jornada de paralizações nacionais convocada por sindicatos e entidades estudantis. O país vive uma onda de violência, instabilidade e um incontável número de sequestros armados de pessoas de todas as idades, inclusive crianças. As manifestações seguem pedindo a saída do presidente Jovenel Moise até o dia 7 de fevereiro, quando termina seu mandato. Não houve eleições para substituí-lo. O país também está sem parlamento. Cerca de 70% da população está desempregada. As principais organizações e partidos opositores a Moise já possuem um acordo para a transição com a eventual saída do presidente. A aliança não conta com o partido Fanmi Lavalas, do ex-presidente Jean Bertrand Aristide.
– Em El Salvador, que terá eleições municipais e legislativas em 28 de fevereiro, um ataque armado foi realizado no último domingo (31/01) contra um grupo de militantes da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional). Pelo menos duas pessoas morreram e outras ficaram feridas. O presidente do país, Nayib Bukele chegou a fazer ilações dizendo que na verdade eram os militantes da FMLN que tinham feito o ataque ou que estes estivessem “usando” o ataque com fins eleitorais. O clima no país é tenso e o ataque ocorre no mesmo período em que Bukele se pronunciou desprestigiando os acordos de paz de 1992, que puseram fim à guerra civil do país, iniciada com o assassinato do monsenhor Romero em 1980.