Atualizada às 19h35
Embora tenha classificado como “construtiva” a conversa desta sexta-feira (14/03) com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que Moscou e Washington não têm “nenhuma visão em comum” a respeito da crise na Ucrânia. Uma das questões centrais do desentendimento entre as duas partes é o referendo de domingo (16/03) em que a população do território autônomo da Crimeia decidirá se quer ou não se separar de Kiev e voltar a fazer parte da Rússia.
Lavrov disse que deve ser respeitada a “vontade” expressa pelo povo na consulta; enquanto os EUA e as outras potências ocidentais consideram o pleito ilegal e não reconhecerão seu resultado.
Agência Efe
Lavrov (esq.) e Kerry em coletiva de imprensa na capital britânica após a longa (e inconclusiva) conversa sobre a Ucrânia
O ministro das Relações Exteriores russo disse ainda que Moscou não tem planos de intervir no leste da Ucrânia. Lavrov, em diversos momentos, comparou a situação da Ucrânia com a independência de outros territórios ao longo do curso da história. “A Crimeia significa mais para a Rússia do que as Malvinas para o Reino Unido”, disse Lavrov, após afirmar que a crise atual era mais especial que o caso de Kosovo, em 2008.
Além de terem mantido contato constante durante esta semana, Lavrov e Kerry conversaram por mais de três horas hoje na residência do embaixador norte-americano em Londres. Após o encontro, cada um dos chanceleres concedeu entrevista coletiva, um dia antes do Conselho de Segurança analisar questionamento dos EUA sobre legitimidade do referendo na Crimeia.
John Kerry, por sua vez, adiantou que os Estados Unidos devem adotar sanções contra a Rússia caso seja realizado o referendo na Crimeia, região onde a maioria da população é de etnia russa. O chanceler norte-americano alertou que “haverá consequências” caso sejam tomadas “decisões equivocadas”. A União Europeia também cogita impor sanções contra cidadãos russos como retaliação por conta da crise na Crimeia.
Reprodução/Departamento de Estado dos EUA
O palco escolhido para as 3 horas de conversa entre Kerry e Lavrov foi a residência do embaixador norte-americano em Londres
Justiça de Kiev: referendo é inconstitucional
O Tribunal Constitucional da Ucrânia declarou nesta sexta que o referendo de domingo é inconstitucional. O mais alto tribunal do país — cujo presidente eleito, Viktor Yanukovich, foi afastado do poder após uma série de levantes pró-Ocidente — ordenou a interrupção da atividade de todas as comissões eleitorais que preparam o pleito e proibiu as autoridades crimeanas de financiar o referendo.
É difícil dizer se a decisão judicial terá respaldo na Crimeia. Juridicamente, a região tem certa autonomia em relação ao governo central de Kiev, mas faz oficialmente parte do Estado da Ucrânia. O parlamento da Crimeia, adiantando-se ao referendo, já declarou nesta semana a independência da região.
Reprodução/Departamento de Estado dos EUA
O clima entre os interlocutores parecia agradável; Lavrov (chamado de “sincero” por Kerry) disse que a conversa foi “construtiva”
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Missão de monitoramento da ONU
Também hoje, o enviado especial da ONU (Organizações das Nações Unidas) à Ucrânia, Ivan Simonovic, anunciou que o organismo vai mandar para a Ucrânia uma missão diplomática com o objetivo de monitorar e documentar eventuais violações dos direitos humanos no país — incluindo a Crimeia.
Reprodução/Departamento de Estado dos EUA
A reunião entretanto não conseguiu achar um ponto em comum entre as irreconciliáveis visões de Moscou e Washington
Siminovic, assistente do secretário-geral da ONU para direitos humanos, afirmou também que a missão servirá para diminuir as tensões e evitar futuras manipulações de informação.
“O que ficou claro muito rapidamente durante nossas discussões na Ucrânia foi a preponderância de relatos diferentes sobre o que exatamente ocorreu no país desde novembro”, explicou em comunicado. Siminovic ainda advertiu que se não for feita uma compilação independente e objetiva da informação para estabelecer os atos relacionados com violações de direitos humanos, o risco é alto de que as distintas versões sejam manipuladas para afundar as divisões e incitar o ódio.
(*) Com informações da Agência Efe