Em 23 de janeiro de 1941, o aviador norte-americano Charles Lindbergh prestou depoimento no comitê de relações exteriores do Congresso dos Estados Unidos, defendendo um pacto de neutralidade com a Alemanha nazista e criticando duramente a política de empréstimo e arrendamento (lend and lease policy) do então presidente, Franklin Roosevelt.
Lindbergh, um herói nacional nos EUA desde a façanha de atravessar sozinho e sem escalas o Oceano Atlântico, nasceu em 1902 na cidade de Detroit. O interesse pela aviação levou-o a uma escola de pilotos no Nebraska. Mais tarde, passou a trabalhar com voos acrobáticos e de correio aéreo. Quando fazia voos regulares de Saint Louis a Chicago, decidiu que seria o primeiro piloto a voar direto de Nova York a Paris, sozinho.
Em 1927, Lindbergh tinha o mesmo sonho de todos os pilotos da época: ganhar os 25 mil dólares oferecidos pelo dono de um hotel de Nova York, o francês naturalizado norte-americano Raymond Orteig, para o primeiro que completasse a proeza. Vários pilotos já haviam morrido na tentativa. Apenas Lindbergh, a bordo de um monomotor durante 33 horas de voo, conseguiu. Não só ganhou o prêmio como conquistou fama mundial. A façanha fez dele o personagem mais popular durante os anos da Grande Depressão nos EUA.
Em 1932, o aviador voltou às manchetes, mas dessa vez devido ao sequestro seguido de morte de seu filho de 2 anos. Deprimido, mudou-se para a Europa, onde familiarizou-se com os avanços dos alemães na aeronáutica. De lá, Lindbergh alertou os norte-americanos sobre a crescente superioridade alemã nesse campo. Ao mesmo tempo, encantou-se com a ‘revitalização’ nacional germânica sob o regime nazista, sendo até condecorado pelo líder nazista Hermann Göring. Em 1936, esteve na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim ao lado de Adolf Hitler.
De volta aos EUA, Charles Lindbergh enfrentou uma onda de críticas. Foi acusado de simpatizar com o nazismo, o que não o impediu de defender a neutralidade com relação à Alemanha e criticar a política de empréstimo aos países aliados. Denunciou publicamente os “britânicos, os judeus e o governo Roosevelt” como instigadores da participação dos EUA na Segunda Guerra Mundial.
Antes da entrada dos EUA no conflito, Charles Lindbergh chegou a ser cogitado para presidente pelo Partido Republicano, contra o próprio Roosevelt em 1940. Mas, em 1941, o presidente (já reeleito) denunciou-o publicamente, obrigando Lindbergh a demitir-se da reserva da Força Aérea. Engajado, o aviador tornou-se líder de um movimento nacionalista de tendência nazista e anti-semita que não escondia sua simpatia por Hitler e pela Alemanha.
Somente no fim da guerra, Lindbergh contribuiu com os esforços bélicos, realizando cerca de 50 missões de combate sobre o Oceano Pacífico, promovido pelo presidente Eisenhower, em 1954, a general-brigadeiro da reserva.
Reprodução/ U.S. National Archives
Aviador norte-americano se tornou líder de um movimento nacionalista de tendência nazista
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.