O governo da Bolívia convidou nesta terça-feira (29/10) o opositor Carlos Mesa, do partido de centro-direita Comunidade Cidadã, a participar da auditoria da apuração das eleições presidenciais de 20 de outubro, que será feita pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Mesa, que ficou em segundo lugar no pleito e perdeu para o atual presidente Evo Morales, reeleito com 47% dos votos, tem questionado a integridade das eleições e feito diversas acusações de fraude. O opositor não apresentou provas.
O convite a Mesa foi feito pelo vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, afirmando que a melhor maneira de esclarecer as dúvidas da oposição é realizar a checagem dos votos. Linera ainda disse que o governo espera uma responta rápida e positiva do opositor.
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“Para dar corpo a essa auditoria internacional, queremos pedir ao senhor Carlos Mesa, o candidato perdedor, que se some à auditoria que levará adiante a Organização dos Estados Americanos [OEA] acompanhada por México, Paraguai, Peru e outras nações irmãs”, disse o vice-mandatário.
ABI
Convite a Mesa foi feito pelo vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera
Nesta terça-feira, ao menos seis capitais no país amanheceram com bloqueios. A movimentação foi realizada por grupos que não aceitam o resultado das eleições e questionam o processo eleitoral. Nas cidades de Cochabamba e Santa Cruz também há bloqueios. Apoiadores do presidente Evo Morales também se manifestam na capital.
Eleições e oposição
O Tribunal Supremo da Bolívia confirmou oficialmente na última sexta-feira (25/10) a vitória do presidente Evo Morales no primeiro turno das eleições presidenciais do país, realizadas no último dia 20.
Com 100% das urnas apuradas, o presidente obteve 47,08% dos votos, contra 36,51% do candidato de oposição, Carlos Mesa. Em terceiro lugar, ficou Chi Hyun Chung, de extrema-direita, com 8,78% dos votos, seguido por Óscar Ortiz, com 4,24%. O restante dos candidatos somou menos de 4%.
Na Bolívia, não é necessário obter 50% + 1 dos votos para se vencer no primeiro turno. Se o líder obtiver mais de 40% e tiver uma diferença de ao menos dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado, a eleição termina. A diferença entre Morales e Mesa terminou em 10,57 p.p. – 648.439 votos.
Os candidatos derrotados por Morales afirmaram que não iriam reconhecer o resultado, a não ser que fosse realizado um segundo turno. O grupo, que se intitula “Coordenadoria de Defesa da Democracia”, diz “exigir a convocação imediata do segundo turno eleitoral, administrado de maneira idônea, independente e imparcial”.
O movimento dos oposicionistas vai ao encontro do que pediu a OEA (Organização dos Estados Americanos), que, mesmo sob críticas até do México, sugeriu que fosse realizado um segundo turno mesmo que não se precisasse. União Europeia e países como Argentina, Brasil, Colômbia e Estados Unidos também pressionam para a realização de um segundo turno.
Apuração
Na Bolívia, existem dois caminhos para divulgação dos votos. Além do TREP (sistema de apuração rápida), baseado nas informações que vêm dos colégios eleitorais, existe a recontagem manual dos votos de cada região. Este segundo caminho, que leva ao resultado oficial, costuma ser mais preciso e mais lento – e é o que confirma, agora, a vitória de Morales.
A divulgação do TREP foi suspensa no domingo (20/10) à noite, mesmo da dia da eleição, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral, para evitar confusão entre as duas apurações paralelas. “Queríamos evitar confusão. Um mesmo órgão não pode divulgar dois resultados diferentes”, disse, então, a presidente do TSE, María Eugenia Choque.
Quando houve a interrupção da divulgação do TREP, ainda se apontava a realização de um segundo turno entre Morales e Mesa. Até então, haviam sido apuradas de maneira rápida 83,7% das urnas, e a diferença entre os dois candidatos era de 7,12 pontos percentuais. Faltavam, então, muitos votos das regiões rurais – onde o presidente tem boa parte de sua força eleitoral.
Na segunda (21/10) à noite, os números voltaram a ser divulgados, mas já com 95,23% apurados. Nesta altura, Morales já havia obtido mais de 10 pontos percentuais de diferença em relação a Mesa – 46,86% contra 36,72% – e garantia uma vitória no primeiro turno.