As eleições para representantes do Congresso dos Estados Unidos promete ser acirrada. Nesta terça-feira (02/11), os norte-americanos escolherão os próximos ocupantes das 435 cadeiras da Câmara e de 37 das 100 cadeiras do Senado, além dos governadores de 37 Estados. Em jogo também está a força do presidente norte-americano, Barack Obama, que nessas eleições pode perder poder para os republicanos.
Efe
Michelle Obama discursa em favor do democrata Harry Reid, candidato ao Senado por Nevada
De acordo com pesquisas do Instituto Gallup, cerca de 52% dos eleitores inscritos votarão em candidatos do Partido Republicano, enquanto 43% disseram que votarão no Partido Democrata. Outras pesquisas, como a do jornal Washington Post, mostram uma diferença menor entre os dois partidos, porém apontam grandes chances de os republicanos retomarem o controle da Câmara dos Representantes. O Senado tende a manter a maioria democrata, porém, perdendo espaço para os republicanos.
Atualmente os democratas ocupam quase dois terços da Câmara, com 255 representantes, enquanto os republicanos ocupam 178 vagas. No Senado, as 100 cadeiras estão divididas entre 59 democratas e 41 republicanos.
Uma vitória republicana nestas eleições representaria mais um obstáculo no caminho do governo, que já enfrenta o descontentamento da população diante da alta taxa de desemprego e do desaquecimento econômico no país. “A impressão que dá é que ninguém em Washington está nos ouvindo”, afirmou ao Opera Mundi Bill Kocis, ator e agente imobiliário em Nova York. “A prioridade agora é cortar gastos e levantar a economia desse país”.
A crítica de Kocis é comum entre os eleitores. O desemprego nos Estados Unidos chegou a 9,8% este ano, número recorde nos últimos 70 anos. A dívida externa norte-americana já iniciou a crise, em 2007, sendo a mais alta do mundo, representando quase 85% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. O problema é que, se a economia não cresce e o governo aumenta seus gastos, para salvar os bancos por exemplo, a dívida aumenta de valor e de importância comparada ao PIB do país. Este ano a dívida norte-americana atingiu 94% do PIB, e continua subindo. O problema vira um círculo vicioso: quanto maior a dívida, mais difícil criar crescimento econômico porque os gastos do governo aumentam com o pagamento de juros e a falta de investimento em infra-estrutura. Por outro lado, sem crescimento, a dívida aumenta.
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Sharyn O’Halloran, economista e professora de Ciências Políticas na universidade de Columbia explicou que nessas eleições “os eleitores não preferem os republicanos, mas querem punir o governo”. O’Halloran diz que Obama foi eleito com a clara missão de resolver o problema econômico, mas nos primeiros dois anos como presidente, escolheu lutar pelas reformas da saúde e da regulamentação do sistema financeiro. Em outras palavras, o presidente ajudou a estabilizar o mercado financeiro, mas não investiu em políticas diretas para gerar empregos. “Acontece que, sem empregos, qualquer outro problema é secundário para o povo. O presidente não viu isso e acabou ferindo sua credibilidade”.
A economia é o principal tema nessas eleições e até mesmo os democratas tem dificuldades em negar que o governo deveria ter trabalhado mais para diminuir o desemprego, investindo mais em infra-estrutura. A defesa mais usada por eles é dizer que em apenas dois anos é impossível salvar o país de uma profunda crise financeira, estabilizar os mercados e ainda por cima estimular o crescimento econômico. O próprio presidente decidiu dar uma entrevista ao humorista Jon Stewart para defender seus atos: “Eu prometi que mudaríamos o país. Mas eu não prometi que mudaríamos o país em dois anos”, disse.
Tea Party
O colunista do New York Times Thomas Friedman, defendeu os democratas, atacando a plataforma republicana: “É triste ver que alguns republicanos lideram as pesquisas eleitorais propondo exatamente as mesmas políticas que nos colocaram nessa bagunça”. Friedman se refere ao Tea Party, movimento ultraconservador que prega a diminuição de impostos para combater o desemprego, o corte radical de gastos públicos para diminuir a dívida norte-americana, um governo enxuto, menos regulamentação para estimular a inovação e a revisão, ou completa eliminação, da reforma da saúde pública, principal vitória do presidente Obama.
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De acordo com O’Halloran, as ideias propostas pelo Tea Party não são bem fundamentadas. Eles defendem os cortes de impostos, mas não explicam como poderão sustentá-los. Além disso, diminuir impostos, segundo a professora, não funciona automaticamente como propulsor econômico, pois o governo vai diminuir a receita e consequentemente investir menos em infra-estrutura e criação de empregos. “O país está desesperadamente precisando de infra-estrutura em energia, telefonia e transporte, por exemplo. Não é a hora de diminuir a receita”, explicou.
Por outro lado, O’Halloran também critica as reformas feitas pelos democratas. Dois terços dos empregos nos EUA estão baseados nas pequenas e médias empresas. Segundo ela, essas empresas deixaram de contratar depois das reformas da saúde e da regulamentação bancária. “Se você não sabe exatamente quais serão os seus custos no futuro, você não contrata. Quando existe incerteza, o mercado congela. E a economia também. Não se cria emprego e não se cria demanda”.
Cerca de quatro milhões de pessoas perderam o emprego durante o governo de George W. Bush, porém desde que Obama foi eleito dois anos atrás, em média 350 mil cidadãos ficaram desempregados a cada mês.
Nos EUA foram raros os momentos em que o presidente deteve a maioria da Câmara dos Representantes e do Senado ao mesmo tempo e é comum perder poder nas eleições legislativas, sempre dois anos depois da posse. O republicanos Ronald Reagan sofreu uma derrota nas eleições de 1982, mas foi reeleito dois anos mais tarde. Bill Clinton também foi reeleito em 1996, dois anos depois de ter perdido a maioria no Congresso. Mesmo assim, a mensagem que o povo pode enviar ao presidente nesta terça-feira coloca em risco a reeleição.
“Se o desemprego não cair e Obama não demonstrar mais atenção com os problemas urgentes do país, como infra-estrutura, 2012 poderá realmente ser o fim da sua carreira política”, analisou O’Halloran.
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