Caso as pesquisas de intenção de voto confirmem a passagem do controle da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos para o republicanos, o governo do presidente Barak Obama deve enfrentar mais dificuldades para seguir a agenda política, de acordo com analistas entrevistados pelo Opera Mundi. Para eles, não deve acontecer uma paralisação total das reformas empreendidas pelo presidente, mas as negociações serão fundamentais daqui em diante.
Richard Greene, estrategista político e colunista do blog The Huffington Post, afirmou que é sempre o partido líder que determina quais reformas devem ser feitas. “É o partido que manda no Congresso quem decide a direção que os EUA devem tomar”, disse.
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Sharyn O'Halloran, economista e professora de Ciências Políticas da Universidade de Columbia, concorda com Greene e acredita que Obama terá de demonstrar posições mais de centro. “Ele precisará dialogar com os republicanos para atingir qualquer objetivo nos próximos dois anos”, analisou.
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O problema, segundo ela, é que como o presidente foi eleito com uma plataforma que privilegia o social, Obama tende a perder os votos das classes mais baixas – boa parte do seu eleitorado – caso mude o tom dos discursos. “Bill Clinton não tinha problemas em negociar com os Republicanos porque ele foi eleito com posições mais centristas. A situação de Obama é mais delicada e pode comprometer a reeleição”, afirmou O'Halloran.
O cientista político John Pitney concorda que as mudanças legislativas no país ficarão mais lentas se a Câmara parar nas mãos dos republicanos. Mas afirma que as dificuldades crescerão não só para o presidente. “Mais poder dará aos republicanos mais visibilidade, chances de conflitos internos e responsabilidade. Fazer oposição sendo minoria no Congresso é fácil. Existe um objetivo comum e as fragmentações no partido desaparecem. Assim que o partido ganha poder, a figura muda.
O sucesso ou o fracasso das negociações com o presidente, também serão o sucesso e o fracasso dos republicanos”. Vencer essas eleições pode acabar comprometendo também os futuros candidatos republicanos, afirmou Pitney. “O poder também cria tentações. Não podemos esquecer que em 2006 os republicanos perderam o controle do Congresso em parte por causa dos vários escândalos do partido”, lembrou.
Temas sensíveis
Um claro exemplo de como as negociações entre democratas e republicanos podem atrasar a agenda de Obama é a reforma da saúde. O Partido Republicano deseja reabrir as discussões e, se possível, vetar a lei que garante assistência médica gratuita aos norte-americanos. Dificilmente a oposição terá maioria suficiente no Congresso para cancelar a lei, mas com mais cadeiras, pode pressionar para a mudança do texto ou a retirada de certos artigos.
Outro tema polêmico é o futuro dos cortes de impostos realizados durante o governo de George W. Bush, que expiram em dezembro deste ano. Os republicanos querem manter todos os cortes, mesmo para quem recebe mais de um milhão de dólares por ano. Os democratas aceitam manter os cortes para os salários mais baixos, porém querem aumentar a arrecadação de quem recebe mais de 250 mil dólares ao ano. Se não houver um acordo, os impostos vão simplesmente aumentar de um dia para o outro no final deste ano, quando expira a medida do ex-presidente.
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Muitas reformas constam na agenda dos democratas, mas não na dos republicanos e vice-versa. Essa diferença, evidente nos manifestos de cada partido, democrata e republicano, poderão atrasar a tomada de decisões no país, que se arrasta para sair da recessão.
De acordo com Richard Greene, o presidente quer criar um orçamento específico para lutar contra o aquecimento global, porém, a oposição defende que este não é um tema a ser tratado pelo governo, e sim pela indústria, de forma independente. Em termos de reforma energética, os democratas defendem a diminuição dos subsídios às empresas produtoras de petróleo e o aumento dos investimentos para desenvolver energia sustentável. Os republicanos não concordam com esses cortes.
Caso não aconteça, a reforma da imigração, uma das principais promessas de Obama para reunir os votos dos latinos, pode determinar outra perda para o presidente. Os políticos do movimento ultraconservador Tea Party são críticos à reforma e pedem mais leis contra imigrantes ilegais. “Essa discussão seria polêmica de qualquer forma, mas sem a maioria no Congresso, vai ser impossível para Obama forçar a reforma”, disse O'Halloran.
Um efeito indireto para os países em desenvolvimento será sentido nas negociações comerciais. “O governo Obama não está lidando com o tema do comércio e não me parece que poderá iniciar agora, com divisões no Congresso”, afirmou O'Halloran. Como lembra a economista, a Rodada de Doha, que visa diminuir barreiras comerciais, está empacada há anos. Por enquanto, porém, o que se viu foi o movimento contrário. Os democratas criaram o programa Buy America, para estimular a compra de produtos dos Estados Unidos pelos próprios norte-americanos, medida vista por alguns países como protecionismo.
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