A América Latina será o centro da política externa do governo nos próximos quatro anos para transformar a região em “componente essencial do mundo multipolar que se anuncia”, disse a nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, em seu discurso de posse no Congresso Nacional neste sábado (1º/1) em Brasília.
“Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira: a promoção da paz, o respeito ao princípio da não-intervenção, a defesa dos direitos humanos e o fortalecimento do multilateralismo”, discursou a presidente recém-empossada.
Em termos mais específicos, Dilma se comprometeu a dar “grande atenção aos países emergentes”, aprofundar as relações com os vizinhos do Brasil na América do Sul, “com nossos irmãos africanos e os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos, além de aprofundar o relacionamento com os Estados Unidos e a União Europeia”.
“O país condiciona seu desenvolvimento social e político ao nosso continente, para transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia”, disse ela.
Sustentabilidade
Dilma Rousseff também enfatizou a inserção do Brasil na economia internacional com dois aspectos centrais: o combate à miséria e o modelo de sustentabilidade ambiental. Ela ressaltou que a matriz energética brasileira é “a mais limpa do mundo”, expressou convicção de que é possível conduzir um “crescimento saudável, sem destruir o meio ambiente” e de que o país tem condição de se apresentar como “um projeto inédito de nação desenvolvida com forte componente ambiental”.
Sinalizando que deve manter a posição brasileira na rodada de Doha, sobre a liberalização do comércio mundial, Dilma prometeu “toda a nossa atenção” para incentivos às exportações, especialmente da agricultura e da pecuária, mas ponderou que “o apoio a grandes exportadores não é incompatível com o apoio à agricultura familiar”.
“Pela primeira vez, o Brasil vê diante de si a possibilidade real de se tornar uma nação desenvolvida. Encerramos um longo período de dependência do Fundo Monetário Internacional ao mesmo tempo em que superamos nossa dívida externa”, lembrou, em referência ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Podemos ser, de fato, uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo, um país de classe média sólida e inovadora, uma democracia exemplar”.
Independência
Sobre as negociações em órgãos multilaterais, indicou que o Brasil deve manter independência e a liderança na defesa dos interesses de países em desenvolvimento.
“Não faremos nenhuma concessão à pressão por parte de países ricos, que sufoca qualquer possibilidade de eliminação das pobrezas. Respeitaremos nossa ação nos fóruns multilaterais, mas não condicionaremos essa ação ao cumprimento por terceiros dos acordos internacionais”, discursou Dilma.
Em relação às áreas de defesa e segurança, Dilma declarou também que a diplomacia brasileira investirá no fortalecimento das “instituições de governança mundial, em especial as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança” – uma referência à campanha brasileira por um assento permanente nesse órgão da ONU.
“Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença em relação aos enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear e ao terrorismo”, declarou.
União nacional
Em cerca de 40 minutos de discurso no plenário do congresso, Dilma Rousseff tratou, além de política externa e de economia internacional, de temas como o destino dos recursos da exploração do pré-sal, as reformas na educação e na saúde, confirmação da garantia das liberdades individuais e de imprensa, e se emocionou ao pedir união nacional, inclusive com a oposição.
“A partir deste momento, sou a presidenta de todos os brasileiros”, disse Dilma, contendo lágrimas.
Entre os primeiros convidados estrangeiros que Dilma cumprimentou ao chegar ao plenário, estavam o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e o presidente do Uruguai, Pepe Mujica. Depois de citar versos do escritor mineiro Guimarães Rosa, seu conterrâneo, por duas vezes, Dilma encerrou o discurso com explícita referência religiosa.
“Que Deus abençoe o Brasil, que Deus abençoe a todos nós e que tenhamos paz no mundo”, concluiu a presidente.
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