Um grupo de mais de 140 especialistas em América Latina que vivem nos Estados Unidos cobrou da secretária de Estado Hillary Clinton um posicionamento sobre as eleições presidenciais em El Salvador, no próximo domingo (15). Em carta aberta, eles pediram que a Casa Branca se declare pronta para trabalhar com qualquer candidato eleito e repudie publicamente a campanha de medo do partido governista, que usou a imagem do presidente Barack Obama para influenciar os eleitores.
Cerca de 4,2 milhões de salvadorenhos irão às urnas. Os dois principais candidatos são Rodrigo Ávila, da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), no poder há 20 anos, e Mauricio Funes, da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), principal força de oposição. A FMLN tem origem num grupo guerrilheiro de esquerda que atuou durante a guerra civil, entre 1980 e 1992. Seu candidato é apontado pelas pesquisas como favorito.
“A carta é o resultado de duas viagens que fizemos a El Salvador, onde entrevistamos acadêmicos, movimentos sociais, os dois principais partidos políticos e a embaixada dos EUA. Pudemos testemunhar pessoalmente a campanha de medo organizada contra o candidato da oposição”, explica a Opera Mundi o historiador venezuelano Miguel Tinker Salas, do Pomona College, na Califórnia, um dos signatários da carta – o grupo é formado por analistas das principais universidades públicas e privadas dos Estados Unidos. Paralelamente, 31 congressistas enviaram uma carta de conteúdo similar a Barack Obama.
Durante a campanha, a Arena vinculou constantemente a imagem do presidente venezuelano Hugo Chávez à de Mauricio Funes. O objetivo é disseminar a idéia de que, com uma vitória da FMLN, o país se associaria ao projeto bolivariano de Chávez. Estratégias parecidas já foram usadas na Bolívia (contra o então candidato Evo Morales), no Peru (contra Ollanta Humala), no México (contra Andrés Manuel Lopez Obrador) e no Equador (contra Rafael Correa). Evo e Correa ganharam, Humala e Obrador perderam, respectivamente, para os atuais presidentes Alan Garcia e Felipe Calderón.
“Satélite” de Chávez
“Chávez e a FMLN são inimigos dos Estados Unidos. Um voto para a FMLN é um voto para Chávez. Não sejamos um satélite a mais de Chávez”, diz um dos anúncios da Arena veiculado em emissoras de rádio e canais de televisão.
“Não queremos que El Salvador seja mais um peão do delírio de Hugo Chávez. No próximo dia 15 de março, devemos defender nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade”, declarou o candidato governista Rodrigo Ávila, no ato de encerramento da campanha da Arena, no domingo passado.
Paralelamente, o partido busca convencer os eleitores de que o novo presidente dos Estados Unidos, muito popular em El Salvador, seria contra a eleição de Funes. A Arena difundiu um anúncio com entrevistas dadas por Dan Restrepo, assessor de Obama, criticando a política de Hugo Chávez. Assista:
“Apesar de nossos pedidos, a embaixada dos EUA recusou-se a publicar um texto para repudiar o uso de assessores do presidente e lembrar que as declarações não representam a opinião do governo americano”, lamenta Salas. O historiador acrescenta que, dado o fato que a eleição em El Salvador é a primeira na América Latina depois da posse de Obama, “é muito importante que ele recuse a política do medo para se diferenciar de George Bush e mostrar que quer realmente uma nova relação com a América Latina, como prometeu”.
Balança do poder
Em janeiro, a FMLN conquistou o maior número de cadeiras na Assembléia Legislativa: 35, de um total de 84. Apesar disso, a direita continua com maioria no Congresso, já que a Arena elegeu 32 deputados e dois outros partidos com os quais governou em legislaturas anteriores, o Partido de Conciliação Nacional (PCN) e o Partido Democrata Cristão (PDC), levaram respectivamente 11 e 5 cadeiras. Além disso, a FMLN conquistou 95 prefeituras, contra 120 da Arena, incluindo a da capital San Salvador.
Leia as cartas enviadas para Obama e Hillary. Assista a outros vídeos da campanha da oposição:
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