Quatro homens presos na última sexta-feira (01/02) na cidade de Velvento, norte da Grécia, suspeitos de participar em um assalto a banco e acusados de serem membros do grupo “terrorista” Conspiração das Células de Fogo, tiveram suas fotos manipuladas pela polícia antes de serem divulgadas à imprensa. O objetivo, admitido pelo ministro da Ordem Pública grego Nikos Dendias, era o de minimizar os ferimentos para “facilitar a identificação”.
Segundo a polícia local, os presos foram agredidos porque resistiram à prisão, mas familiares e advogados de dois dos suspeitos denunciaram tortura. “Não houve luta, o que a polícia diz é mentira. Eles trancaram-no em uma sala, algemado com os braços para trás, puseram-no de joelhos, colocaram um capuz nele e deram uma surra por horas. Não foi por um interrogatório, foi tortura, disse o pai de Dimitris Bouroukos ao portal grego zougla.gr.
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Pressionado, o ministro grego afirmou que, se houve abuso, os responsáveis serão “severamente punidos” e que a Grécia é “um país de leis”. A procuradoria grega pediu investigação, levantando suspeitas sobre o crescimento do abuso policial no país no período de crise. Nas fotos, acima, é visível o uso do computador para retirar a mão de um policial do pescoço de um dos suspeitos. Olhos roxos e ferimentos também foram apagados grosseiramente.
A Anistia Internacional emitiu um comunicado nesta segunda-feira (04/02) criticando a ação policial na Grécia e pedindo firmeza nas investigações. “As autoridades gregas não podem simplesmente passar um Photoshop em seus problemas. Essa cultura da impunidade precisa ter um fim”, disse Marek Marczynski, vice-diretor para a Europa e Ásia central da entidade.
“É preciso haver uma investigação efetiva, completa e imparcial das alegações de tortura policial. A investigação precisa identificar os culpados e levá-los à Justiça”, afirmou Marczynski.
Os suspeitos, entre 20 e 25 anos, são acusados de roubar dois bancos em Velvento, uma vila com população de 3.700 pessoas. De acordo com a polícia, eles usaram metralhadoras Kalashnikov e levaram cerca de 200 mil euros. A polícia investiga se há relação entre o grupo e o recente atentado com bomba em um shopping de Atenas e os disparos contra a sede do partido Nova Democracia, do atual premiê Antonis Samaras.
De acordo com o blog independente Keep Talking Greece, um dos presos era amigo de Alexis Grigoropoulos, adolescente morto pela polícia em 2008 em Exarhia, bairro de estudantes e área de concentração de grupos anarquistas. Grigoropoulos se tornou um símbolo da resistência antifascista em Atenas.
A Grécia passa por sua pior crise econômica da história recente. O país adotou a cartilha da Troika (grupo formadao por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), que propõe cortes em serviços públicos, privatizações e redução drástica nos gastos do governo. O índice de desemprego atingiu mais de 25%, mesmo nível da Alemanha de 1933, ano da ascensão nazista.
Mais abusos
Essa não é a primeira acusação de tortura contra a polícia grega desde o início da crise econômica, em 2008. A corporação, com fortes laços com o partido neonazista Aurora Dourada, foi denunciada por sujeitar 15 manifestantes antifascistas a humilhações ao estilo Abu Ghraib – referência às torturas na prisão norte-americana durante a guerra do Iraque. O caso ocorreu em outubro do ano passado.
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Em reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian, manifestantes disseram ter sido usados como cinzeiro, surrados, cuspidos e mantidos acordados com lasers apontados para seus olhos. Segundo eles, policiais gravaram vídeos e ameaçaram mandar seus nomes e endereços para membros do partido neonazista.
O caso chamou a atenção da ONG Human Rights Watch, que pediu investigação imediata. “As cenas descritas pelas vítimas aos repórteres são profundamente chocantes. Ninguém deveria ser tratado assim pela polícia. A Grécia precisa conduzir uma investigação completa e imparcial sobre o caso”, afirmou a entidade, em nota.
Em investida recente, a polícia grega fechou ocupações anarquistas em Atenas e em cidades do interior do país. Mais de 100 membros de grupos antifascistas foram presos acusados de resistir à prisão cobrindo o rosto – o uso de máscaras ou capacetes é considerado um agravante na Grécia. O ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, apoiou a ação.
Carta com bala
Também nesta segunda-feira, o ministro das Finanças grego, Yannis Stournaras, recebeu uma carta assinada por um grupo desconhecido chamado Revolução Cretense. Dentro havia uma bala calibre nove milímetros e uma mensagem: “Se você vender as propriedades de gregos ou cretenses, você terá um problema sério.” A polícia investiga a origem do envelope.