Agência Efe
As esposas e mães dos mineiros mortos ou desaparecidos protestam no local em que a greve foi reprimida pela polícia sul-africana
A severa repressão policial contra uma greve de mineiros na África do Sul reavivou sentimentos de indignação e revolta da era do apartheid. Cerca de 100 mulheres, mães e esposas dos manifestantes mortos ou desaparecidos, se reuniram para protestar contra a ação do governo nesta sexta-feira (18/08) e evocaram a memória dos heróis da luta contra a segregação racial no país.
Agitando paus, assobiando e cantando, elas dançaram o toyi-toyi, performance típica das manifestações contra as autoridades sul-africanas na época do apartheid, em um grande círculo no local do massacre de quinta-feira (17/08). “Quando você golpeia uma mulher, você golpeia uma rocha”, alertaram as manifestantes que cantaram o hino de libertação africano “Deus Abençoe a África” na língua local Xhosa.
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Muitas das mulheres que participaram do protesto não sabem o paradeiro de seus maridos e filhos depois da greve e temem que estejam entre os 34 mortos pela polícia. “Meu marido saiu de casa ontem às 7 horas da manhã para vir ao protesto e nunca mais voltou”, contou Nobantu Mkhuse à agência internacional AFP.
Segundo o jornal britânico The Guardian, as protestantes reclamaram que os hospitais e autoridades da região se recusam a dar mais informações. “Eu não sei onde ele está”, disse Nosisieko Jali sobre seu marido, “O hospital não me deixou entrar. Eu estou sofrendo”.
O protesto, segundo jornais internacionais, foi carregado de muita emoção com as mulheres exigindo justiça e explicações das autoridades sul-africanas. Em seus cartazes, lia-se “Polícia, pare de matar nossos maridos e filhos” e “Piega (chefe da polícia nacional), você está celebrando sua posição em cima do sangue das nossas famílias”. As mulheres questionam por que as forças policiais atiraram nos grevistas, munidos com paus, com fuzis automáticos, pistolas e espingardas. Partidos políticos e associações civis, que criticaram a ação da polícia, pedem uma investigação sobre o caso.
Agência Efe
O protesto contra a repressão policial da greve dos mineiros reuniu cerca de 100 mulheres que realizaram dança típica da luta anti-apartheid
Entre as protestantes, surgiram rumores de que muitos dos mineiros grevistas estavam presos desde a greve de quinta-feira. “Como podemos saber se as pessoas estão mortas ou desaparecidas”, questionou Nowelcime Bosanathi ao repórter do The Guardian. “Meu marido foi ao protesto com um pau. Eu estava preocupada que ele estivesse morto. Mas, ele me ligou ontem à noite para dizer que estava em um camburão policial e que não sabia para onde estava indo”, acrescentou.
Enquanto as denúncias aumentam, as autoridades do país defenderam as ações dos policiais, que mataram a tiros pelo menos 34 mineiros e feriram outros 78 grevistas. No mesmo dia do protesto, a comissária nacional da Polícia da África do Sul, Riah Phiyega, alegou que os oficiais agiram em legítima defesa e que foram detidos 279 mineiros, antes e depois do tiroteio, por suspeitas de furto, agressão e até homicídio.
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, orientou as autoridades da região de Marikana, onde ocorreu a tragédia, a tomar medidas drásticas para pôr fim à violência, segundo informações não confirmadas. Em comunicado oficial, no entanto, o presidente disse estar “comovido e consternado por esta violência sem sentido”.
Os trabalhadores da Mina de Lonim, no Noroeste da África do Sul, reivindicavam um aumento de 12% dos salários e melhoria nas condições de trabalho quando foram atingidos por tiros de um batalhão de policiais na quinta-feira (16/08). Policiais alegam que os trabalhadores carregavam machetes, o que os obrigou a agir em defesa própria. Momentos antes eles exigiam que a multidão se dispersasse. A tensão na região teve início com a morte de dez trabalhadores no final da semana passada após confrontos entre sindicatos rivais.
“Hoje é infelizmente o dia D”, declarou o porta-voz da polícia sul-africana Dennis Adriao. O governo considera as manifestações como uma “concentração ilegal” e se diz pronto para agir de forma “tática” caso negociações falhem.
O ataque foi o episódio mais violento no país desde o fim do regime de segregação racial, extinto em 1994, e pode ter reaberto feridas desta época.