A história do México como nação começou a ser escrita em 16 de setembro de 1810, quando o padre criolo Miguel Hidalgo y Costilla convocou a cidade de Dolores, estado central de Guanajuato, para se rebelar contra a autoridade real da Nova Espanha. Desde então, se passaram dois séculos e Espanha e México se encararam como nações independentes, porém, encontraram o caminho para construir uma relação sólida.
“As relações entre México e Espanha foram próximas e marcadas por muitas questões históricas. Os mexicanos são praticamente herdeiros da cultura espanhola e os espanhóis foram beneficiados por uma série de produtos e influências mexicanas, até o século XIX”, explicou ao Opera Mundi Manuel Ramos, diretor do CARSO (Centro de Estudos de História do México).
Efe
Soldados espanhóis participam de desfile militar em comemoração ao Bicentenário mexicano, na Cidade do México
O panorama nem sempre foi assim. As relações entre os dois países se revelaram uma grande história de amor e ódio nos 300 anos de dominação espanhola. A consumação da independência mexicana aconteceu em 27 de setembro de 1821, mas somente em 1836 a Espanha reconheceu o México como um país independente. “Para os espanhóis não foi fácil reconhecer a independência da maior colônia da América. Por outro lado, no México houve uma recusa clara de tudo que era espanhol, pela péssima relação depois da independência”, analisou o historiador e escritor mexicano Alejandro Rosas.
Após a instauração de um regime republicano e a aprovação da Constituição Federal dos Estados Unidos Mexicanos em 1824, o México avançou para uma nova ordem sócio-econômica e política, enquanto as relações com a Espanha continuavam a se deteriorar. Apenas no final do século XIX este panorama bilateral melhorou. “A partir deste momento, as relações começam a melhorar e inicia-se um grande desenvolvimento da comunidade espanhola no México” afirmou Rosas.
Heranças
No entanto, mesmo com o rompimento das relações bilaterais com a promulgação da independência mexicana, a influência espanhola na nação que mais tarde formaria um dos maiores países da América Latina não se rompeu. “Um edital para a expulsão dos espanhóis chegou a ser feito, mas eles continuaram viajando para o México até os anos 20 do século XIX. Além disso, a maioria permaneceu no México independente” disse Ramos.
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Bem da verdade, grande parte dos espanhóis que permaneceram no México trocou de nacionalidade para conservar as propriedades adquiridas durante o período colonial, como fazendas, imóveis, ranchos e terrenos. Pouco a pouco as populações indígena e espanhola seguiram para a formação de uma nova mestiçagem étnica de um México florescente, conforme explicou Ramos. “Somos o resultado desta mestiçagem. Neste momento, elementos de pureza espanhola ou indígena são muito raros ou quase não existem.”
O novo país herdou o idioma espanhol, que hoje convive com numerosas línguas indígenas do México pré-hispânico, e a religião católica, imposta pela opressão sobre os cultos politeístas que existiam entre as civilizações mesoamericanas.
A herança das culturas pré-hispânicas, o desbravamento do território mexicano e os usos e costumes dos dois mundos tão diferentes constituíram a nação mexicana. Mais tarde, o México continuaria a receber uma marcante influência espanhola, de acordo com o diretor do CARSO. “Sobretudo no século XX, quando ocorreu outra grande corrente de espanhóis em direção ao México, que resultou em uma influência bastante positiva em diversos cantos do país, particularmente no espaço da cultura, impulsionador de grande professores, pesquisadores etc.”
Guerra civil espanhola
O governo do ex-presidente Lázaro Cárdenas del Rio (1934-1940) acolheu sem ressalvas os exilados republicanos espanhóis, por causa da Guerra Civil Espanhola (1937-1942). Calcula-se que o México recebeu mais de 25 mil refugiados espanhóis entre 1939 a 1942, grande parte durante a administração de Cárdenas. Do total de espanhóis exilados, se estima que 25% pertencia a uma elite intelectual, que influenciou a vida cultural mexicana. O governo mexicano fundou a Casa de Espanha no México para que os intelectuais exilados pudessem realizar pesquisas.
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A partir deste momento, as relações bilaterais melhoraram e durante o século XXI continuam a se consolidar. A Espanha se colocou como a primeira investidora internacional no México, depois dos Estados Unidos, e os laços culturais e diplomáticos se fortaleceram.
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